05 abril 2013

Escrita criativa: sete conselhos práticos

Fonte: site do roteirista JOÃO NUNES, escrito pelo próprio


"Todos os que tra­ba­lham com escrita cri­a­tiva — escri­to­res, argu­men­tis­tas, jor­na­lis­tas, blo­guei­ros, ensaís­tas, reda­to­res — estão sem­pre sequi­o­sos de con­se­lhos prá­ti­cos que pos­sam tor­nar um pouco mais fácil uma tarefa geral­mente penosa.
Ou que, pelo menos, lhe dêem uma boa des­culpa para adiar essa tarefa por mais cinco minutos.
Eu, que vivo essen­ci­al­mente da escrita cri­a­tiva, tam­bém não perco uma opor­tu­ni­dade de escre­ver um artigo sobre o tema. Pode con­fe­rir aqui alguns dos que já escrevi.
Um dos temas mais fas­ci­nan­tes deste género de lei­tu­ras são os hábi­tos dos escri­to­res, ou de quem se dedica à escrita cri­a­tiva. Por alguma razão um dos livros de roteiro mais bem suce­di­dos se chama Os 101 Hábi­tos dos Argu­men­tis­tas de Sucesso
Por isso não con­sigo resis­tir a nenhum artigo com o título Os sete hábi­tos dos escri­to­res a sério. E achei-​​o sufi­ci­en­te­mente inte­res­sante para deci­dir resu­mir aqui os sete hábi­tos de quem se dedica seri­a­mente à escrita criativa:


  1. Escre­ver — escri­to­res escre­vem. Sem­pre. Todos os dias. Com horá­rio mar­cado. Não basta pen­sar em escre­ver; não basta falar em escre­ver; não basta pla­ne­jar o que se vai escre­ver. É pre­ciso escrever.
  2. Focar — enquanto se escreve não se pode fazer mais nada. Não se pode veri­fi­car os emails, ir ao Face­book, fazer as pala­vras cru­za­das. Reserve um tempo para a escrita (nem que seja só meia hora) e nesse período não faça mais nada senão escrever.
  3. Ler — os escri­to­res lêem muito. Alguns vivem ape­nas para ler e escre­ver. Mesmo que não seja esse o caso, difi­cil­mente poderá pro­gre­dir na escrita se não ler bas­tante. E não deve ler só aquilo que escreve. Se é gui­o­nista, não leia só guiões. Agarre num livro que tenha reser­vado para mais tarde e comece a lê-​​lo ainda hoje.
  4. Apren­der — pode­mos apren­der muito só pela lei­tura de gran­des obras. Mas tam­bém é bom ler tam­bém sobre o ofí­cio da escrita e da cri­a­ti­vi­dade — memó­rias, auto­bi­o­gra­fias, ensaios, livros de téc­nica ou de ins­pi­ra­ção. Livros como The Cre­a­tive HabitOn Wri­ting, ou Adven­tu­res in the Screen Trade são jane­las aber­tas sobre os pro­ces­sos men­tais dos auto­res e criadores. Há tam­bém blo­gues, como este, e revis­tas que se dedi­cam ape­nas a esse tema. Leia-​​os com regu­la­ri­dade e vai segu­ra­mente melho­rar a sua escrita criativa.
  5. Re-​​escrever — como foi aqui citado recen­te­mente, Fran­cis Ford Copolla diz que “A re-​​escrita é o nome do meio da escrita”. Hemingway tam­bém dei­xou bem claro que “A pri­meira ver­são de qual­quer coisa é uma merda”. Se eles acham isso, como é que nós pode­mos pen­sar que as nos­sas pri­mei­ras ver­sões já são sufi­ci­en­te­mente boas?
  6. Ser pro­fis­si­o­nal — como Somer­set Maugham muito bem dizia “Eu escrevo só quando a ins­pi­ra­ção bate à porta. Feliz­mente, ela bate à porta todas as manhãs às nove em ponto.” Os ama­do­res debatem-​​se com as cri­ses e a falta de ins­pi­ra­ção; os pro­fis­si­nais sentam-​​se e escrevem.
  7. Refle­tir — quem leva a sério a escrita cri­a­tiva não se limita a escre­ver — reflete sobre o que escreve, a forma como escreve, as razões por­que escreve. Ana­lisa os seus pon­tos fra­cos e for­tes. Toma deci­sões cons­ci­en­tes sobre aonde quer levar a sua escrita, e de que for­mas o vai fazer.

Pode ler o artigo com­pleto aqui (em inglês). Quando ter­mi­nar pare ime­di­a­ta­mente de pro­cras­ti­nar e reco­mece o que estava a escrever".

28 março 2013

A literatura indígena, segundo Daniel Munduruku

"O brasileiro precisa conhecer de verdade que o que ensinam para ele – sobre nossos povos e outros temas – é mentira", afirma Daniel Munduruku em entrevista exclusiva ao Instituto Ecofuturo. Autor de mais de 40 livros e um dos mais respeitados autores indígenas do país, Munduruku fala da vitalidade dos saberes ancestrais e de como os brasileiros, que são também indígenas na sua essência, ignoram tradições fundadoras da nossa própria identidade. À frente do Instituto Uka – Casa dos Saberes Ancestrais, o escritor acredita na força da literatura como “grito consciente e consistente” de povos cujas vozes foram, durante séculos, silenciadas e luta para que se cumpra a lei 11.645/08, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira e História e Cultura Indígena nas escolas.





Como você descobriu a literatura, como leitor e escritor?
Nunca fui um exímio leitor. Descobri a leitura – e não a literatura – quando já era adolescente. Na escola religiosa em que eu estudava, tinha uma excelente biblioteca e isso me seduzia bastante. No entanto, os livros eram em sua maioria religiosos. Me peguei, assim, lendo biografias de santos; livros que tratavam de questões espirituais. Enfim, eram leituras que tinham a ver com minha formação dessa época de estudos. Um pouco depois passei a escrever alguns textos ligados à catequese e aos momentos de festejos religiosos. Lembro que o primeiro texto que escrevi e tive coragem de mostrar para meu professor de português foi sobre a páscoa. Ele achou tão bom que pediu que eu reproduzisse no mimeógrafo a tinta e distribuísse na paróquia no dia da páscoa. Para mim isso foi a glória. Eu tinha uns 16 anos. Depois disso, não lembro de nenhum outro texto que tenha escrito e se tornado público. Recordo-me, porém, que me tornei um leitor voraz de textos literários que me caíam nas mãos.
Como foi a sua experiência, ao se deparar com narrativas e representações tão diferentes das do imaginário indígena, que são aquelas veiculadas pelo cânone literário? Houve conflitos de alguma espécie?
Eu sempre fui muito curioso, desde criança. Nada me surpreendia no mundo imaginário de minha infância. Isso foi fundamental para que não tivesse problemas com as leituras posteriores. Eu entendia que a literatura era um devaneio de gente morta. Autor para mim era um ser distante, habitante de outro mundo. Algumas vezes achava que eles não eram humanos. O que me deixava furioso era como eles conseguiam “amarrar” tantos personagens numa história comovente e verdadeira. As histórias indígenas são muito bem elaboradas também, mas normalmente têm poucos personagens e não têm dramas tão elaborados. Lembro que chegava a perguntar para meus pais e avós sobre isso e eles diziam: “O homem branco não sabe ser simples”. Não entendia nada do que eles falavam naquela hora. Só entendi bem depois – o que me deixou bastante contente, pois era um pensamento muito coerente com a compreensão que tinham da vida.
A apropriação da escrita e da literatura, com todo o seu potencial transformador, pode aproximar diferentes etnias e funcionar como mediadora nos entrechoques de diferentes culturas? Como?
Tenho trabalho na perspectiva de que a literatura é um caminho de aproximação entre os diferentes povos indígenas. Mesmo sabendo que há uma grande diversidade de saberes e culturas, sinto que a literatura pode funcionar como elemento aglutinador, além de ser um instrumento para “soltar a voz” que tem ficado entalada na garganta de nossa gente ancestral. Nosso desafio é ajudar nossa gente a aprender a usar a escrita como porta-voz. Na medida em que isso for acontecendo, o que era apenas um murmúrio irá tornar-se um grito consciente e consistente.
De que forma os povos indígenas se apropriam da cultura escrita e como a utilizam em seu favor?
A escrita é uma técnica. A gente aprende a escrever. O que a gente tem é que fazer uma ligação entre o pensamento que domina a cultura e a escrita que congela este pensamento. Mas isso também é uma questão de tempo, de treino. Gosto de pensar que a gente indígena já tem a parte mais difícil introjetada no seu próprio ethos: o conteúdo a ser escrito. Temos trabalhado no sentido de ajudar nossos parentes indígenas a colocarem seus pensamentos no papel e dar a ele uma forma literária, acadêmica ou apenas como exercício de reflexão. Quando isso chega inteligível à sociedade brasileira, acreditamos que é nossa forma de contribuir para diminuir a exclusão social a que ainda estamos submetidos.
O que é literatura indígena e quais as abordagens narrativas que geralmente a caracterizam, se é que se trata disso?
Nós remamos contra a maré. Entendemos literatura indígena como o conjunto de manifestações culturais que são reproduzidas por nossa gente em seus rituais, desenhos, cantos, danças, rezas, etc. Fugimos um pouco da ideia de literatura como escrita. Queremos mostrar que este nosso jeito de comunicar é literário. Se pensarmos que no mundo literário é preciso que haja iniciados nele para compreendê-lo, podemos imaginar que nossa forma de fazer literatura é um código que a sociedade não indígena precisa aprender para poder nos compreender. Nosso esforço em compreender a sociedade brasileira passa pelo domínio das novas tecnologias (a escrita entre elas). É justo que a sociedade letrada pense no movimento de nossos corpos como literatura. Claro que estamos tentando aprender direito e adentrando no universo da literatura ocidental seguindo os cânones estilosos que nos propõem, mas queremos criar um jeito todo próprio de nos comunicar a partir desses instrumentos não indígenas.
Tributários que somos como brasileiros, de uma forte tradição indígena, que é parte constitutiva de nós mesmos, quais os estereótipos que ainda persistem na nossa “representação do índio” e como podemos superá-los, reconhecendo essa tradição como nossa ancestralidade?
A ancestralidade não é para ser pensada como algo atrasado e parado no tempo. Este é um dos estereótipos que estão presentes na mente brasileira. O mesmo se pode dizer da tradição. Este conceito está ligado a sociedades paradas no tempo. Não tem falácia mais imprópria. Isso tem que ser combatido com novos conceitos e vivências. É preciso que as pessoas entendam que não há nada de errado em respeitar o passado. O errado é negá-lo. Acontece que muita gente “olha para trás” para ver o passado. Os povos indígenas não fazem isso. O passado se une ao agora, ao presente. Não há nenhuma possibilidade de um indígena chorar o passado, pois ele sabe que este tempo é memorial. Ele não é real. Portanto, o brasileiro é um indígena essencialmente. O indígena é brasileiro apenas por acidente geopolítico. Por isso não entendo um país que não valoriza seus antepassados sem precisar chorar por eles, uma vez que eles estão no seu sangue. Por que isso acontece? Porque nunca ninguém disso isso ao brasileiro. A ele foi ensinado que índio é bicho, atrasado, incompetente no uso da terra, preguiçoso, desumano. Isso é ainda hoje ensinado – se não pelas escolas, em casa – ao inconsciente nacional. A mídia tem muita responsabilidade sobre isso, até mais que a escola. Aliás, a escola é sempre a última a receber notícias atualizadas sobre os povos indígenas; há muitas dezenas de anos que ensina a mesma coisa porque acredita que o que está estabelecido é a verdade absoluta. O brasileiro precisa conhecer de verdade que o que ensinam para ele – sobre nossos povos e outros temas – é mentira.
Em entrevista recente, você afirmou: “Um adulto, se quiser ler meus livros, terá que fazer um exercício para ouvir suas vozes ancestrais. Isso as crianças fazem sem esforço”. Por quê?
As crianças têm um canal aberto com sua ancestralidade. Elas são emotivas e conseguem chegar onde os adultos não chegam. Os adultos costumam ser bloqueados pelas vozes da escola, da economia ou da política. Isso os impede de “acordar” as memórias ancestrais que trazem em si. O adulto precisa se curvar a esta verdade, caso queira compreender a escrita indígena.
Se oferecermos, desde a primeira infância, a música dessa voz ancestral, teremos chance de formar adultos melhores, capazes de ouvir, respeitar e dialogar com essa voz?
Penso que crianças completas serão adultos completos. Ponto. Simples assim. A criança vem sem defeito de fábrica. Portanto, vem trazendo consigo todo o equipamento para viver bem. Acontece que ela cai num mundo que acha o contrário, pensa que ela vem sem nada e que precisa ser formada – colocada na forma – para ser “alguém” na vida. A solução do dilema é educar a criança para  ser criança e nada mais. Qualquer outra tentativa de fazê-la ser o que ela não pode ser vai transformá-la em adulto frustrado.
Uma das frentes trabalhadas pelo Instituto Uka – Casa dos Saberes Ancestrais é a Caravana Mekukradjá, que visa difundir a literatura indígena. Entre as atividades oferecidas, há cursos e palestras para professores sobre como trabalhar a questão indígena em sala de aula. Em linhas gerais, quais as orientações repassadas aos docentes?
Procuramos mostrar aos educadores exatamente o que dissemos atrás: tá tudo errado na compreensão de nossos povos indígenas. A gente tem que desconstruir o paradigma que eles trazem dentro de si, fruto da educação familiar e escolar. Fruto da universidade que não o ajudou a colocar algo novo em sua mente. Dizemos aos educadores que é preciso tratar a criança como criança e não como um investimento futuro. Dizemos que é preciso que o educador saiba que tipo de ser humano ele acredita estar formando. Aí questionamos as suas crenças, seus dogmas. Às vezes temos êxito, outras não. Isso faz parte do processo.
O Concurso FNLIJ Curumim chega este ano à sua 10ª edição. O que há para comemorar e quais os desafios ainda encontrados?
Comemoramos muitas conquistas. Uma delas é termos chegado à 10ª edição com muitos bons resultados. Este concurso, assim como outras iniciativas que mantemos, tem valorizado o professor que trabalha a temática indígena em sala de aula utilizando a literatura como instrumento. Faz com que o educador procure conhecer a produção literária dos indígenas brasileiros; ele influencia seus alunos; ajuda-nos a “corromper” a cabeça das crianças e jovens para aquilo que consideramos um ganho futuro: teremos adultos mais conscientes de seu papel numa sociedade multicultural como a nossa. Ainda assim, temos desafios. Temos que fazer as escolas e os educadores conhecerem a lei 11.645/08, que tornou obrigatório o ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira e História e Cultura Indígena nas escolas; temos que formar educadores para trabalharem a temática indígena de forma adequada; temos que organizar muitas caravanas para mostrar nossa produção literária. Daí a importância do Instituto Ecofuturo e do Instituto C&A, que são nossos parceiros nesta empreitada, porque, como nós, acreditam na possibilidade de formamos seres humanos mais compatíveis com a realidade multifacetada que hoje temos.
Além da literatura, quais outros instrumentos e expressões estéticas podem contribuir para a abordagem aprofundada da questão indígena?
Dizia mais acima que todas as manifestações da cultura indígena se prestam para a compreensão de nossa diversidade. Neste sentido é importante pensar estas manifestações como parte da cultura e não separada dela. A cultura é um conjunto. É bobagem tentar extrair dela elementos distintos. Uma cultura tem que ser compreendida em sua totalidade e não apenas através de suas manifestações. Quem faz isso é o ocidental, que aprende a dividir os conhecimentos em quadrados guardados a sete chaves. A nova escola tem que pensar no conjunto. O novo ser humano tem que ter isso claro. Caso contrário, ele não será novo.

23 março 2013

Aberto Edital para III Festival de Cinema


A partir do dia 25 de março os interessados em participar do III Anápolis Festival de Cinema já podem se inscrever. O evento acontece entre os dias 03 e 10 de maio e promete repetir o sucesso das edições anteriores, trazendo o melhor do cinema para Anápolis.
As inscrições para os curtas documentários do Centro-Oeste e de curtas-metragens anapolinos poderão ser feitas via internet, por meio da página oficial do evento. A ficha de inscrição ficará disponível até o dia 09 de abril no endereço eletrônico: www.anapolisfestivaldecinema.com.br e deve ser preenchida, impressa e enviada, juntamente com o material descrito para a coordenação geral do Festival, para a sede da Secretaria Municipal de Cultura, localizada na Praça Bom Jesus, nº 101, Centro.
Nesta edição da mostra competitiva “Adhemar Gonzaga” haverá de filmes de longa-metragem de ficção convidados, filmes de curta-metragem do Centro-Oeste de todos os gêneros e filmes de curta-metragem anapolinos de todos os gêneros. Ainda fazem parte da programação mostras paralelas, homenagens, lançamentos de livros, exposições, solenidades de abertura e de premiação.
O secretário municipal de Cultura, Augusto César de Almeida, destacou que dentro da programação ainda está previsto o Festivalzinho, que consiste na exibição de filmes para as crianças da rede municipal de ensino. Oficinas de roteiro, produção e direção também serão ministradas no decorrer do evento, além de debate com diretores, produtores e elenco dos filmes das mostras competitivas. Ainda, durante o Festival, serão exibidos filmes em vários setores da cidade. “Estamos não só fomentando a produção cinematográfica, mas atuando na formação de público para esse setor da cultura”, avaliou o secretário.
O III Anápolis Festival de Cinema é direcionado a profissionais que atuam na área cinematográfica, atores, diretores, cineastas, cineclubistas, estudantes de publicidade e propaganda, designer gráfico, jornalismo e toda comunidade apreciadora da arte do cinema.
Homenagem
A mostra dos Longa-Metragem de Ficção Brasileiro leva o nome de “Adhemar Gonzaga” como forma de homenagear, aquele é que considerado como uma das maiores personalidades da história do cinema brasileiro.
Jornalista, ator, roteirista, produtor e diretor cinematográfico Adhemar Gonzaga, tem como seu maior legado a Cinédia, com 82 anos de atividades ininterruptas, com perspectivas de expansão de seus serviços e instalações, continuação de seus projetos relativos à memória do Cinema Brasileiro e Produção de Filmes.
Os filmes selecionados para o III Anápolis Festival de Cinema concorrerão ao troféu “Beto Leão de Cinema”. O prêmio é uma homenagem in memoriam ao ex-crítico de cinema, pesquisador, roteirista, diretor, produtor e escritor goiano. Também serão conferidos o Troféu Anápolis (criação do artista plástico Napefi) aos vencedores e “Troféu Anápolis Homenagem” a nomes significativos do cinema brasileiro.
Premiação “Beto Leão de Cinema”:
Filme brasileiro de longa-metragem de ficção:
Melhor Filme de Ficção – R$ 26 mil, mais troféu
Melhor Direção – R$ 15 mil, mais troféu
Melhor Ator –R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Atriz – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Ator Coadjuvante – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Atriz Coadjuvante – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Roteiro – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Fotografia – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Direção de Arte- R$ 7,5, mais troféu
Melhor Montagem- R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Som- R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Trilha Sonora- R$ 7,5 mil, mais troféu
Filme de curta-metragem do Centro-Oeste de todos os gêneros:
Melhor curta-metragem do Centro-Oeste – R$ 7,5 mil, mais troféu
Filme de curta-metragem anapolinos de todos os gêneros:
Melhor curta-metragem anapolino – Prêmio Incentivar da Secretaria Municipal de Cultura que será destinado para a produção de um novo curta-metragem a ser produzido na região de Anápolis e exibido na abertura do 4º Anápolis Festival de Cinema – R$ 30 mil, mais troféu
Melhor Roteiro – R$ 7,5 mil, mais troféu
Melhor Direção – R$ 7,5 mil, mais troféu

19 março 2013

Entrevista concedida pelo dramaturgo e roteirista Tony Kushner, ao jornalista Jorge Pontual, para o programa Milênio, da Globo News. O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30.




Indicado a dois Oscar de “Melhor Roteiro Adaptado” — por Lincoln, em 2013, e Munique, em 2006 — Tony Kushner se tornou o melhor dramaturgo de sua geração nos Estados Unidos há 20 anos, com a peça Anjos da América. O filme Lincoln de Steven Spielberg concorre a doze oscars, entre eles, o de melhor roteiro adaptado para Tony Kushner. Kushner já havia sido indicado pelo roteiro de Munique, outro roteiro de Spielberg. O drama encenado em todo o mundo, inclusive no Brasil, tratava da epidemia de Aids, e virou filme dirigido por Mike Nichols. Mais recentemente, Meryl Streep interpretou o papel de “Mãe Coragem”, peça de Bertold Brecht traduzida por Kushner. Casado com o jornalista Mark Harris, Tony Kushner recebeu o Milênio em seu escritório em Nova York — decorado com anjos barrocos e entupido de livros sobre a vida de Abraham Lincoln — para falar da importância do filme, sobre o maior dos presidentes americanos e da influência de Brecht no teatro contemporâneo. 
Jorge Pontual — Vamos falar de Lincoln. Talvez você tenha conseguido mostrá-lo de uma maneira inesperada, porque não foi como o herói, o messias, um personagem unidimensional, mas como uma pessoa como qualquer outra. Quero dizer, ele é Lincoln, não é qualquer um. Nós nunca seríamos como ele. Mas me conte como você conseguiu torná-lo uma pessoa real.Tony Kushner — Bem, eu não acho que o tenha tornado uma pessoa real. Meu trabalho era achar uma maneira de dramatizar um momento do governo dele. Parte disso foi pesquisar e ser criativo para tentar adivinhar como ele deve ter sido quando estava vivo. Quando se escreve qualquer coisa em um formato dramático, você precisa ter personagens complicados e contraditórios. Então, escrever sobre um personagem unidimensional, com um só lado, seria muito esquisito. Mataria qualquer esperança de fazer algo interessante dramaticamente. E parte do trabalho era contar a verdade sobre ele, tentar entendê-lo tanto quanto é possível entender alguém com a considerável genialidade de Lincoln. É óbvio que sempre haverá facetas dele que serão um mistério, que irão fugir a uma compreensão total, mas essa é a genialidade dele, e o que o torna alguém tão extraordinário. Mas, para analisá-lo como teórico político, estrategista, analista governamental, escritor e homem de família, há bastante material nos registros históricos. E uma boa pesquisa pode proporcionar o que parece um retrato bem justo de como ele era.
Jorge Pontual — Mas o filme tem esse foco político. Fala de eleição, de política, do Congresso e de coisas que normalmente desanimam as pessoas. Eu não sei se aqui é assim, mas, no Brasil, somos muito céticos com relação à política. Não ligamos muito para os políticos e acho que aqui também é um pouco assim. Há histórias sobre a influência do dinheiro em Washington, o lobby e tudo o mais. Mas você mostrou que a verdadeira política pode mudar as coisas e atingir objetivos grandiosos, como a abolição da escravatura.Tony Kushner — Há certo grau de ceticismo natural à política, pois ela não é um processo simples, ela envolve negociações, que são, em grande parte, o tema do filme. Sem dúvida, nos EUA, no Brasil e no mundo todo, há algum ceticismo do povo com relação ao governo. Mas certo grau saudável de ceticismo deveria vir acompanhado da confiança de que o processo democrático é capaz de produzir progressos e, até mesmo, mudanças radicais revolucionárias. Como Karl Marx disse, quando Lincoln assinou a Proclamação de Emancipação, ele transformou a Guerra Civil em uma revolução. E seria perfeitamente plausível que a guerra terminasse com as características política, jurídica, ética humana dos Estados Unidos inalteradas, exceto pela morte de 750 mil pessoas. Lincoln garantiu, através de um processo democrático, que essas características mudassem profundamente como consequência da guerra. Eu nunca entendi por que as pessoas se desanimam com a política. Nada é mais interessante, mais rico, e mais repleto de drama e de todas as coisas que fazem o comportamento humano ser tão interessante. E todas as outras áreas do pensamento inquisitivo, Filosofia, Teologia, Economia e Psicologia, estão presentes na política. É uma amálgama. É a expressão do ser humano. Acho que foi Emerson que a define como “o movimento da alma humana ilustrada no poder”. É algo que sempre me fascinou. Escritores de teatro e cinema usam a política em suas peças e filmes porque ela tem um lado muito dramático. Ela reúne coisas contraditórias, que levam a batalhas em que uma derrota o outro ou um anula o outro, e algo novo surge no lugar. É algo muito empolgante. Por isso eu estava confiante de que poderíamos fazer um filme empolgante em torno dessa luta.
Jorge Pontual — Lincoln era republicano.Tony Kushner — Era.
Jorge Pontual — Mas, recentemente, o governador do estado onde você cresceu, a Louisiana, Bobby Jindal, disse: “Temos que parar de ser esse partido idiota.”Tony Kushner — Bobby Jindal pode começar sendo, ele mesmo, menos idiota. Ele é, simplesmente, horrível.
Jorge Pontual — Bem, Obama, venceu, consagrou os direitos dos homossexuais, que são parte dessa briga. Mas a briga continua e só um quinto dos estados permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo. As questões étnicas e os negros são parte dessa briga. A desigualdade existe.Tony Kushner — É.
Jorge Pontual — E a desigualdade de renda está crescendo, até mesmo no governo Obama. E os republicanos têm maioria no Congresso.Tony Kushner — No Congresso, sim.
Jorge Pontual — Eles podem vetar qualquer coisa. Como você vê essa briga política? Nós estamos vendo as mudanças, mas o que fazer quanto a isso?Tony Kushner — De um ponto de vista progressista, o que se deve fazer é o que temos feito nos últimos quatro anos. Acho essencial que, agora que Barack Obama foi reeleito, e a Casa Branca é dirigida por um democrata. A próxima eleição também é importante, e a seguinte também. Precisamos começar a reconstruir o momento que vivíamos nos anos 1960. Nós perdemos muito terreno, principalmente a partir de 1981 com a contrarrevolução de Reagan. E muito do que hoje parece apenas bom senso, há 20 anos, pareceria uma loucura da ala de direita. Como as ideias de que o egoísmo é uma virtude, de que tornar os ricos mais ricos ainda trará riqueza para toda a população, de que os impostos são ruins e de que o governo em si é ruim. Essas coisas há 20 ou 30 anos, seriam vistas como ideias extremamente absurdas, mas hoje se tornaram um pensamento convencional. E não só nos EUA. Isso saiu daqui e se espalhou principalmente na Europa. E a América Latina sofreu durante anos com a insistência dos bancos nesses programas de cortes e a mania do equilíbrio no orçamento. A construção de uma tomada de poder coerente por parte de pessoas progressistas é essencial. A esquerda política deve reinvestir na ideia da democracia eleitoral, e, até certo ponto, abandonar os sonhos e fantasias de uma revolução, que é a visão romântica da esquerda que tornou mais fácil viver nessa impotência por mais tempo do que qualquer um viveria confortavelmente. Estamos no caminho para criar um ambiente político novo neste país, mas não sei o que vai acontecer do outro lado. Nós precisamos ver se há pessoas conscientes tentando retomar o controle do partido, pois eu não sei.
Jorge Pontual — Eu estava vendo a entrevista que você deu a meu colega Edney Silvestre em 1997, que foi, principalmente, sobre Anjos na América. Você defendia o teatro apaixonadamente, em oposição ao cinema. Você dizia que o cinema não era tão bom, pois envolve muito dinheiro, não permite liberdade. Você mudou, não foi? Mudou seu ponto de vista?Tony Kushner — Eu espero não ter dito que o cinema era algo ruim, porque eu sempre gostei de ver filmes. Eu adoro cinema e adoro televisão. É uma mídia muito diferente. Como eu sempre disse, no teatro acontecem coisas que não acontecem no cinema. O cinema tem uma maior capacidade, que cresce cada vez mais, de criar uma ilusão perfeita. E o poder dessa ilusão é tal, que ele cria um laço enormemente forte entre o que está sendo visto e a pessoa que está vendo. De certo modo, ele deixa o público isolado do resto do mundo. Como o teatro é mais fraco em criar ilusões, não faz isso tão bem, e deixa mais espaço para o ceticismo e para uma visão dúbia. Em uma peça, você vê algo que é real, mas, ao mesmo tempo, não é. Você percebe muito mais a presença do público do qual você faz parte. Acidentes podem acontecer e o que você está vendo pode não ser o que foi visto na noite anterior. Eu adoro essas coisas no teatro e elas não acontecem no cinema. Em 1997, eu falava muito e, até hoje, eu só fiz dois filmes. Mas a maior parte das coisas que eu pensava sobre cinema estavam razoavelmente certas. É um formato muito diferente, tem mais a ver com a narrativa do que com dialética. O teatro é mais dialético. É um produto. Quando o DVD de Lincoln for lançado, você terá o filme em uma caixa. Você pode apertar um botão e baixá-lo em seu computador, mas o filme nunca irá mudar. As percepções podem mudar, mas o filme em si é algo fixo. O teatro é totalmente diferente disso. Ele cria uma ansiedade excitante. 
Jorge Pontual — Você quer voltar ao teatro? Fazer mais teatro?Tony Kushner — Quero. Sempre serei um dramaturgo mais do que tudo. É muito difícil viver como dramaturgo nos Estados Unidos de hoje. Como eu faço filmes, eu ganho mais, tenho plano de saúde. Eu gosto muito. Fazer cinema nunca foi uma experiência ruim. Quando eu fizer um roteiro de filme e alguém me tratar mal eu direi: “chega de cinema.” Mas eu fiz uma série de TV com Mike Nichols e dois filmes com Steven Spielberg e foram ótimas experiências. Os dois são artistas realmente brilhantes. Eu estou trabalhando em outro roteiro para Steven e adoramos trabalhar juntos. 
Jorge Pontual — Pode dizer o que vai ser?Tony Kushner — Não posso. Eu me comprometi a manter segredo absoluto sobre isso. Mas é um assunto interessante. E eu adoro trabalhar com ele. Artisticamente, é uma experiência muito recompensadora. Eu sinto que aprendo muito.
Jorge Pontual — Nesta entrevista, eu planejava falar apenas sobre Brecht. Porque eu cresci no Brasil, nos anos 1960 e 1970, e eram as melhores coisas que víamos no teatro. José Celso Martinez Correa e o irmão dele, Luís Antônio Martinez Corrêa, eram brechtianos, e nós adorávamos Brecht. E essa também é a sua escola, não é? A melhor peça que eu vi aqui, nos Estados Unidos, foi uma tradução sua de Mãe Coragem e Seus Filhos, com Meryl Streep e foi realmente incrível.Tony Kushner — Obrigado. Eu fico feliz.
Jorge Pontual — Foi muito boa mesma. Me fale um pouco sobre as técnicas que você aprendeu de Brecht, sobre a visão do teatro. Foi algo que você também usou em Lincoln, não? Porque, em vez de mostrar Lincoln fazendo o discurso de Gettysburg, você mostrou soldados negros o reproduzindo. Isso parece coisa de Brecht.Tony Kushner — Você tem razão. Eu nunca pensei nisso, mas é verdade. Há essa técnica da distância, de fazer algo familiar parecer estranho e novo por ser dito em um contexto diferente.
Jorge Pontual — É engraçado, porque eu perguntei a opinião de algumas pessoas, e elas disseram que ficou artificial. É claro. Porque quebra as expectativas, não é?Tony Kushner — E a questão da artificialidade é algo com que eu tenho lutado desde que comecei a trabalhar com cinema. Há uma expectativa de total naturalidade, que é estranha, considerando-se a artificialidade de cada quadro. Tudo é cuidadosamente planejado, as cores, depois tudo é levado ao laboratório e... Enfim, menos com Lincoln do que com os outros filmes atuais, que contam com muita manipulação de imagem por computador. Mas eles não fizeram nada, a iluminação era mesmo aquela.
Jorge Pontual — Não vai concorrer ao Oscar para efeitos especiais.Tony Kushner — Não, não é animação em computador. E eu adoro esse aspecto do filme, pois o faz parecer um tanto artesanal. Mas, infelizmente... É por isso que eu gosto do trabalho de cineastas como Lars von Trier, que é mais próximo do teatro e vai contra aquela sensação de naturalidade do público. Eu acho que essa obsessão com a naturalidade é algo problemático. A principal coisa que aprendi com Brecht foi – e eu já disse isso – a maneira como o teatro cria uma consciência crítica no público, obrigando-o a lutar com a aparência superficial das coisas e com o que está por trás dessa aparência. Para ter consciência do efeitos que foi criado, mas também das relações humanas que criaram esse efeito e do tipo de trabalho que está por trás da superfície aparente das coisas. Nisso, Brecht é um pouco como Shakespeare, que também se interessava muito por isso. Meus sentimentos sobre Brecht mudaram muito. Originalmente, eu achava que Mãe Coragem era uma peça com cenas que poderiam ter uma construção diferente, como ele disse. Mas, após traduzir a peça e trabalhar nela, com Meryl aqui, e com Fiona Shaw e Deborah Warner em Londres, eu sinto, com maior convicção do que nunca, que, de certo modo, Mãe Coragem e Seus Filhos tem uma construção maravilhosa de um arco psicológico coerente que caminha do início da peça até o final. E, na produção, Brecht prestou um desserviço com sua estranha crença de que a atuação não deveria partir de muita observação psicológica, pois isso não é verdade. As relações familiares em Mãe Coragem são a vida da peça, e cada personagem... Eles têm nomes como “o General”, “o Fazendeiro”, fazendo os atores se sentirem como desenhos animados. Mas, na verdade, cada personagem, e eles são muitos, é lindo e criado com muita especificidade. Ele sempre dá a todos os personagens um momento de comportamento surpreendente e incoerente que faz aquela pessoa ganhar vida. Os atores e diretores, quando fazem algo de Brecht, devem levar isso em conta. Ele realmente é um descendente direto de Goethe, Schiller e Von Kleist. Há, em Brecht, uma dramaturgia alemã que, às vezes, é ignorada. Não é propaganda, é mais. Quando fizemos Mãe Coragem e Seus Filhos, vários britânicos surgiram esbravejando de tudo sobre Brecht: “Ele era stalinista! Por que fazer uma peça dele? Ele está ultrapassado, ninguém acredita mais nele”. Um idiota de Londres escreveu um artigo enorme num jornal dizendo que é uma peça nojento, pois é pacifista, escrita no final dos anos 1930. Brecht fugiu de Hitler, mas o crítico dizia que Brecht apoiava o pacto de não-agressão de Hitler e Stalin. É claro que Mãe Coragem não é, de forma alguma, uma peça pacifista. O grande momento heroico é quando Katrin sobe no telhado e acorda toda a cidade. Não para desarmá-la, mas para ela se erguer e se defender, para lutar. Não é uma peça contrária à guerra. Não é de amor à guera.
Jorge Pontual — Ele via a guerra como um meio para se chegar a um fim.Tony Kushner — Exato. Mais do que isso. Quando se ouve aquele discurso incrível do pastor na cena seis, que fala de um cara que perdeu a perna, mas que, logo depois, estava fazendo sexo com alguém numa vala e que teve filhos, e aqueles filhos cresceram... Há uma espécie de versão no estilo pesadelo da guerra não só como negócio, mas como a vide em si. Há uma vitalidade nela que Brecht não tinha medo de mostrar. Umas das coisas que Brecht sempre mostrava e em que as pessoas não prestam muita atenção era o custo do sacrifício. Ele entendia que, para ser parte do coletivo e ter uma sociedade em maior comunhão, às vezes, é preciso sacrificar o próprio ego em prol da necessidade da coletividade. Como nas pequenas peças que ele escreveu. Mas o que ele sempre faz não é um sermão para as pessoas do tipo: “Faça isso e tudo será ótimo.” O que ele diz é: “Quando você faz isso, parece a morte. Fazer isso é terrível. Se fizer isso, você se sentirá como se estivesse morrendo.” Ele reconhece isso, e as peças têm um lado obscuro por isso.
 Jorge Pontual — E há uma fala de Mãe Coragem, quando ela e o pastor estão cantando para conseguir comida, quando estão passando fome.Tony Kushner — Com o cozinheiro.
Jorge Pontual — E ela diz, acho que isso resume o seu trabalho e o trabalho de Brecht: “O mundo é assim, mas não deveria ser.”Tony Kushner — É verdade. Um dos últimos poemas dele diz: “E sempre pensei: as palavras mais simples devem bastar. Fracassarás se não te defenderes. Certamente verás”. Isso é o poema todo. E ele é muito tocante, porque, como ele diz, as verdades mais profundas são, de certo modo, muito simples. Ter pena de si mesmo e de outras pessoas e agir no seu interesse e no interesse dos outros deveria ser suficiente para mudar tudo. E é claro que o que nos entristece é o que não é dito nessa declaração, mas que é como um trovão por causa da simplicidade dele, que é: o mundo é assim, mas não deveria ser assim. Mas é assim. Então, isso tem seu lado trágico também.
* Entrevista gravada antes da premiação do Oscar. O prêmio de "Melhor Roteiro Adaptado" ficou com Chris Terrio, por Argo. Fonte: Consultor Jurídico

11 março 2013

A Flip 2013 já tem data e autor homenageado



Novamente com curadoria do jornalista Miguel Conde, a 11ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty será realizada entre os dias 3 e 7 de julho de 2013 e celebrará a obra de Graciliano Ramos.
No próximo dia 27 de outubro se completam 120 anos do nascimento do autor, natural de Quebrângulo, Alagoas. Escritor, jornalista e político, Graciliano Ramos teve uma vida em que a literatura e a política se entrelaçaram e, não raro, as convicções e atividades políticas inspiraram suas obras de forte conteúdo social.
Memórias do Cárcere revela sua amarga experiência no período em que esteve preso durante a ditadura de Getúlio Vargas, em 1935, acusado de subversão. Vidas Secas, um de seus mais celebrados trabalhos, retrata, por meio de um relato indignado, as agruras dos retirantes nordestinos castigados e humilhados pela seca.
Os escritores homenageados nas edições anteriores da Flip foram Vinicius de Moraes (2003), Guimarães Rosa (2004), Clarice Lispector (2005), Jorge Amado (2006), Nelson Rodrigues (2007), Machado de Assis (2008), Manuel Bandeira (2009), Gilberto Freyre (2010), Oswald de Andrade (2011) e Carlos Drummond de Andrade (2012).

Fonte: site da Flip

07 março 2013

Entrevista - Marcelo Galvão fala de seu filme Colegas e da campanha "Vem, Sean Penn!"


Depois de conquistar prêmios e uma boa receptividade no circuito de festivais, a aventura chega nos cinemas, turbinada pela campanha que convida o ator Sean Penn a prestigiar a estreia ao lado de Ariel Goldenberg, ator do filme e fã do astro de Hollywood. Veja como foi o nosso papo com o realizador do longa.
por Roberto Cunha (em "Adoro Cinema")

O cineasta Marcelo Galvão vem curtindo o sucesso de seu mais novo projeto no circuito de festivais. E a animação dele com a chegada de Colegas, finalmente, nos cinemas, é o que você poderá conferir no papo que ele teve com a gente . Além disso, ele fala sobre a campanha "Vem Sean Penn!", que caiu nas graças da comunidade artística e do público. Veja os melhores momentos dessa entrevista exclusiva para o AdoroCinema.

Mas eles não estrearam no circuito, né?
Esse é o problema. Eles passaram somente em festivais. Nenhum deles foi para os cinemas. As pessoas que conhecem são as que frequentam festivais. Colegas é um filme que eu consigo colocar numa sala de cinema, criar uma campanha em volta dele. É o primeiro filme meu que as pessoas vão conhecer o meu trabalho.
Na verdade, as pessoas até conhecem mais o primeiro filme,Bellini e a Esfinge, que já virou uma marca. O segundo eu escrevi o roteiro, dirigi, mas é um filme que tem o corte do produtor. Não é um filme que eu possa considerar meu e estreou em coisa de seis salas, era pequeno mesmo. Eu tenho o meu corte diferente daquele. 

Eu fiquei bem surpreso. O principal foi com o público, porque passar um filme em um festival reconhecido, com críticos e muita gente olhando. E eu não sabia como seria a reação do espectador do sul, né? Foi o grande marco de quebrar minhas expectativas. O pessoal batendo palmas em cena aberta, aplaudindo no final. 
Foi um termômetro para você?
E não dá para chamar de frustração não ter sido pelo voto popular porque eu estava muito feliz com a receptividade do público e os atores já tinham ganhado o Prêmio Especial do Júri também. Me incomodava a possibilidade de entregar o prêmio para apenas um, mas o festival teve a delicadeza de entregar um prêmio para cada. E isso me tirou uma preocupação muito grande.

Então foi tensão total quando viu que O Som ao Redor já tinha papado Melhor Filme pelo voto popular?
É. Eu tinha era esperança diante da reação do público. Era o único que eu tinha certeza. Achei até estranho a gente ganhar o voto dos jurados e perder no do público. Devia ser ao contrário. O filme dele é mais cabeça, né? Mas deve ser o processo de escolha por representantes que fez a diferença.

E por que não estreou no fim de 2012, chegando só agora no início de 2013, começo das aulas ... ?
Essa decisão foi praticamente minha. O pessoal foi contra, mas não fazia sentido ficar sete anos dedicado ao projeto, captando e depois de pronto jogar nos cinemas, pegando sobras. Eu falei que a gente precisava de um tempo para divulgar, contar mais da história, despertar mais um pouco. A gente teria menos de um mês de exposição do trailer, estava na rebarba da Mostra de São Paulo e da repercussão de Gramado. Precisava criar uma coisa nova para o filme, mais mídia espontânea. A gente estava entrando numa semana que na seguinte iria entrar Crepúsculo (Amanhecer - Parte 2). Num complexo de oito salas, ele ia pegar seis. 
E não dá para chamar de frustração não ter sido pelo voto popular porque eu estava muito feliz com a receptividade do público e os atores já tinham ganhado o Prêmio Especial do Júri também. Me incomodava a possibilidade de entregar o prêmio para apenas um, mas o festival teve a delicadeza de entregar um prêmio para cada. E isso me tirou uma preocupação muito grande.

A trajetória foi legal em festivais no Brasil, na Itália ...Teve em Moscou também e as projeções do filme em festivais que a gente não concorreu, como Festival do Rio e a abertura do Festival de Amazonas, foram muito bacanas junto ao público.

E naqueles que você entrou em competição, como os que eu citei, o prêmio veio do voto popular. Isso mostra que eles estão assimilando a sua obra?

Com certeza. Em Moscou a gente ganhou Melhor Filme, voto dos jurados, e em Trieste (Itália) e Mostra de Sâo Paulo foi do público.

Você ataca de produtor, roteirista, montador, produtor executivo, diretor ... Enfim, bate o escanteio, cabeceia e ainda tenta agarrar. E agora, até de ator você deu uma arriscada ...
Foi uma ponta ...

Esse é um caminho que você escolheu, essa coisa de se virar nos 30 e fazer tudo?

É. Total.

Você está aberto para convites para dirigir outros projetos ou seu interesse é por projetos pessoais?
Não, não, estou super aberto a outros projetos. Eu adoro dirigir. Eu já fiz roteiros também para outros diretores. Eu gosto tanto de escrever, quanto de dirigir. São duas coisas que eu faço com amor.

E se você pudesse escolher escrever um roteiro para alguém, tem algum diretor na mira ou nunca parou para pensar nisso?
Pra mim, o escrever já é um trabalho em si. O meu tesão em escrever é que ele se torne uma obra independente de quem vai dirigir. Ela foi escrita e cada um vai ter a sua visão. Óbvio que eu gostaria que coisas escritas por mim fossem dirigidas por diretores que eu gosto, que acrescentariam algo. Fernando Meirelles é um cara que admiro pra caramba, mas meu tesão mesmo é na obra em si. É escrever ela e ela já ser por si só algo publicável.

Voltando a falar de Colegas, o filme brinca o tempo todo com títulos famosos, né? Tem citação verbal, visual, tem cinema de montão dentro da história. Isso já fazia parte desde o argumento ou foi algo que foi surgindo?
Não. Foi desde o argumento, quando criei a história. A primeira coisa que me veio a cabeça foi se os garotos iriam conseguir atuar direito. Será que vai ficar assim ... meio falso? Será que as pessoas vão acreditar? Será que vou conseguir transformar eles em atores? Porque eles não são atores. E aí eu falei que uma forma de resolver isso seria se eles falassem frases de filmes. 

Não. Foi desde o argumento, quando criei a história. A primeira coisa que me veio a cabeça foi se os garotos iriam conseguir atuar direito. Será que vai ficar assim ... meio falso? Será que as pessoas vão acreditar? Será que vou conseguir transformar eles em atores? Porque eles não são atores. E aí eu falei que uma forma de resolver isso seria se eles falassem frases de filmes. 
Durante o processo, acabei vendo que eles eram muito bons e aí tirei muitas falas. Fui deixando o improviso e os textos que eles conseguiam memorizar e interpretar maravilhosamente. As referências passaram a ser um chantilly no sorvete. Não só nas falas como nas situações, tem o origami de Blade Runner, o casamento na ponte de Assassinos por Natureza. E aí foi crescendo e virou um charme porque é uma história contada, tem muito a ver com cinema. Ele começa com aquela sujeira do VHS nos créditos iniciais e em todas as exibições a gente ainda pega as pessoas de surpresa, pensando que é um defeito na projeção. É uma linguagem que a gente queria assumir porque a gente fala de filmes o tempo todo e eles assistiam no VHS. 

Em Gramado, como aconteceram problemas com outros filmes, cheguei a pensar que era problema mesmo. E vendo na sessão para a imprensa, novamente voltei a pensar que era um defeito ... 
Você sabe que é um negócio que me arrependo? Porque não precisava. Tem coisa que você aprende, né? Os créditos finais começavam com cenas do meu tio quando era criança. Mostrei pro Fernando Meirelles, um grande amigo, e ele me disse que tinha gostado muito do filme, mas tiraria isso porque deixava mais pesado. Tem coisa que eu consegui mudar antes. Esse toque foi legal. Apesar de ser um detalhe nos créditos, ele te deixa com uma outra sensação. 
Durante o processo, acabei vendo que eles eram muito bons e aí tirei muitas falas. Fui deixando o improviso e os textos que eles conseguiam memorizar e interpretar maravilhosamente. As referências passaram a ser um chantilly no sorvete. Não só nas falas como nas situações, tem o origami de Blade Runner, o casamento na ponte de Assassinos por Natureza. E aí foi crescendo e virou um charme porque é uma história contada, tem muito a ver com cinema. Ele começa com aquela sujeira do VHS nos créditos iniciais e em todas as exibições a gente ainda pega as pessoas de surpresa, pensando que é um defeito na projeção. É uma linguagem que a gente queria assumir porque a gente fala de filmes o tempo todo e eles assistiam no VHS. 
As referências são todas minhas, de filmes que gosto. E tinha muito mais. No começo, na hora do assalto, tinha uma fala "Ria e o mundo rirá com você. Chore e chorará sozinho", que é do Old Boy, mas acabei tirando porque começei a achar que estava forçando muito. Então fui tirando e não agreguei mais. O roteiro foi muito elaborado, foram 13 tratamentos. Lia, relia ... E o meu processo de criação é muito democrático. Eu leio para as pessoas, converso e alguma coisa pode ter vindo disso, mas só o que achava ser pertinente.

E qual delas é a preferida, a mais emblemática?
A mais emblemática para mim é a fala "Everybody be cool, this is a robbery". Porque é a primeira cena do filme e é a que o Ariel mais gosta de falar nas palestras do filme. Apesar de ser uma fala em inglês, ela é reconhecida por ser doPulp Fiction. É a mais emblemática dos Colegas.

Mesmo sendo um assunto delicado, qual é a expectativa de público. Existe um número considerado legal?
A gente quer bater um milhão de espectadores. Quer mostrar que o filme tem força e que tenha uma trajetória igual ao de Intocáveis e O Palhaço. Apesar dele ter um drama e Colegas ser mais para cima. É um filme mais feliz. Eu acho que o boca a boca que houve com O Palhaço e fez com que o filme chegasse a mais de 1.4 milhão de espectadores e Intocáveis passar de um milhão, é o que a gente espera pro nosso filme.

Ficaria amarradão com essa marca? 
Ficaria super feliz porque seria um dos poucos filmes a bater um milhão sem a Globo Filmes. 

Você falou do momento do seu tio que foi cortado dos créditos finais, mas manteve no final uma bonita dedicatória para ele, que dá nome a um dos protagonistas. Não é isso? Sua experiência com ele foi a semente do projeto?É sim. Se eu não tivesse convivido com ele eu não ia ter a vontade de escrever o que eu escrevi. Eu queria que o filme tivesse a mesma energia de quando eu passava os momentos da minha infância com ele. Era um cara com um coração gigantesco, divertido, engraçado ... queria que aquela sensação gostosa que eu tinha, as pessoas também tivessem. Mas para isso eu não podia falar de Síndrome de Down. Eu tinha que olhar o copo bem cheio e não o copo vazio. Aí, resolvi fazer uma aventura super divertida que eu tirasse sarro do preconceito que existe. Um filme sem a vontade de levantar nenhuma bandeira, mas que fosse protagonizado por eles, porque eu sabia que se tivesse eles ali, iriam passar isso para o filme porque eles são assim. Isso é um dom.

O roteiro trata de temas interessantes e é protagonizado por portadores de Down. O sexo é um deles. E aparece mais romântico no personagem de Stallone (Ariel) e mais hardcore no de Márcio (Breno). Algum receio de ser alvo de críticas por isso?
Não. Nenhum. O meu público maior são os pais deles, alguém que eu me preocuparia se tivesse alguma coisa ligada a esse ponto. É tanta gente que acompanha o filme no Facebook, por exemplo, e nunca ouvimos nada a respeito. O filme fala de inclusão. Eu lembro até que numa época o pessoal da distribuidora falou da cena deles se beijando, que o público podia não gostar ...

Engraçado porque eu achei essa cena super bacana e parecia um filme comum, que a gente está acostumado a ver. O grande barato foi que você colocou tudo como normal, igual ...

A ideia era fazer um negócio atemporal porque é uma história contado por um jardineiro. Então ela pode ter referências atuais, uns lances rústicos ... A gente queria ter uma coisa retrô, mas também modernas como o celular que você falou. A única preocupação era estética. Que seja interessante e bacana. Por exemplo, aquele negão sentado de costas é o Wallace do Pulp Fiction, com um band-aid igual ao do personagem. O filme procura ser interessante estéticamente também.

A trilha é bem legal e as músicas de Raul Seixas quase que atuam no filme. Qual é a conexão do filme com Raulzito, é pessoal? Como foi a questão dos direitos?
Eu adoro o Raul. Sempre gostei desde a minha infância e ele tem tudo a ver com o filme, as letras, é um cara totalmente sem preconceito, divertido, muito parecido com eles. Foi muito fácil conseguir as músicas e a Kika Seixas foi uma pessoa maravilhosa. Praticamente, cedeu todas elas, ajudando muito nesse processo. E eu fiz uma pesquisa para ter também músicas desconhecidas, que ninguém conhecesse, como "Asa Branca" cantada em inglês, além das tradicionais, com "Sociedade Alternativa". O valor cobrado foi irrisório comparado a obra.