13 agosto 2008

2ª palestra do "Workshop of Screenwriting" de Syd Field

Relatório da 2ª palestra de Syd Field no “Workshop of Screenwriting”, na sede do Alumni em São Paulo – 12/08/08 (terça-feira)

Syd Field trabalhou os conceitos que apresenta em seus livros, sobre a divisão de um filme em três atos – “beggining, middle, end”, respectivamente, atos I, II e III.

A aula de hoje, após a explanação inicial sobre os “pontos-chaves” de estruturação de uma narrativa, será sobre o primeiro ato “Setting up your character” (apresentação dos personagens).


1º ATO
“Setting up your characters”
No primeiro ato, o roteirista deve procurar formas para apresentar seus personagens.

Quem é o personagem? O que ele quer? Do que ele precisa?
Quais os “entornos” ou contexto no qual ele está imerso?
Quais os obstáculos que separam esse personagem do objeto do seu desejo?

Como dito na palestra anterior, isso está ficando cada vez mais acelerado e pautado em imagens – “Juno” leva apenas três minutos para apresentar a protagonista, o tom da narrativa e a temática/conflito básico do filme.


PLOT POINTS

Syd Field entende que os filmes normalmente apresentam dois “plot points” principais. O “PLOT POINT 1” teria a função de encerrar o Ato 1 e iniciar o Ato 2. O “PLOT POINT 2” teria a função de encerrar o Ato 2 e iniciar o Ato 3.

Por “PLOT POINT” – ou ponto-de-virada, “turning point” – devemos entender o acontecimento que faz a trama se movimentar em nova direção, que quebra a causalidade natural da situação pré-estabelecida, garantindo a evolução da história.

Nas palavras do próprio Syd Field:

“Plot point is any incident, episode or event that ‘hooks’ into the action and ‘spins’ it around into another direction. In this case Act II or Act III”.

Syd Field deixou claro que esses “plot points” não precisam ser bombásticos, que não devemos confundir “virada” com “caos”,“ação vertiginosa”. Pode ser um diálogo que traz uma nova idéia ao protagonista, pode ser a chegada de alguém, a entrega de uma carta etc. Genericamente, trata-se de algo que introduz elemento que quebra e redireciona os acontecimentos.

ACTS – SÃO TRÊS


ACT 1 – BEGGINING – SET-UP – 1 a 30 minutos
ACT 2 – MIDDLE – CONFRONTATION – 30 a 90 minutos
ACT 3 – END – RESOLUTION – 90 a 120 minutos


MIDDLE POINT
Um ponto que divide o Act II (que duraria uma hora) em duas partes de meia hora: first half, second half.

A primeira metade: dos 30 a 60 minutos de filme - a segunda metade: dos 60 a 90 minutos de filme

Funções do “Middle Point”:
- A link in the chain of dramatic action;
- Breaks act II into two parts – first half and second half;
- shows a story progression.

Com base nesse esquema, Field analisou o filme “Little Miss Sunshine”, indicando o que considera ser os seus “plot points”.

ANALISANDO “Little Miss Sunshine”

ACT Isetting up the characters (apresentando os personagens e os conflitos pré-existentes) – é a seqüência inicial do filme, quando os personagens são apresentados um a um. Primeiro Oliver, que vê TV e imita a Miss ganhadora, depois o Pai numa palestra de auto-ajuda, depois o irmão fazendo ginástica, depois o avô cheirando cocaína, depois a mãe fumando no carro até chegar e encontrar o tio, que havia acabado de se suicidar.
Obs.: Esse filme também toma pouco mais de três minutos para apresentar todos os personagens!!!

PLOT POINT 1 – seqüência da decisão de ir ao concurso de beleza. Pega o fim da conversa na mesa da sala de jantar, a secretária eletrônica anunciando o fato, a discussão dos pais sobre como irão viajar, o pai perguntando para a filha se ela é uma “winner or loser” e termina com a frase “we go to Califórnia”.

ACT II – a viagem de Kombi da família, mostrando seus problemas internos e razões de tanta desagregação

MIDDLE POINT – seqüência deles dormindo, chega Oliver e diz que o avô não quer acordar... cenas do hospital e notícia da morte do avô... decisão de levar o corpo e família unida nesse ato insano (1ª vez que a família age como uma unidade), até colocarem o corpo dentro da Kombi e saírem do estacionamento do hospital.

PLOT POINT 2 – quando eles chegam na Califórnia. Começa com eles na Kombi, tentando achar as entradas corretar para o Hotel, mas perdendo a direção. Cena de ação que deixa clara a importância daquele momento para a família, que está completamente desequilibrada – porém unida em torno do objetivo comum: chegar na hora do concurso, custe o que custar. Termina com a abertura da porta da Kombi, que cai no chão, e o tio suicida entrando no Hotel correndo.

ACT III – seqüências no Concurso de Beleza até o final.

Segundo Field, todos os ACTS têm unidade dramática, praticamente independente. Você pode perceber que eles apresentam começo, meio e fim de uma seqüência narrativa.

Field deixa claro que para o filme “funcionar”, as amarras estruturais devem ser imperceptíveis. “Good structures should be invisible. And attention! Good structure is not the final goal, perfection does not make great screenplays!

TWO INCIDENTS

1) The inciting incident
Is the very first scene or sequence in the film. The purpose – to set the story in motion.
Action = reaction

Para aclarar o que seria um incidente inicial, Field passa o início do filme “Crimson Tide”, com Denzel Washington.
A seqüência que assistimos é justamente a inicial, com reportagem da CNN falando de situação pré-guerra, enquanto há uma festa de aniversário da filha do personagem de Denzel. A seqüência vai até os telefones tocando na casa de Denzel, que está sendo convocado junto de outro amigo militar, para que façam parte das tropas que vão cuidar do incidente entre países.
Esse acontecimento move a trama, tirando-o do equilíbrio pré-estabelecido.
Para Field, esse filme tem um quê de “professoral”, já que traz bem delimitados todos os “points” e “acts”.

Obs.: O SEGUNDO INCIDENTE SERÁ ANALISADO NA PRÓXIMA PALESTRA


THE CRAFT OF SCREENWRITING

“Screenwriting is like building furniture. It’s a craft in which the pieces must fit, and it must function… The forms in screenwriting are for more oriented and pre-prescribed.
People talk about the three-act structure, that this is how you write a movie. Mastering the elements and making them natural and invisible is the trick to writing screenplays.
You have to learn it. Then you have do unlearn it. Or, you have to learn it and disguise it so the audience never sees the machinery of the screenwriting itself”.

Jose Rivera
“The Motorcycle Diaries”


SETTING UP CHARACTER & STORY


What’s the best way to set up your story and introduce your main character?
Through an action or through character?
Have you established the dramatic premise – what the story is about?
Have you established who the story is about – who the main character is?
Do you know what the dramatic situation is? (the circumstances surrounding the action)
Have you designed the opening scene or sequence?

Estas são questões que devem estar respondidas antes mesmo de se começar a escrever o roteiro propriamente.


Formas de se começar um filme:

- the tradicional way =
starts at the beginning: shows the main character growing up.
Exemplo: “The Departed” (Os infiltrados), de Scorcese, com Matt Damon, Jack Nicholson, Leonardo Di Caprio.
Assistimos a seqüência de introdução, desde os créditos. Uma frase de Nicholson é bem emblemática e vem para deixar claro o caráter do personagem “Money? You don’t have do earn it! You take it!”. Vai até a formatura de Damon, ele já crescido entrando no carro de Nicholson e ganhando um presente, até a fala de Nicholson: “no more pencils, no more books”.

AS DEMAIS FORMAS VÃO SER APRESENTADAS NA PRÓXIMA PALESTRA


THE INTENTION FOR THIS SEMINAR

“To expand, enlarge and broader your knowledge, comprehension and tecnique of the screenplay and the art and craft of screenwriting”.


Perguntas feitas a Syd Field (as mais relevantes):


Sobre Joseph Campbell e Christopher Vogler:
Field diz que ambos também trabalham com conceitos estruturais da narrativa ocidental.
Enquanto Campbell busca raízes no estudo mitológico das sociedades humanas (ocidentais e orientais), mostrando os pontos de encontro arquetípicos, Vogler buscou fazer o mesmo já aplicando esses arquétipos na estruturação de uma narrativa.
Field aproveita para dizer que ambos também não criaram suas regras, mas que buscaram “verificar” essas estruturas nas histórias tradicionalmente contadas.

Sobre a obrigatoriedade (?) dos finais felizes:
Um aluno perguntou se ele acreditava que finais felizes seriam a regra, se tê-los num roteiro garantiria mais possibilidade de venda ao mercado.
Syd Field disse que não, que não devemos confundir as coisas. Uma coisa é escrever um filme que “levante a moral” do espectador, outra é escrever um filme que o “deprima”. Um filme que “levante” (lift up) pode SIM ter final infeliz, como é o exemplo de “Little Miss Sunshine” – já que há uma morte em família, a menina é alvo de chacotas durante sua apresentação, mas o filme mostra a importância da união familiar, embora os próprios personagens não pareçam ter consciência do quanto ganharam em sua jornada.
Field também diz que “Departed” tem um final extremamente infeliz, mas que não deixa de “levantar” o espectador, ao propor questionamentos positivos.
Finais felizes, então, não são uma regra. Absolutamente não. Situações tristes e emocionalmente pesadas podem geral ótimos finais, com mensagens subliminares positivas.
Agora finais realmente depressivos, cujo subtexto seja a total desesperança, esses sim devem ser repensados e evitados. A arte da narrativa deve sempre buscar um propósito positivo.

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