08 fevereiro 2013

Conheça o dramaturgo Franz Kepler, autor de "Camille e Rodin"

Fonte: Letras em Cena - Entrevista de 2011.

Franz Keppler: O Teatro, Para Mim, É Imprescindível!

Ultimamente ele vive entre a criação e a produção teatral. De suas peças, claro! Franz Klepper está feliz da vida de voltar ao teatro com toda a dedicação possível. Para ele, “a recompensa é infinitamente maior do que os percalços do caminho (...)”, no fazer teatral.


Inquieto e observador por natureza, este jornalista trabalhou na área cultural no início da carreira e depois se envolveu com o setor empresarial, mas jamais abandonou o sonho de viver o teatro, “pois tinha a certeza de que um dia estaria de volta, o que está acontecendo agora”. Entre a produção de sua terceira peça, ele nos conta que se descobriu autor quando leu uma crítica de Alberto Guzik, no Jornal da Tarde, cuja manchete dizia: “Um texto forte estragado pela direção”. Detalhe: o diretor era ele. “Nesse dia, concluí: meu caminho é mesmo escrever”.

Conheça um pouco mais sobre este novo dramaturgo que está trilhando seu caminho, entre a alegria da criação, a ansiedade da produção e a consciência de que precisa do teatro para viver melhor.

Franz, você é jornalista da área cultural, está sempre em contato com a classe teatral.
Franz Keppler: Não me considero um jornalista da área cultural especificamente. Meu trabalho em jornalismo esteve ligado à cultura logo que me formei, há quase 20 anos. Na época, escrevia sobre a cena cultural paulista para um jornal de arte e cultura do Rio de Janeiro, que não existe mais. Ainda neste período, escrevi artigos para algumas revistas ao mesmo tempo em que fazia divulgação das peças da Cia. SP-Brasil, formada por atores como Leopoldo Pacheco, Sofia Papo, Cida Almeida etc. Na verdade, vivi intensamente o teatro de 1978 a 89, depois, por caminhos que a vida toma, foquei meu trabalho na comunicação empresarial até o início de 2006, mas sempre acompanhando a produção teatral, pois tinha a certeza de que um dia estaria de volta, o que está acontecendo agora.

Que avaliação faz da atual produção teatral de São Paulo?
Franz: Hoje temos uma produção fértil, diversificada, capaz de atingir todos os tipos de espectadores. Vamos da tragédia ao besteirol como num piscar de olhos e acredito que é assim que tem que ser, desde que seja bem feito, bem escrito, bem encenado.

O que destacaria em nossa cena teatral que poderia ser a nossa identidade?
Franz: Na minha opinião, todas as produções que conseguirem unir humor, poesia e a crítica social com a mesma intensidade.

Como se descobriu autor?
Franz: Foi um processo de descoberta que começou, creio eu, quando criança. Ainda pequeno, inventava histórias que eu e meus primos encenávamos para a família. Depois, este processo continuou na escola, na quinta série. Minha professora de português, Maria Helena Muniz, irmã do escritor Lauro César Muniz, incentivava o teatro de uma maneira apaixonante. Ela organizava concursos, festivais na escola e, um dia, recebi do próprio Lauro um prêmio de melhor ator. Tinha 11 anos e o vi como uma figura mágica. Naquele momento, pensei: “um dia, quero escrever como ele”. Claro que entre o pensamento e a concretização demandou-se um grande tempo, mas tenho certeza de que aquele dia foi decisivo para mim.

Depois, aos 14 anos, entrei para um grupo de teatro da Prefeitura. Naquela época, algumas bibliotecas municipais tinham grupos coordenados por atores como Hilton Have e Marcos Caruso. Fiquei lá por cinco anos, depois participei de montagens amadoras em outros grupos, o que me proporcionou um contato maior com a dramaturgia, pois líamos textos de vários autores e, quando me profissionalizei como ator, escrevi minha primeira peça, “Egos Com Plexos”, encenada no TBC. Recordo-me de uma crítica do Alberto Guzik no Jornal da Tarde, cuja manchete dizia: “Um texto forte estragado pela direção”. Detalhe: o diretor era eu. Nesse dia, concluí: meu caminho é mesmo escrever.


Sempre desejou escrever para o teatro ou aconteceu mais em conseqüência do teu trabalho como jornalista interessado na produção cultural?
Franz: Sempre desejei escrever para o teatro, independentemente do jornalismo. Isso ficou muito claro para mim em 2005. Estava afastado do teatro e a comunicação não era mais suficiente para preencher uma sensação de vazio profissional que me dominava. Foi quando comecei a escrever o “Anjo da Guarda”, e o vazio deu lugar a sentimentos que há muito não sentia. O teatro, para mim, é imprescindível.

Quais são seus autores preferidos?
Franz: É muito difícil responder isso. São tantos e tão bons autores de épocas distintas e das origens mais diversas. Mas ressalto Maria Adelaide Amaral, Nelson Rodrigues, Alcides Nogueira e Caio Fernando Abreu.

O que você acha essencial para um dramaturgo?
Franz: A curiosidade. Aquela que em uma viagem, por exemplo, faz com que você vá além dos pontos turísticos de alguma cidade, mas que te faça querer entender quem são e como vivem as pessoas daquele lugar. Sem esta curiosidade e sem a paixão pelo ser humano, acho que é impossível escrever. Mas, acima de tudo, e aí não falo só para os dramaturgos, mas para os artistas em geral, não deixar que seu ego seja maior do que a própria obra.

Você tem acompanhado muitas mudanças nas produções teatrais, tais como a Lei Rouanet, Lei Mendonça, Programa Municipal de Fomento para a cidade de São Paulo e agora o PAC estadual. Qual sua opinião e avaliação sobre estas políticas?
Franz: Hoje li na Folha de S. Paulo que a Oktoberfest foi autorizada a captar mais de um milhão de reais com os benefícios da Lei Rouanet. É desesperador saber disso. E pior é ter a certeza de que a festa do chope vai conseguir este dinheiro, enquanto que tantos projetos, ainda que tenham o benefício da lei, não conseguem levantar recursos. Por outro lado, temos o Programa de fomento que beneficia trabalhos de grupo, de pesquisam, que são fundamentais. E no meio de tudo isso, contamos com profissionais apaixonados, que continuam resistindo à escassez financeira.

Se fosse convidado a dar uma idéia sobre lei de fomento ou de renúncia fiscal para a produção teatral, o que diria?
Franz: Um pensamento utópico: empresas que tenham um faturamento acima de determinado valor anual, a partir de hoje, fossem obrigadas a investir em cultura e que a porcentagem investida, que seria abatida dos impostos, fosse dividida nos mais diversos projetos e não apenas naqueles que contam com grandes nomes da mídia.

O que mais lhe agrada no “fazer teatral”?
Franz: A união de idéias e pessoas que irão transformar de alguma maneira o espectador. Para mim, esse é o grande sentido do teatro.

Que conselho daria a quem está começando a trilhar os caminhos da dramaturgia?
Franz: Não gosto muito de dar conselhos. Prefiro citar o que eu faço: leio muito, vejo muito teatro, cinema, TV, fico atento a tudo o que acontece ao meu redor... Sou observador demais. Costumo dizer que em qualquer lugar que se vá, você há de encontrar um personagem. Para mim, também é importante participar de ciclos de leituras, ouvir outros textos, pedir opiniões sobre os meus textos, tudo isso me acrescenta. O mais difícil mesmo é controlar a ansiedade, aquela que começa quando você termina um texto e só termina quando você o vê encenado. Isso sim é difícil.

Você disse que está deixando um pouco o jornalismo de fora e se dedicando mais ao teatro, como autor. Gostaria que você comentasse um pouco sobre esta experiência, o caminho para colocar um espetáculo em cena, a rotina de escrever, pensar em produção, criar as dificuldades e as recompensas também, claro.
Franz: Não tenho uma rotina para isso. Mas é engraçada a maneira como acontece comigo: as idéias vão chegando devagarinho, os personagens vão aparecendo e de repente eles começam a falar comigo e aí eu sei que é hora de sentar e escrever. Para mim, esse é o momento que me dá mais prazer. A produção ainda me angustia um pouco. E produzir algo que você escreveu acho mais angustiante ainda. Se me perguntar se eu prefiro somente escrever, minha resposta certamente é sim. Mas no começo tem que correr atrás. No momento estou envolvido com a produção da minha terceira peça, “Nunca Ninguém Me Disse eu Te Amo”, que tem estréia prevista para 18 de agosto no Teatro Augusta. São tantas as coisas e ao mesmo tempo tantas as idéias que vão surgindo para outros textos que tem horas que você quer parar e só escrever. Pra mim, esta é a maior dificuldade. Mas a recompensa é infinitamente maior do que os percalços do caminho, principalmente quando a equipe vai tomando contato com seu texto, se apaixonando por ele e descobrindo tudo aquilo que você quis dizer. É essa união que me referi anteriormente que faz com que tudo valha a pena. 

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