24 janeiro 2013

Entrevista com o escritor Sidney Sheldon, publicada em 2003

Fonte: Café com Letras

Entrevista de 2003, dada à Tribuna.



Ele vendeu mais de 350 milhões de livros. Ganhou um Oscar, um Tony, tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e criou uma das séries de tevê mais conhecidas do mundo (Jeannie é um Gênio): Sidney Sheldon, aos 86 anos, está mais na ativa do que nunca. Escreve dois romances (um deles uma autobiografia). Nesta entrevista, ele fala de sua carreira no cinema, na tevê e na literatura e conta histórias de seus mais de 70 anos no showbiz.



Como o sr. começou sua carreira e o que o levou a isso?
Vendi meu primeiro poema quando tinha 10 anos. Eu sempre soube que queria ser um escritor, acho que o talento vem de Deus e todos os que possuem algum talento, seja na literatura, na pintura ou na música, não deveriam levar o crédito por isso, mas sim agradecer por esse dom de Deus.

Quais de seus romances o sr. considera os melhores?
São três os que tenho mais carinho: O Outro Lado da Meia Noite, O Mestre do Jogo e Se Houver Amanhã.

Qual é, na sua opinião, a razão para seus livros venderem tanto?
É simples: acho que meus livros vendem bastante porque meus personagens parecem pessoas reais. Eu penso em mim mesmo ao escrever, no que eu gosto e no que acho que julgo ser o mais natural possível e acho que, por consequência, os leitores sentem a mesma familiaridade.

Como vive o homem Sidney Sheldon?
Eu e minha esposa Alexandra nos dividimos entre nossas casas em Los Angeles e Palm Springs, na Flórida. Recentemente, vendemos uma casa que tínhamos em Londres, porque não tínhamos muito tempo para ir lá. Compramos essa casa, um bonito duplex, de Andrew Lloyd Weber. Nós gostamos muito de viajar, já visitamos mais de 90 países.

Qual é seu ritmo de trabalho?
Começo, normalmente, às 9 da manhã e trabalho até as 18 horas. Quando tenho insônia (o que é muito comum), vou para o escritório e passo muitas horas da madrugada escrevendo, também. Trabalho sete dias por semana.

Sem descanso?
Mesmo encarando com toda seriedade, não vejo o que faço como trabalho, no sentido ruim da palavra. Faço o que gosto e porque gosto.

E seus gostos pessoais em literatura, música e cinema, quais são?
A lista dos meus autores favoritos inclui nomes como Thomas Wolfe, Sinclair Lewis, Booth Tarkington e George Bernard Shaw. Em relação a música e cinema, prefiro os artistas – e as obras – com os quais cresci: os filmes dos anos 40 e 50 e músicos como Jerome Kern, Cole Porter, George Gershwin e Irving Berlin.

Não faz muito tempo que o sr. escreve livros para crianças. Como surgiu essa idéia e quais são as diferenças de estilo entre o píblico adulto e o infantil?
Não vejo diferenças fundamentais. O básico, tanto em relação às crianças quanto aos adultos, é que a história deve ser excitante e os personagens interessantes o suficiente para prender a atenção. Escrevi meu primeiro livro infantil porque meu editor no Japão achava que as minhas histórias eram tão envolventes que as crianças gostariam de lê-las.

Escrever é uma questão de inspiração ou estudar ajuda?
Ah, 100% de inspiração, a transpiração é consequência. Não há possibilidade de que alguém sem idéias consiga produzir algo de qualidade.

Seu primeiro trabalho foi uma peça de teatro, quando o sr. tinha 12 anos. Qual era o tema desta peça e como ela foi feita?
Minha professora de Inglês leu essa peça quando eu tinha 12 anos, mas ela foi escrita um pouco antes. Ela gostou muito e me disse que gostaria de encená-la. Eu, claro, fiquei muito entusiasmado. Acho que ela gostou muito mesmo, porque convidou todos os alunos da escola para assistir, no auditório, a encenação. Eu fui o produtor, o diretor e, claro, escalei a mim mesmo para o papel principal. Era uma história de detetive. Quando chegou minha vez de entrar no palco, entrei em pânico e comecei a rir sem parar. A professora me chamou em um canto e tentou me acalmar, em frente àquele auditório enorme, mas não conseguiu. A peça nunca foi encenada.

E a televisão, como apareceu?
Comecei a escrever para televisão por acaso. Meu agente me pediu para criar um seriado de tevê para o ator Patty Duke, que acabara de ganhar um Oscar pelo filme The Miracle Worker. Criei The Patty Duke Show e, em seguida, Jeannie é um Gênio. Escrevi os episódios das duas séries ao mesmo tempo, por muito tempo.

Como foi trabalhar em Jeannie é um Gênio, um dos sitcoms (Situation Comedy, seriados cômicos) mais conhecidos da tevê em todo o mundo? Produzir Jeannie é um Gênio foi uma experiência maravilhosa. Eu tinha um elenco excepcional e tive o mérito de contratar os melhores diretores disponíveis.
Os primeiros episódios da série foram ao ar em preto e branco, mas na época a tevê a cores já existia. Por que essa opção?
Não foi uma opção, até hoje não entendi direito como isso aconteceu. No ano em que Jeannie foi ao ar, todas as estações de tevê já tinham migrado para o sistema em cores. Naquele ano, apenas dois seriados foram produzidos em preto e branco. Um era um drama de guerra e o outro, Jeannie. Perguntei ao estúdio o porquê disso e recebi, como resposta, o argumento de que produzir em cores era muito caro, custaria alguns milhares de dólares a mais por ano. Fiquei tão atônito com essa resposta que até me coloquei à disposição para pagar, do meu bolso, essa diferença. Os executivos de estúdio me aconselharam a não me preocupar, que provavelmente não haveria uma segunda temporada. Bem, o resto da história todo mundo sabe: Jeannie foi ao ar por cinco temporadas e hoje, 40 anos depois de sua estréia, ainda é sucesso no mundo inteiro, tendo suas reprises exibidas em inúmeros países, inclusive no Brasil.

Como o sr. chegou a Hollywood?
Comecei escrevendo filmes, na verdade. Cheguei a Hollywood com 17 anos. Havia oito grandes estúdios, na época, e cheguei aos portões de cada um deles e me apresentei aos guardas: “Olá, sou Sidney Sheldon e quero ser escritor”. E, como sempre acontece, não conseguia falar com ninguém. Foi durante a depressão, saí de Chicago para Hollywood e minha mãe havia me dado três semanas para arrumar um emprego ou voltar pra casa. Então, ouvi falar em uma coisa engraçada: leitores que faziam sinopses reduzidas de livros, para produtores de cinema ocupados. Fiz uma, de Mice and Man, e mandei para os estúdios. Três dias depois, estava trabalhando na Universal, ganhando US$ 17 por semana, fazendo o mesmo trabalho de ler e transformar livros em sinopses. Além disso, aproveitei para escrever meus próprios trabalhos. Os quatro primeiros foram deixados de lado, o quinto foi vendido e então me tornei roteirista, aos 18 anos.

No cinema, o sr. chegou a trabalhar com a dupla Jerry Lewis e Dean Martin antes deles se tornarem famosos. É de conhecimento público que eles não se davam nada bem fora das telas. Como foi essa experiência? Foi muito interessante trabalhar com Dean Martin e Jerry Lewis. Mesmo sendo conhecida sua antipatia mútua, ambos se comportavam muito bem no set. É conhecido de todos também que Jerry era muito controlador e Dean, um boa praça. No primeiro dia de filmagem de You´re Never Too Young, nós tínhamos uma leitura do script com o diretor, o elenco e eu. Quando terminamos, o diretor disse: “Alguma pergunta”? Dean Martin levantou-se e disse: “Não, tudo está muito bom, tenho um jogo de golfe marcado e tenho que ir”. E foi. Jerry Lewis, ao contrário, disse que tinha algumas perguntas e, pela hora seguinte, ficamos lá, discutindo todos os aspectos: ângulos de câmera, iluminação, a direção e o roteiro.

Por que sua carreira de diretor não decolou? Seria uma opção pela literatura?
Minha carreira de diretor não decolou porque eu não era muito bom, mesmo. Acredito que devemos investir nosso tempo naquilo que somos realmente bons, porque assim, as chances de sucesso são muito maiores. Mas é claro que a minha preferência são os livros.

Mesmo em relação ao teatro? O sr., que tem experiência no teatro, televisão e cinema e literatura, prefere o quê?
Escrever um livro é uma experiência bem mais livre. E mais pessoal, também. Quando escrevo um roteiro para cinema, tenho centenas de colaboradores. Em um livro, a obra é totalmente minha. Há um senso maior de liberdade, porque você cria os personagens e faz o que quiser com eles. Tem o poder de decidir quem vive e quem morre. Acho esse tipo de processo criativo extremamente estimulante.

O sr. recebeu os dois prêmios mais importantes do cinema e do teatro, o Tony e o Oscar. Tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Vendeu mais de 300 milhões de livros em 181 países, traduzidos para 51 idiomas. Os estúdios usam seu nome para promover um filme, como sinônimo de qualidade. A que atribui esse enorme sucesso?
Acho que meu sucesso tem uma explicação: escrevo sobre emoções, um tema de interesse universal. Ainda tenho a impressão de que tudo isso é um sonho. Quando The Naked Face, meu primeiro livro, foi publicado, achei que iria bater um recorde da indústria: seria a primeira vez que um livro não venderia nenhuma cópia. Para evitar isso, fui até a livraria e comprei um exemplar. Desde esse dia, sempre que um novo livro meu é colocado nas livrarias, visito uma e compro uma cópia.

Normalmente, seus personagens principais são mulheres, sempre muito fortes e que lutam contra tudo e todos em nome de seus objetivos. Essa é realmente sua visão sobre as mulheres?
Odeio aquele clichê da ‘loira burra’, que diz que se a mulher é bonita, deve ser pouco inteligente. Por isso escrevo livros em que a personagem é, além de bela, boa em tudo o que faz. Minha mãe era uma mulher assim. Minha primeira esposa, Jorja, que morreu, era assim, tanto quanto minha esposa Alexandra.

Como estão seus dois próximos trabalhos, a autobiografia The Other Side of Me e o romance Are You Afraid of The Dark?
Escrevi uma primeira versão da minha biografia e pretendo recomeçar esse trabalho assim que terminar Are You Afraid of The Dark.

·         Vida e carreira
·         1917 – Nasce no dia 11 de fevereiro, em Chicago.
·         1934 – Chega a Hollywood, onde se torna roteirista.
·         1941 – Ele se alista na força aérea americana e combate na Segunda Guerra Mundial.
·         1942 – Três musicais escritos por Sheldon dominam a Broadway.
·         1948 – Ganha um Oscar pelo roteiro de The Bachelor and The Bobby Soxer.
·         1959 – Ganha um Tony como co-autor do musical Redhead.
·         1964 – Cria, escreve e produz Jeannie é Um Gênio. Durante os cinco anos da série, ele escreveu 78 roteiros de episódios.
·         1969 – Escreve o primeiro livro, The Naked Face.
·         1975 – Seu segundo livro, O Outro Lado da Meia-Noite, alcança o primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times.
·         1988 – O livro As Areias do Tempo alcança o primeiro lugar da lista de best-sellers do New York Times antes mesmo de ser lançado.
·         1997 – Sheldon ganha destaque no livro Guiness dos recordes, como o autor mais traduzido no mundo.
·         2007 – Falece em 30 de janeiro em Rancho Mirage 


Entrevista em INGLÊS, sem legendas.
Nesta entrevista de 5 partes, o escritor e produtor Sidney Sheldon  (1917 - 2007) lembra de seus anos iniciais em Hollywood como roteirista de filmes, que lhe proporcionaram um Oscar por "The Bachelor and the Bobby Soxer." Sheldon discute também a criação de The Patty Duke Show. Relembra como, durante esse trabalho, foi abordado pelo Screen Gems para produzir uma sitcom -- Jennie é um gênio. Depois, conta como criou Nancy, uma sitcom curta datada de 1970, e também "Casal 20" (Hart to Hart - episódio piloto) que foi produzido por Aaron Spelling. O autor também conta sua mudança de roteirista de televisão para escritor de romances, e compartilha seu incrível feito de ter dezesseis livros como best-seller, muitos dos quais foram transformados em filmes de sucesso. 

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