29 julho 2007

Atrito começa com escolha de elenco

Folha de S. Paulo, Ilustrada - 29 de julho de 2007

Atrito começa com escolha de elenco
Autor e diretor de núcleo costumam compartilhar seleção de atores, definição de cenografia e trilha sonora das novelas
Para Ricardo Waddington, que teve problemas com Carlos Lombardi em "Pé na Jaca", atritos fazem parte das relações humanas

COLUNISTA DA FOLHA
Muitas vezes as desavenças entre autores e diretores de núcleo já começam na escalação do elenco, tarefa que os dois costumam dividir, assim como a escolha do figurino, da cenografia e da trilha sonora. E se tornam mais graves quando o primeiro concebe a história de uma forma e o segundo a executa de outra.Carlos Lombardi e Ricardo Waddington começaram a se estranhar em "Pé na Jaca" antes mesmo de a novela estrear, com a escalação de Paulo Silvestrini como um dos diretores da trama. A escolha dos diretores é função do diretor de núcleo, mas Lombardi achava Silvestrini incompatível com seu estilo. Reclamou a Mario Lucio Vaz, diretor-geral artístico da Globo, que afastou Silvestrini.Waddington passou a alterar falas e cenas. Durante a novela, Lombardi foi parar duas vezes no hospital, com pressão alta, supostamente por causa dos estragos feitos em seu texto. Passou a chamar Waddington de "O Diabo Veste Diesel".""Pé na Jaca" foi uma novela em que me diverti muito escrevendo para um elenco de protagonistas muito bons. Há coisas na novela que não gostei, com certeza, mas isso é passado", limitou-se a responder Lombardi, ao ser questionado sobre os bastidores de "Pé na Jaca".Waddington preferiu não comentar as desavenças. "Acho absolutamente natural e normal que exista boa química entre autores e diretores. Mas há químicas que desandam no meio do processo. Faz parte das relações humanas", disse.Antes de Lombardi e Waddington e de Glória Perez e Jayme Monjardim (que romperam relações porque a autora idealizou para "América" uma heroína sofredora, porém forte, e viu no ar uma chorona), outros "casamentos" foram desfeitos.O próprio Lombardi teve problemas com Wolf Maya, em 2003, durante "Kubanacan". Lombardi atrasava a entrega de capítulos, o que afetava o ritmo de gravações. Maya acabou tirando férias no meio da novela. E depois foi tratar da implantação de "Senhora do Destino" (2004), de Aguinaldo Silva.Silva teve problemas com Daniel Filho e Ricardo Waddington em "Suave Veneno" (1999) e com Marcos Paulo em "Porto dos Milagres" (2001). Deu certo com Wolf Maya em "Senhora do Destino" e irá repetir a parceria na próxima novela das oito, "Duas Caras". Para ele, a relação ideal é "aquela em que ninguém perde tempo a medir centímetros e dizer "o meu é maior do que o seu'".Silvio de Abreu ("Belíssima"), que nunca teve atritos, abre o "segredo": "Nunca aceitei trabalhar com um diretor de núcleo que não me entendesse, que fosse extremamente vaidoso ou inseguro a ponto de querer parecer o dono da bola".Manoel Carlos, que no ano passado trocou Ricardo Waddington (diretor de suas quatro novelas anteriores) por Monjardim, diz que autor e diretor "têm que atuar em suas respectivas áreas, procurando não invadir o território do outro". "O diretor de núcleo tem poder dentro da área em que atua, mas o autor é a autoridade maior da novela. Ele é principal responsável pelo produto", diz.

Gilberto Braga e Dennis Carvalho formam par perfeito na emissora
COLUNISTA DA FOLHA

No ar atualmente com "Paraíso Tropical", Gilberto Braga e Dennis Carvalho são um exemplo de parceria entre autor e diretor dentro da Globo. Eles se "conheceram" em 1978, quando Carvalho foi um dos diretores de "Dancyn" Days". Estão "casados" desde 1984, ano em que Carvalho foi promovido a diretor-geral, em "Corpo a Corpo". Desde então, Braga só "traiu" Carvalho em uma novela ("Força do Desejo", 1999) e duas minisséries ("Anos Dourados", 1986, e "O Primo Basílio", 1988). A seguir, Braga fala sobre o sucesso dessa parceria:
FOLHA - Por que você e Dennis Carvalho funcionam?
GILBERTO BRAGA - Acho que por um número grande de razões. Somos parecidos, tentamos dar valor ao que merece, dar um peso justo a cada problema. Não somos competitivos. O sucesso do Dennis é meu e o meu sucesso é dele. Nunca, nesses quase 30 anos, nos perguntamos quem manda mais. Temos respeito e admiração um pelo outro.
FOLHA - Vocês nunca tiveram uma rusga?
BRAGA - Nem meia. Já tivemos divergência de opiniões. Em "Labirinto" [minissérie de 1998], por exemplo, eu pensei para um dos papéis-chave numa atriz que ele não queria. Na mesma hora, eu procurei outra atriz, nem argumentei que achava que a minha indicação estava certa. Aliás, continuo a achar que estava, mas a minha relação com o Dennis [Carvalho] era mais importante do que essa escalação.
FOLHA - Você já teve problemas com outros diretores?
BRAGA - Problemas sérios nunca tive. Mas tive algumas poucas frustrações, no início da carreira.
FOLHA - Qual é a relação ideal entre autor e diretor?
BRAGA - É a de respeito mútuo que eu tenho com o Dennis.

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