23 janeiro 2013

Produtoras prevêem falta de roteiristas no mercado

Exigência de conteúdo local em horário nobre da TV paga aquece setor, que já se queixa da carência de bons profissionais

 
A nova lei da TV paga, que obriga canais a exibirem conteúdo nacional em horário nobre, faz produtoras independentes esperarem um ano de euforia para o setor em 2013. Mas, num regime progressivo que até 2014 estabelece a exibição de 3 horas e 30 minutos de conteúdo nacional por semana, a falta de mão de obra qualificada também pode aparecer como entrave.
 
Destino São Paulo, feito pela produtora O2 para o canal HBO, mostra vida de imigrantes na cidade
 
“Encabeçando a lista (de profissionais em falta), teremos roteiristas”, acredita Andréia Barata Ribeiro, sócia da O2, de Fernando Meirelles. “Em segundo, um produtor experiente que saiba o que fazer com um projeto de R$ 10 milhões nas mãos. Em seguida, profissionais de fotografia e direção de arte”, afirma.
Responsável por séries do canal HBO com “Filhos do Carnaval” e, mais recentemente, “Destino São Paulo”, a produtora projeta rodar de cinco a oito séries no ano. “Era um setor (as séries) que não existia e só uma ou outra produtora faziam. Com a garantia de absorção deste conteúdo, quem estiver preparado vai crescer mais”, diz.
 
“Tem espaço para todo tipo de conteúdo e vai faltar produtora”, diz José Henrique Caldas, da Dogs Can Fly, que atende Discovery Networks e os grupos FOX, Viacom (VH1, Nickelodeon, Comedy Central) e Turner (Cartoon Network, CNN, Glitz, TNT).

Para dele, a formação de mão de obra não é simples e pode ser um gargalo. “Recém-formados saem com um perfil muito júnior das faculdades e, para se desenvolver, precisam estar dentro de produtoras”, afirma.

Para o presidente da ABPITV (Associação Brasileira de Produtores Independentes de TV), a TV paga passa por uma grande transformação. Num setor que, segundo a Anatel, até novembro crescia 28,3% na relação anual, os canais internacionais perceberam que o conteúdo nacional ajuda na fidelização do telespectador, num plano semelhante ao adotado pela líder de audiência, Globo, na TV aberta.

“A classe C exige identificação e precisa se reconhecer na tela. É essa coisa também da Globo se refletir na classe popular. E uma estratégia de marketing. Não é por causa de uma obrigatoriedade: estou fazendo isso porque é bom para mim e para o meu canal”, explica.

Publicidade x Conteúdo

Zico durante as filmagens do documentário oficial sobre o centenário do clássico FlaxFlu
 
A movimentação em torno da nova lei também mexe com a dinâmica dentro das próprias produtoras. Vencedora em 2012 do principal prêmio do Festival Brasileiro de Publicidade, a Sentimental criou a Sentimental eTAL há cerca de um ano e atualmente negocia com canais de séries e documentários.
 
A empresa se vê diante de uma nova dinâmica em relação ao material publicitário, considerado de resultado mais rápido. “Nossa proposta é ter relação de longo prazo com o canal e com o conteúdo. No Brasil, há uma escassez de séries que criem ídolos e licenciamentos e esperamos sedimentar isso ao longo de 2013 e 2014”, afirma Rodrigo Terra, sócio-diretor da eTAL.

“A partir dos filmes do “Centenário do FlaxFlu” e do “Surfar é Coisa de Rico”, da história de Rico de Souza, a gente captou mais material do que precisava para fazer do longa uma série”, explica.

Mario Peixoto, produtor executivo da Delicatessen Filmes, que assina o reality show Breakout Brasil para o canal Sony Spin, considera produção de conteúdo um “caminho natural para quem quer se expandir”.

Até por conta por conta do surto recente trazido pela nova lei, 90% das receitas ainda estão atreladas aos anúncios, mas ele vê um equilíbrio maior no horizonte. “Acho que 2012 foi um ano de preparação. Por mais que economia esteja parada, nosso segmento parece em ebulição”, diz.

Fonte: Portal IG - Vinícius Oliveira- iG São Paulo |
 

2 comentários:

Rodd. disse...

Pois é, me formei em direção pela Academia Internacional de Cinema de São Paulo, depois fiz pós-graduação em Roteiro na FAAP, e estudei TV Writing and Development na Columbia University em Nova Iorque. Mas, no fim das contas, vim trabalhar na Inglaterra porque estava cansado da desvalorização do roteirista no Brasil. Não faltam profissionais, mas enquanto as produtoras não entenderem a importância do roteirista (principalmente) em televisão, vão ter que se contentar com profissionais de segunda, porque os bons vão debandar do país na primeira oportunidade.

Anônimo disse...

Sem falar que as produtoras ainda tão se pautando muito nas suas panelinhas... ou como eles dizem "pessoal de reconhecida competência"