Fonte: jornal "The Guardian/The Observer" - http://www.guardian.co.uk/stage/2012/jan/22/yasmina-reza-interview-carnage-polanski. Entrevista feita por Elizabeth Day, em janeiro de 2012. Traduzida do original em inglês especialmente para este blog.
A peça “Deus da Carnificina” (2008),
escrita por Yasmina Reza, foi um sucesso mundial. Aqui ela fala sobre como foi trabalhar
com o diretor Roman Polanski na adaptação para o cinema e o ano que passou com
Nicolas Sarkozy.
Yasmina Reza: "Eu trabalho como um
pintor. Se um pintor faz um retrato de alguém, ele não está interessado em sua
infância. Ele pinta o que vê." Fotografia: Victor Pascal / ArtComArt
No final de 2005, a dramaturga Yasmina Reza
foi abordada por um diretor de teatro alemão que queria encomendar um novo
trabalho seu. "Eu disse, 'Não, eu estou cansada, muita coisa está
acontecendo, eu não quero fazer isso'", diz Reza, sentada no canto de um
bar escuro em sua Paris natal. Ela faz um gesto com as mãos, como se revivendo
a recusa. Mas então, algo aconteceu que a fez mudar de idéia.
"Houve um pequeno incidente na vida do
meu filho", diz ela, enchendo novamente sua xícara de chá com um bule em
estilo oriental, enquanto fala. "Ele estava, então, com cerca de 13 ou 14
anos e seu amigo se meteu numa briga com um outro amigo, eles trocaram golpes e
amigo do meu filho teve o dente quebrado. Alguns dias mais tarde, me encontrei
com a mãe desse menino na rua, eu perguntei a ela como seu filho estava, se ele
havia melhorado, porque eu sabia que teriam de fazer alguma coisa com seus
dentes – eles tiveram que operar ou algo do gênero. E ela me disse, "Você acredita
que os pais [do outro menino envolvido] sequer me telefonaram? "
Reza olha fixamente para mim, olhos
castanhos sem piscar, como se a sublinhar a gravidade da situação. Mas, então, sua
boca se contorce no canto e se transforma em um sorriso largo.
"Foi de repente, clique! Pensei, 'Isso
é um tema incrível." Ela quase salta em sua cadeira com a lembrança, com o
cabelo balançando como se espelhando o seu entusiasmo. "Então eu perguntei
aos alemães se ainda era possível fazer uma peça e eles disseram:" É
possível, mas você tem que fazer isso até abril."
Reza escreveu então a coisa toda em três
meses. "Nenhum método", diz ela alegremente. "Eu só
escrevi."
O trabalho resultante foi “Le Dieu du
carnage (God of Carnage/Deus da Carnificina)”, uma das peças mais populares e
aclamadas dos últimos 10 anos, que tem sido objeto de várias produções teatrais
e foi transformado em um filme dirigido por Roman Polanski, estrelado por Kate
Winslet , Christoph Waltz, John C Reilly e Jodie Foster como integrantes de
dois casais de classe média, belicosos, que se reúnem para discutir a luta de
seus filhos no playground.
Reza brinca com o curso desse encontro,
inicialmente civilizado, mas que logo degenera em uma noite de antipatia mútua
e xingamentos. Ao final do encontro, o diálogo ácido queimou todo o verniz de
respeitabilidade, burguesia presunçosa, com conseqüências alternadamente cômicas
de desconfortáveis.
Em Londres, onde a peça teve sua estréia em
2008 (após ser traduzida para o inglês por um colaborador de Reza, de longa
data, Christopher Hampton), foi um sucesso comercial e de crítica. No Guardian,
Michael Billington saúda Reza como "uma humorista nata", outros
proclamaram-se "encantados com sua observação incisiva" e "humor
sagaz". Ele ganhou um Olivier de melhor peça inédita e quando Deus da
Carnificina foi montado na Broadway em 2009, ganhou um Tony e se tornou a terceira
mais longa montagem da década.
O filme de Polanski, chamado simplesmente
de 'Carnage', é extremamente fiel ao original. Apesar do cenário ter sido
transferido de Paris para o Brooklyn, bairro de Nova Iorque, muito do diálogo
permanece e a maior parte da ação se passa dentro de quatro paredes do
apartamento, claustrofóbico.
"Eu percebi imediatamente tudo ser transponível
de Paris para o Brooklyn", diz Reza, que adaptou o roteiro com Polanski.
"Nós escrevemos em francês primeiro, mas ele queria fazer isso com atores
ingleses, porque ficaria mais à vontade. Assim, ele traduziu."
É a primeira vez que Reza, de 52 anos, deu
permissão para uma de suas peças ser adaptada para o cinema. “Art”, outra de
suas peças de sucesso, escrita em 1994 e para a qual ela é ainda mais
conhecida, já foi traduzida para mais de 30 idiomas, arrecadou quase US$200
milhões e venceu a tríplice coroa do mundo do teatro: o prêmio Molière francês,
o prêmio Olivier britânico e, em numa inédita premiação, foi a primeira peça
escrita em língua não-inglesa a ganhar o norte-americano Tony.
Mais quatro peças de sucesso a seguiram, incluindo
“Life x 3”. O público lotou os teatros em ambos os lados do Canal da Mancha. Na
França, um país em que o sucesso comercial nas artes é freqüentemente comparado
com o fracasso criativo, mesmo assim Reza se tornou uma estrela. O jornal “Libération”
certa vez comparou o circo armado pela mídia em torno da produção de uma de
suas peças com o lançamento do último Harry Potter.
Ela diz que foi "inundada" por
pedidos de cineastas que querem adaptar o seu trabalho, tudo o que ela tinha se
recusado até agora. Então, por que dizer sim, desta vez?
Reza com John C Reilly, à esquerda, Roman Polanski e Kate Winslet na première de Carnage em Paris, novembro de 2011. Fotógrafo: Francois G Durand/WireImage
"Polanski", ela responde sem
hesitar. "Eu o adoro." Não é a primeira vez que os dois uniram forças
- Reza traduziu, no final dos anos 80, a pedido de Polanski, sua peça sobre a Metamorfose
de Kafka - mas eu me pergunto se ela tinha qualquer escrúpulo em trabalhar com
ele novamente. "Escrúpulos?", ela pergunta, aparentemente chocada.
Sim, ela se sentiu desconfortável com o fato de que Polanski é procurado nos
Estados em seis acusações criminais, incluindo o estupro de uma menina de 13
anos de idade (em razão do qual, Carnage teve de ser filmado em Paris)?
"Não, eu não tinha escrúpulos", responde Reza. "Escrever com ele
sempre correu muito bem... somos idênticos Nós não discutimos o significado.
Discutimos o instinto”.
É uma resposta estranhamente amoral da
mulher que uma vez teria dito: ". Teatro é um espelho, um reflexo nítido
da sociedade. Os grandes dramaturgos são moralistas ". E é verdade que, em
suas peças, a pretensão hipócrita, o descuido emocional, são escrutinados com
precisão devastadora. Em “Deus da Carnificina”, o personagem que fornece grande
parte da forragem cômica é Alain, o advogado cínico que passa muito do seu
tempo ao telefone defendendo os efeitos colaterais desastrosos de um
medicamento comercializado por uma empresa farmacêutica desonesta.
Na “Life x 3” (escrita em 2000), Reza
apresentou três versões de um mesmo jantar, mais uma vez a desnudar a falsidade
do verniz social e a selvageria que se encontra abaixo de sua superfície. É
possível que sua vida pregressa - Reza foi criada na França por seu pai,
engenheiro russo-iraniana, que morreu há vários anos, e mãe violinista húngaro –
lhe dê uma perspectiva única. Embora Reza diga que "se sente francesa"
e seja íntima das sutilezas sócio-culturais de seu país, sua perspectiva é a de
um observador agudo e ironicamente interessado.
Será que ela ainda se considera uma
moralista? Ela sorri. "Há todas essas teses universitárias que dizem que
eu sou uma moralista. Eu não sei se sou ou não. Talvez ..." Ela deixa o pensamento
flutuando no ar, enquanto toma mais um gole do seu chá.
Na verdade, ela evita com firmeza o rótulo
de que se propõe a escrever peças com "grandes idéias". "Você
sabe, os críticos em geral sempre tem uma tendência a dar uma dimensão
sociológica para o meu trabalho. Para mim, estou muito feliz que eles digam
isso, mas não é isso que me anima. O que mais me motiva é escrever sobre
pessoas que parecem estar bem, mas por baixo de seu verniz, elas estão quebradas.
Seus nervos estão partidos. Como quando você se mantém bem, até que
simplesmente não pode mais, até que seu instinto assume. É fisiológico.”
É por este motivo, diz ela, que nunca
procura explicar ou desconstruir fundo seus personagens para o público.
"Eu não estou interessada em como eles eram quando crianças, na
psicanálise, porque a escrita é totalmente instintiva. Eu trabalho como um
pintor. Se um pintor faz um retrato de alguém, ele não está interessado em sua
infância... Ele pinta o que ele vê. Não há explicação, porque isso não tem
relevância alguma".
A maioria de sua obra, ela explica, não
começa com o desejo de enfrentar um tema social abrangente, mas com uma única
faísca - como o incidente com o amigo de seu filho - que ilumina algo maior.
Isso levou a críticas de que suas peças são banais e ficam no meio da estrada;
que elas são dependentes da interpretação de grandes atores para o seu sucesso.
Mas também trouxe uma imensa popularidade; há, entre um punhado de críticos, a
crença um tanto esnobe que suas peças são para aquelas pessoas que normalmente
não vão ao teatro.
Em parte, Reza atribui sua opção contra o ‘nonsense’
por ter trabalhado anos como atriz. Ela estudou na renomada escola de Jacques
Lecoq em Paris, antes de se tornar profissional por vários anos. Ela escreveu
sua primeira peça, “Conversas Depois de um enterro”, em 1987, beirando os
trinta anos, porque
eu estava sempre a escrever. “Eu sabia que era boa no que fazia” e, desde então,
escreveu sete peças, cinco romances e uma obra de não-ficção.
Sua experiência no palco, ela diz, "influenciou
o meu trabalho enormemente". Seu tradutor americano, David Ives, disse no
passado: "Metade da razão porque suas peças são encenadas é porque os
atores querem fazê-las ... Há material conturbado para boas performances".
Ela facilita, conscientemente, as coisas
para toda a equipe também. Suas peças tem tudo pronto dentro de um único
conjunto, não contêm mais de quatro pessoas e nunca incluem sugestões para a aparência
de um personagem ou sua biografia pregressa. "Porque mesmo que você diga
para um ator: este personagem foi espancado como uma criança ", o que eles
podem fazer além de dizer, 'OK' e depois é só ir em frente?" Reza diz.
"Isso não lhes serve de nada. A escrita é muito mais orgânica do que isso.
Ela não é de todo intelectual".
Nesse momento, ela fala em um rápido fluxo de
francês e seu cabelo se movimenta - como um barômetro indicando seu humor
interno – fazendo com que ela tenha de afastá-lo de seu rosto. Ela para, em
seguida, para rir de si própria com intensidade "Bem, para mim, pelo
menos."
Acho o riso dela curioso, porque de acordo
com quase todas as entrevistas com Reza que já li, ela foi considerada distante
e pretensiosa, uma mulher que se ofende com facilidade e defensiva em suas
respostas. "O riso", disse ela em uma entrevista em 2001, “é muito
perigoso”.
Mais curioso, é olhar para essa mulher
pequena sentada em frente a mim, só sorrisos, leveza e gestos entusiasmados.
Ela parece ser o oposto da pretensão teatral. Quando eu descrevo suas peças como
acessíveis, ela pega carona na ideia e concorda. "Sim, definitivamente.
Adoro esta definição. Estou bem com isso. Idéias complexas, mas acessível. Não há
sentido em escrever teatro, se não for para ser acessível, porque ninguém vai
vê-lo. Os maiores dramaturgos, como Shakespeare ou Molière - a quem, aliás, eu
não estou me comparando - também foram acessíveis".
A citação sobre o riso ser perigoso foi,
ela diz, colocada fora de contexto. E parece evidente que qualquer um que faz
um personagem vomitar no palco sobre um catálogo Kokoschka inestimável no meio
de uma discussão, supostamente civilizado entre adultos (como Annette faz em “Deus
da Carnificina”) deve ter senso de humor.
"Em ‘Art’ (Arte, peça de sua autoria) há
uma frase de um dos personagens que diz “cultura? Eu vomito nela” e em ‘Deus da
Carnificina’ eu resolvi colocá-la literalmente. Ela votima em uma pilha de
livros de arte”. Reza sorri, aparentando apreciar intensamente a idéia.
Yasmina Reza em1996, com seu prêmio britânico Evening Standard em melhor comédia pela peça "Art". Fotógrafo: Alan Davidson/The Picture Library
Em nenhum momento ela se porta como a grande
dama que tem sido ovacionada. Ela só me permite pagar a conta das bebidas
depois de verificar que eu serei reembolsado. Quando eu comento sobre seu
relógio, ela o tira para mostrá-lo par Amim. Conversa com naturalidade sobre
seus dois filhos com o diretor de cinema Didier Martiny – sua filha de 23 anos
de idade, Alta, que é advogada criminal, e seu filho, Nathan, 19 anos, que quer
ser cantor. Ela não poderia ser mais encantadora.
Talvez a idade tenha lhe feito amadurecer.
Talvez seja porque estamos fazendo a entrevista em francês, língua na qual ela
se sente mais a vontade para se expressar. Talvez ela tenha tido um bom dia.
Seja qual for a razão, não há nenhum sinal da megera irônica que eu esperava. Como,
eu me pergunto, Reza ganhou essa fama?
"Eu sei!" , ela diz, com os olhos
arregalados de horror. "Estou fico tão intimidada com a língua inglesa...
Houve um artigo que dizia algo como ‘eu a odiava antes, eu a odeio ainda mais
agora que a conheci." Tenho sido alvo de ataques pessoais muito
desagradáveis, e não
entendo o porquê”.
Como uma mulher atuante num mundo dominado
pelos homens de teatro, Reza nunca encontrou sexismo óbvio, mas "nas
primeiras entrevistas que fiz, eu era jovem. Não sabia de nada e eu tinha o
costume de tirar todo o meu batom e repassá-lo. Isso foi visto como muito
feminino... talvez eles não me tenham levado a sério".
Essa fama, supõe-se, deve decorrer da idéia
de que os dramaturgos são todos artistas falidos, que vivem em sótãos
românticos, gratos por qualquer migalha de atenção que recebam. "Talvez,
mas eu nunca joguei esse jogo. Não me considero uma celebridade ou uma
intelectual. Sou uma escritora e isso é outra coisa... Não quero ter uma opinião
sobre assuntos atuais, sobre política e, de certa forma, isso é ruim para mim,
porque se você tomar a posição de um intelectual, isso te dá autoridade. Mas - infelizmente
– eu não quero fazer isso. Tenho a pretensão de que minha escrita deve ser
suficiente para ter sua própria autoridade”.
Ela diz que não se sente confortável em se tornar
"um porta-voz" das idéias de seus personagens. "Exige-se que os
escritores tenham uma visão do mundo, tomem posições. Mas eu não gostaria de
fazer isso, porque quero ser capaz de escrever personagens com visões
diferentes de vida e que eles sejam convincentes”.
Sua postura declaradamente apolítico torna
ainda mais bizarro o fato de que, em 2006, Reza escolheu ficar à sombra do
então candidato presidencial francês, Nicolas Sarkozy, no ano que antecedeu sua
eleição, em maio de 2007. O livro que ela escreveu sobre esta experiência -
L'aube, le soir ou la nuit (Amanhecer, Crepúsculo ou Noite) - descreveu Sarkozy
como um baixinho egoísta impulsionado por "uma busca infantil para a
aprovação". Em um capítulo, Reza descreve o futuro presidente pegando uma
cópia do Le Figaro "visivelmente agarrado" por um item na primeira
página. Não foi a notícia sobre o Irã ou a eleição francesa que tinha capturado
a atenção dele, mas um anúncio de um relógio de luxo. "Isso é um Rolex
agradável", disse Sarkozy.
O que Reza fez do seu tempo no gabinete?
"Nada de especial", ela responde, com opacidade quase deliberada.
"O livro não foi de todo político. Foi uma observação de um homem, um
movimento ... Eu posso ter uma opinião sobre a maneira como ele governa o país,
mas não será mais interessante do que a de qualquer outra pessoa, de um cidadão
normal".
Não é surpresa que, em razão de suas
observações, ela não tem mais contato com o (então) presidente. "Eu não
tinha o desejo de criar um vínculo com ele. Quando o livro foi feito, era
evidente para mim que nunca poderíamos nos ver novamente. Nosso relacionamento
não foi amigável, foi cordato... Sempre tive meu notebook, porque para um
escritor, sendo visto como tendo uma relação confortável com o poder, é uma
coisa ruim. Se amanhã ele não for presidente, ficarei feliz em jantar com ele".
Tenho certeza de que Sarkozy ficará
aliviado ao ouvir isso.
Ainda assim, é de se imaginar que Reza, ela
mesma filha de imigrantes, deve ter pontos de vista interessantes sobre a
abordagem de Sarkozy para a integração cultural. Em abril do ano passado, o
presidente proibiu o uso da burca em locais públicos e mais tarde declarou que
acreditava que o multiculturalismo "falhou". De início, fiel à forma,
Reza se recusou a comentar sobre isso, mas quando eu a pressionei, ela
reconheceu que seus pais, apesar de estrangeiros, sempre a criaram com "a
idéia absoluta de que devemos amar a França" e insistiu que fala um
francês perfeito.
"Sinto tristeza real quando vejo
filhos de imigrantes, jovens de subúrbios que nasceram na França, mas que não
falam bem a língua. Eles estão escolhendo ficar à margem. Esta maneira de falar
em subúrbios é meio árabe, meio francês e eu não entendo isso. É uma maneira de
ficar marcado”.
"Não é sobre ter ou não sotaque - minha
mãe ainda confunde os pronomes 'le' e 'la' e é encantadora -.mas sobre pessoas
que nasceram na França, frequentam as escolas francesas. Meus pais sempre me
disseram que a única maneira de se integrar era falar a língua perfeitamente. É
uma delicadeza, uma forma de agradecer ao país que o recebe, se tornar um
veículo para sua linguagem".
E talvez seja este respeito confesso da
linguagem, essa alegria em suas nuances e capacidade de dissimulação, que dá
Reza seu ouvido para o diálogo. O que a torna ainda mais interessante que o seu
sucesso depende, em grande parte, por seus tradutores - dramaturgo Christopher
Hampton, que ganhou um Oscar em 1989 por sua adaptação de “Ligações Perigosas”,
traduziu a maioria das peças de Reza para o teatro britânico. Será que ela acha
difícil confiar nele?
"Ah, mas eu não confio nele totalmente!",
ela diz, brincando. "Não, eu o adoro, ele é um grande amigo, mas não confio
cegamente. Lembro-me da primeira vez que nos conhecemos, ele tinha traduzido ‘Art’
para o inglês e liguei para ele e disse: 'Eu recebi o seu primeiro rascunho.
Ele disse, 'O que você quer dizer, meu primeiro rascunho? É a peça. Ele é a
tradução, não é um rascunho". Eu disse, 'Sim, é. Há trabalho a ser feito".
"Até aquele momento, Christopher só
tinha traduzido pessoas mortas. Esta foi a primeira vez que ele tinha alguém
vivo, ao telefone com ele. Nós reformulamos e retrabalhamos e eu sei que eu estava
sendo chata, que ele estava dizendo para as pessoas ‘ela está me dando uma dor
de cabeça e quase não fala inglês!’. Há uma pausa, então ela acrescenta: “agora,
o meu inglês é muito melhor”.
Seus olhos brilham quando ela diz isso, mas
estão muito sérios. Existe um núcleo de aço debaixo de seu exterior vivaz; uma
determinação que desmente sua maneira fácil. Quando ela termina seu chá e me dá
um pequeno e preciso sorriso, parece que Reza, assim como seus personagens, tem
aspectos de si mesma que prefere permaneçam escondidos.
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