12 fevereiro 2013

Entrevista com Marici Salomão (dramaturga e jurada do prêmio Shell)


Marici Salomão é escritora, professora de dramaturgia e jurada do Prêmio Shell. Participa das principais iniciativas paulistas na busca de novos talentos da dramaturgia, como o "Dramaturgias Urgentes" e o Núcleo de Dramaturgia do Sesi-British Council, em São Paulo.

Em entrevista originalmente concedida ao site "Alternativo?" em 2007, Marici tece comentários sobre o teatro alternativo em São Paulo.

Marici Salomão


O que é teatro alternativo pra você?
É um teatro que não se pauta pelo comercial, não depende do mercado para sobreviver, do fato de atrair público. Ele pode estar inserido, mas não depende. Tem também liberdade temática. Ele pode acontecer em qualquer reduto não tradicional. Antes, o teatro alternativo acontecia na região do Bexiga, agora pode acontecer em qualquer lugar.
Não está inserido na grande mídia, não depende disso pra sobreviver. Mas, em alguns casos, a mídia absorveu. No caso do Satyros, pegou tão bem, que a própria grande mídia absorveu. O Satyros não depende da grande mídia, mas está nela. É um alternativo chique. Não é só underground. Alguns ainda não saem na mídia. Podem sair em mídias pequenas, como blogs, o Boca-a-boca, até o caso de vocês, da Bacante.
Você acompanha o teatro alternativo em São Paulo?
Sim, também porque sou jurada do prêmio Shell, então sou obrigada a ver tudo ou quase tudo que está em cartaz. Por ofício e interesse. Na Praça há uma grande gama de tendências e filiações. Peças de diferentes tendências e diversidade de teatros. Há os Satyros, Parlapatões, Teatro X (atual Studio 184). Diferentes tendências no mesmo espaço. Atualmente, teve o Projeto das 7 peças, que foram peças em horários nobres todos os dias da semana. O horário, aliás, é outro fator que também determina o teatro alternativo. Lá, pode-se ver uma peça às 19h, depois outra às 22h30, depois às 24h, a famosa sessão maldita, como tinha os teatros antigamente. O horário também é determinante. Uma peça começar depois das 21h é bem alternativo. O espectador desses horários diferentes também é novo.
Quais grupos você relaciona ao teatro alternativo em São Paulo?
Tem peça Jogando no Quintal – confesso: ainda não fui ver – que é encenada em campos de futebol de bairros da periferia e fora dela. Tem também o Next, o caso da Terça Insana começou alternativo, foi ganhando cada vez mais público e ganhou asas.
Você acha que deixou de ser alternativo?
Será? Eu acho que não. Acho que não perdeu a alma porque foi absorvido. Não é por isso que é menos alternativo. O próprio Satyros não deixa de ser alternativo porque aparece mais na mídia. Agora é super bem divulgado e não é por isso que deixou de ser alternativo. que perdeu a alma. Esse é só um dos fatores do teatro alternativo, os outros continuam. O espaço não convencional, liberdade temática, não depender do mercado. Não é quanto pior for, mais alternativo é. Na verdade, é quanto melhor, melhor. Os espaços da Roosevelt não são convencionais. Teatro alternativo está em espaço alternativo. A ausência do palco italiano, um espaço que dá pra você modificar, fazer teatro de arena, arquibancada, mudar os bancos de lugar… espaços moduláveis. Alternativiza o espaço. Não entra em linguagem convencional. Puta divulgação que têm, mas não está em espaço convencional, não é só pra classe dominante. Pra burguesia. Muitos estudantes de periferia vão assistir peças nos Satyros. Se as pessoas que tem mais dinheiro querem assistir as peças junto, também assistem, mas não são feitas para a burguesia. Há uma gama de diferentes espectadores, de diferentes tipos.
Aula de dramaturgia de Marici Salomão no Núcleo de Dramaturgia Sesi-British Council, datada de 2009.
Entrevista de Marici Salomão para o "Cena 3" (08/01/2013): CLIQUE AQUI

Para conhecer mais do trabalho de Marici Salomão como autora, acesse o site da Coleção Aplauso da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo (clique aqui), e baixe o livro "O teatro de Marici Salomão", disponibilizado grátis para download e leitura.

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