Fonte: Café com Letras
Entrevista de 2003, dada à Tribuna.
Ele vendeu mais de 350 milhões de livros. Ganhou um Oscar, um Tony, tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e criou uma das séries de tevê mais conhecidas do mundo (Jeannie é um Gênio): Sidney Sheldon, aos 86 anos, está mais na ativa do que nunca. Escreve dois romances (um deles uma autobiografia). Nesta entrevista, ele fala de sua carreira no cinema, na tevê e na literatura e conta histórias de seus mais de 70 anos no showbiz.
Entrevista de 2003, dada à Tribuna.
Ele vendeu mais de 350 milhões de livros. Ganhou um Oscar, um Tony, tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e criou uma das séries de tevê mais conhecidas do mundo (Jeannie é um Gênio): Sidney Sheldon, aos 86 anos, está mais na ativa do que nunca. Escreve dois romances (um deles uma autobiografia). Nesta entrevista, ele fala de sua carreira no cinema, na tevê e na literatura e conta histórias de seus mais de 70 anos no showbiz.
Como o sr.
começou sua carreira e o que o levou a isso?
Vendi meu primeiro poema quando tinha 10 anos. Eu sempre soube que
queria ser um escritor, acho que o talento vem de Deus e todos os que possuem
algum talento, seja na literatura, na pintura ou na música, não deveriam levar
o crédito por isso, mas sim agradecer por esse dom de Deus.
Quais de
seus romances o sr. considera os melhores?
São três os que tenho mais carinho: O Outro Lado da Meia Noite, O Mestre
do Jogo e Se Houver Amanhã.
Qual é, na
sua opinião, a razão para seus livros venderem tanto?
É simples: acho que meus livros vendem bastante porque meus personagens
parecem pessoas reais. Eu penso em mim mesmo ao escrever, no que eu gosto e no
que acho que julgo ser o mais natural possível e acho que, por consequência, os
leitores sentem a mesma familiaridade.
Como vive o
homem Sidney Sheldon?
Eu e minha esposa Alexandra nos
dividimos entre nossas casas em Los Angeles e Palm Springs, na Flórida.
Recentemente, vendemos uma casa que tínhamos em Londres, porque não tínhamos
muito tempo para ir lá. Compramos essa casa, um bonito duplex, de Andrew Lloyd
Weber. Nós gostamos muito de viajar, já visitamos mais de 90 países.
Qual é seu
ritmo de trabalho?
Começo, normalmente, às 9 da
manhã e trabalho até as 18 horas. Quando tenho insônia (o que é muito comum),
vou para o escritório e passo muitas horas da madrugada escrevendo, também.
Trabalho sete dias por semana.
Sem
descanso?
Mesmo encarando com toda seriedade, não vejo o que
faço como trabalho, no sentido ruim da palavra. Faço o que gosto e porque
gosto.
E seus gostos
pessoais em literatura, música e cinema, quais são?
A lista dos meus autores favoritos inclui nomes como Thomas Wolfe,
Sinclair Lewis, Booth Tarkington e George Bernard Shaw. Em relação a música e
cinema, prefiro os artistas – e as obras – com os quais cresci: os filmes dos
anos 40 e 50 e músicos como Jerome Kern, Cole Porter, George Gershwin e Irving
Berlin.
Não faz
muito tempo que o sr. escreve livros para crianças. Como surgiu essa idéia e
quais são as diferenças de estilo entre o píblico adulto e o infantil?
Não vejo diferenças fundamentais. O básico, tanto em relação às crianças
quanto aos adultos, é que a história deve ser excitante e os personagens
interessantes o suficiente para prender a atenção. Escrevi meu primeiro livro
infantil porque meu editor no Japão achava que as minhas histórias eram tão
envolventes que as crianças gostariam de lê-las.
Escrever é
uma questão de inspiração ou estudar ajuda?
Ah, 100% de inspiração, a transpiração é consequência. Não há
possibilidade de que alguém sem idéias consiga produzir algo de qualidade.
Seu primeiro
trabalho foi uma peça de teatro, quando o sr. tinha 12 anos. Qual era o tema
desta peça e como ela foi feita?
Minha
professora de Inglês leu essa peça quando eu tinha 12 anos, mas ela foi escrita
um pouco antes. Ela gostou muito e me disse que gostaria de encená-la. Eu,
claro, fiquei muito entusiasmado. Acho que ela gostou muito mesmo, porque
convidou todos os alunos da escola para assistir, no auditório, a encenação. Eu
fui o produtor, o diretor e, claro, escalei a mim mesmo para o papel principal.
Era uma história de detetive. Quando chegou minha vez de entrar no palco,
entrei em pânico e comecei a rir sem parar. A professora me chamou em um canto
e tentou me acalmar, em frente àquele auditório enorme, mas não conseguiu. A
peça nunca foi encenada.
E a
televisão, como apareceu?
Comecei a
escrever para televisão por acaso. Meu agente me pediu para criar um seriado de
tevê para o ator Patty Duke, que acabara de ganhar um Oscar pelo filme The
Miracle Worker. Criei The Patty Duke Show e, em seguida, Jeannie é um Gênio.
Escrevi os episódios das duas séries ao mesmo tempo, por muito tempo.
Como foi
trabalhar em Jeannie é um Gênio, um dos sitcoms (Situation Comedy, seriados
cômicos) mais conhecidos da tevê em todo o mundo? Produzir Jeannie é um Gênio foi uma experiência maravilhosa. Eu tinha um
elenco excepcional e tive o mérito de contratar os melhores diretores
disponíveis.
Os primeiros
episódios da série foram ao ar em preto e branco, mas na época a tevê a cores já
existia. Por que essa opção?
Não foi uma
opção, até hoje não entendi direito como isso aconteceu. No ano em que Jeannie
foi ao ar, todas as estações de tevê já tinham migrado para o sistema em cores.
Naquele ano, apenas dois seriados foram produzidos em preto e branco. Um era um
drama de guerra e o outro, Jeannie. Perguntei ao estúdio o porquê disso e
recebi, como resposta, o argumento de que produzir em cores era muito caro,
custaria alguns milhares de dólares a mais por ano. Fiquei tão atônito com essa
resposta que até me coloquei à disposição para pagar, do meu bolso, essa
diferença. Os executivos de estúdio me aconselharam a não me preocupar, que
provavelmente não haveria uma segunda temporada. Bem, o resto da história todo
mundo sabe: Jeannie foi ao ar por cinco temporadas e hoje, 40 anos depois de
sua estréia, ainda é sucesso no mundo inteiro, tendo suas reprises exibidas em
inúmeros países, inclusive no Brasil.
Como o sr.
chegou a Hollywood?
Comecei escrevendo filmes, na
verdade. Cheguei a Hollywood com 17 anos. Havia oito grandes estúdios, na
época, e cheguei aos portões de cada um deles e me apresentei aos guardas:
“Olá, sou Sidney Sheldon e quero ser escritor”. E, como sempre acontece, não
conseguia falar com ninguém. Foi durante a depressão, saí de Chicago para
Hollywood e minha mãe havia me dado três semanas para arrumar um emprego ou
voltar pra casa. Então, ouvi falar em uma coisa engraçada: leitores que faziam
sinopses reduzidas de livros, para produtores de cinema ocupados. Fiz uma, de
Mice and Man, e mandei para os estúdios. Três dias depois, estava trabalhando
na Universal, ganhando US$ 17 por semana, fazendo o mesmo trabalho de ler e
transformar livros em sinopses. Além disso, aproveitei para escrever meus
próprios trabalhos. Os quatro primeiros foram deixados de lado, o quinto foi
vendido e então me tornei roteirista, aos 18 anos.
No cinema, o
sr. chegou a trabalhar com a dupla Jerry Lewis e Dean Martin antes deles se
tornarem famosos. É de conhecimento público que eles não se davam nada bem fora
das telas. Como foi essa experiência? Foi muito
interessante trabalhar com Dean Martin e Jerry Lewis. Mesmo sendo conhecida sua
antipatia mútua, ambos se comportavam muito bem no set. É conhecido de todos
também que Jerry era muito controlador e Dean, um boa praça. No primeiro dia de
filmagem de You´re Never Too Young, nós tínhamos uma leitura do script com o
diretor, o elenco e eu. Quando terminamos, o diretor disse: “Alguma pergunta”?
Dean Martin levantou-se e disse: “Não, tudo está muito bom, tenho um jogo de
golfe marcado e tenho que ir”. E foi. Jerry Lewis, ao contrário, disse que
tinha algumas perguntas e, pela hora seguinte, ficamos lá, discutindo todos os
aspectos: ângulos de câmera, iluminação, a direção e o roteiro.
Por que sua
carreira de diretor não decolou? Seria uma opção pela literatura?
Minha carreira de diretor não decolou porque eu não era muito bom,
mesmo. Acredito que devemos investir nosso tempo naquilo que somos realmente
bons, porque assim, as chances de sucesso são muito maiores. Mas é claro que a
minha preferência são os livros.
Mesmo em
relação ao teatro? O sr., que tem experiência no teatro, televisão e cinema e
literatura, prefere o quê?
Escrever um
livro é uma experiência bem mais livre. E mais pessoal, também. Quando escrevo um
roteiro para cinema, tenho centenas de colaboradores. Em um livro, a obra é
totalmente minha. Há um senso maior de liberdade, porque você cria os
personagens e faz o que quiser com eles. Tem o poder de decidir quem vive e
quem morre. Acho esse tipo de processo criativo extremamente estimulante.
O sr.
recebeu os dois prêmios mais importantes do cinema e do teatro, o Tony e o
Oscar. Tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Vendeu mais de 300
milhões de livros em 181 países, traduzidos para 51 idiomas. Os estúdios usam
seu nome para promover um filme, como sinônimo de qualidade. A que atribui esse
enorme sucesso?
Acho que meu sucesso tem uma explicação: escrevo
sobre emoções, um tema de interesse universal. Ainda tenho a impressão de que
tudo isso é um sonho. Quando The Naked Face, meu primeiro livro, foi publicado,
achei que iria bater um recorde da indústria: seria a primeira vez que um livro
não venderia nenhuma cópia. Para evitar isso, fui até a livraria e comprei um
exemplar. Desde esse dia, sempre que um novo livro meu é colocado nas livrarias,
visito uma e compro uma cópia.
Normalmente,
seus personagens principais são mulheres, sempre muito fortes e que lutam
contra tudo e todos em nome de seus objetivos. Essa é realmente sua visão sobre
as mulheres?
Odeio aquele clichê da ‘loira burra’, que diz que
se a mulher é bonita, deve ser pouco inteligente. Por isso escrevo livros em
que a personagem é, além de bela, boa em tudo o que faz. Minha mãe era uma
mulher assim. Minha primeira esposa, Jorja, que morreu, era assim, tanto quanto
minha esposa Alexandra.
Como estão
seus dois próximos trabalhos, a autobiografia The Other Side of Me e o romance
Are You Afraid of The Dark?
Escrevi uma
primeira versão da minha biografia e pretendo recomeçar esse trabalho assim que
terminar Are You Afraid of The Dark.
· Vida e carreira
·
1917 – Nasce no dia 11 de fevereiro, em Chicago.
·
1934 – Chega a Hollywood, onde se torna roteirista.
·
1941 – Ele se alista na força aérea americana e
combate na Segunda Guerra Mundial.
·
1942 – Três musicais escritos por Sheldon dominam a
Broadway.
·
1948 – Ganha um Oscar pelo roteiro de The Bachelor
and The Bobby Soxer.
·
1959 – Ganha um Tony como co-autor do musical
Redhead.
·
1964 – Cria, escreve e produz Jeannie é Um Gênio.
Durante os cinco anos da série, ele escreveu 78 roteiros de episódios.
·
1969 – Escreve o primeiro livro, The Naked Face.
·
1975 – Seu segundo livro, O Outro Lado da
Meia-Noite, alcança o primeiro lugar na lista de best-sellers do New York
Times.
·
1988 – O livro As Areias do Tempo alcança o
primeiro lugar da lista de best-sellers do New York Times antes mesmo de ser
lançado.
·
1997 – Sheldon ganha destaque no livro Guiness dos
recordes, como o autor mais traduzido no mundo.
·
2007 – Falece em 30 de janeiro em Rancho Mirage
Entrevista em INGLÊS, sem legendas.
Nesta entrevista de 5 partes, o escritor e produtor Sidney Sheldon (1917 - 2007) lembra de seus anos iniciais em Hollywood como roteirista de filmes, que lhe proporcionaram um Oscar por "The Bachelor and the Bobby Soxer." Sheldon discute também a criação de The Patty Duke Show. Relembra como, durante esse trabalho, foi abordado pelo Screen Gems para produzir uma sitcom -- Jennie é um gênio. Depois, conta como criou Nancy, uma sitcom curta datada de 1970, e também "Casal 20" (Hart to Hart - episódio piloto) que foi produzido por Aaron Spelling. O autor também conta sua mudança de roteirista de televisão para escritor de romances, e compartilha seu incrível feito de ter dezesseis livros como best-seller, muitos dos quais foram transformados em filmes de sucesso.
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