Sucesso. Afinal deu-se o encontro entre autores de televisão, pesquisadores e colaboradores organizado por mim, a pedido da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, durante o "Corredor Literário". O tema geral: "Os rumos da ficção televisiva", durante os dias 10 e 11 deste mês de outubro, no auditório do Instituto Cervantes.
Fomos brindados com a participação de Lauro César, Marcílio Moraes, Edmara Barbosa, Solange Castro Neves, Ronaldo Ciambroni, Patricia Moretzsohn, Jaqueline Vargas, Yoya Wursch, Dora Castellar, Paula Richard, Renata Dias Gomes, Rene Belmonte e também dos pesquisadores Claudia Mogadouro, Nilson Xavier e a professora titular daUSP Maria Immacollata.
Muitos foram conferir o encontro, e estou certo de que todos, sem exceção, sairam ganhando. Fomos presenteados com um panorama geral da teledramaturgia, um banho de inspiração e referências culturais. Para o escritor iniciante, nada melhor do que encontrar colegas em diferentes estágios, representativos de diferentes gerações.
Lauro César Muniz pertence a uma das primeiras gerações da teledramaturgia nacional. Sagaz, genial e um tanto quanto franco, comentou o quanto a escrita de hoje em dia está cada vez mais ligada a interesses comerciais. Falou da preocupação das emissoras em "vender" sempre "mais do mesmo", numa pressão que reflete nos autores como tolhimento de suas criatividades e experimentação. Muito se comentou sobre o "achatamento" das tramas, o fim de sua originalidade e da profundidade dos personagens - algo como maniqueísmo sendo vendido em atacado.
Marcílio Moraes, saído do grande sucesso de "Vidas Opostas", mostrou-se extremamente simpático ao público e completamente ciente de que, de alguma forma, soube fugir dessas amarras comerciais ao escrever para o horário das 22h. Conseguiu "experimentação" em sua última obra, coisa cada vez mais rara na televisão brasileira. Foi, no entanto, direto ao afirmar que um escritor não deve desejar ser "autor de novela", mas buscar seu desenvolvimento de forma geral, cultural, em todas as modalidades que propiciem a criação. Falou do mercado restrito, das dificuldades para se entrar, da exigência da combinação: talento, perseverança e sorte. E comentou que jamais existirá um autor, sem que antes se forme um bom leitor. Não basta assistir telenovelas, é preciso profundidade (ainda que depois, as obras televisivas não reflitam todo esse repertório).
Dora Castellar, literata e colaboradora de Lauro César também ressaltou a mesmíssima questão. Disse que hoje as novas mídias dão aos autores a possibilidade de mostrar seu talento. E que esse talento, quando real, nunca passa despercebido das grandes emissoras ou mesmo dos grandes autores, que tratam de cooptar esse colegas para a função de colaborador. Segundo ela, quem quer escrever deve escrever. Produzir, comunicar, contar suas histórias nos palcos, na Internet. A oportunidade virá.
No mesmo sentido, Rene Belmonte (Autor do longa "Se Eu fosse Você" e"Avassaladoras") falou da necessidade de se escrever, sempre, muito, a todo o tempo. Ter material à disposição. Ter peças de teatro, ter roteiros, seja de longa, de curta. Estar escrevendo por gosto, por prazer. Ressaltou que não há como se prever oportunidades, então melhor estar sempre preparado para mostrar seu trabalho a qualquer momento, e que nisto, pouco importa seu currículo formal. Um escritor é do tamanho de seu trabalho. O segredo é fazer suas oportunidades acontecerem.
Edmara Barbosa demonstrou paixão, clareza e lucidez na difícil tarefa de adaptar as obras do pai, Benedito Ruy Barbosa. Contou histórias, deu exemplos, mostrou as dificuldades da carreira e o quanto é preciso amar a arte da escrita para poder se submeter à pressão que realmente existe na condução de uma telenovela.
Solange Castro Neves, principal colaboradora dos saudosos Cassiano Gabus Mendes e Ivani Ribeiro, contou que o início de sua carreira se deu na ficção escrita. Após ter ganho um concurso realizado por uma editora, começou a escrever romances sob diversos pseudônimos (os da série "Julia", "Sabrina", "Bianca"). Graças a esse trabalho, estava preparada quando surgiu o convite para integrar a equipe de Cassiano Gabus Mendes. Já Ronaldo Ciambroni, que dividiu a mesa com ela e com Edmara Barbosa, relatou as fundações sólidas de sua carreira, baseada principalmente no teatro, onde se consagrou recordista de prêmios na órbita nacional e internacional. Depois do sucesso nos palcos, foi convidado para integrar o time de autores das Redes Manchete e, posteriomente, SBT.
As meninas Patricia Moretzsohn e Jaqueline Vargas demonstraram a alegria e o prazer em se fazer o que se gosta. Transpareceram, porém, que estão conscientes da maior responsabilidade de seu trabalho, vez que"Malhação 2008" agora está em suas mãos. Junto de Yoya Wursch ea pesquisadora Claudia Mogadouro, muito se comentou sobre a recepção das tramas pelos adolescentes, sobre a dificuldade em aliar "transgressão" com o horário vespertino e a alternativa do uso do realismo fantástico, como forma de criar tramas interessantes ao gosto adolescente.
Paula Richard e Renatinha Dias Gomes contaram a todos sua experiência em colaboração, o dia-a-dia de seu trabalho, as diferentes formas dese criar em conjunto - seja em reuniões presentes ou virtuais com os"cabeça de novela". Ficou claro que estão, cada vez mais, apaixonadas pela narrativa audiovisual e cientes de que não há salto criativo - é necessário aprender, aprender constantemente a melhor forma de se contar uma história.
E O MAIS INTERESSANTE: a platéia presente ganhou dos autorescomentários irreproduzíveis. Foram feitos comentários em "off", sem qualquer preocupação com a presença de algum jornalista. Verdadeiro bate-papo entre atuais e futuros autores, com troca de confidências e impressões sobre nomes da dramaturgia nacional etambém sobre a postura de grandes executivos das emissoras.
Enfim,todos ganharam a descrição clara dos panos de fundo da política televisiva interna. O que realmente rola nos bastidores da criação de uma telenovela. Estou certo de que nesse encontro, laços antigos se fortaleceram e novos laços se formaram, bem como a certeza do gosto pela escrita e pela comunicação por boa parte dos presentes. A intenção foi atingida - um evento com gosto de aprendizado, troca e que servirá de inspiração na carreira de todos nós.
Quanto a um novo encontro destes, vamos aguardar as novidades. Logo, logo, muita coisa bacana irá acontecer!
Grande abraço, Leonardo de Moraes
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