Conto #8 (de 19),
do 1º Concurso "Janete Clair" de Criação Ficcional
do Grupo Roteiros para Televisão (GRTV-Yahoo)
Destino
Douglas voltava para casa com certa nostalgia em seu coração. Aquela canção do Roberto tocando no rádio, lhe embalava recordações da sua juventude. " Aquela calça desbotada ou coisa assim, imediatamente você vai lembrar de mim..." Onde estaria Maria Flor, seu grande amor?
Começaram a namorar durante a copa de 70. Maria Flor, tímida e bela, de cabelos castanhos e encaracolados, foi amor desde o primeiro momento. Viveram um conto de fadas. Juras de amor, carinhos no cinema, passeios de mãos dadas pelo parque, festas juntinhos e abraçadinhos, loucuras de amor, o desabrochar de uma mulher, o renascer de um novo homem. Todo mundo falava: nasceram um para o outro. Quase dois anos de namoro, Douglas planejava comprar o anel de compromisso na próxima semana.
Maria Flor deu um abraço gelado em Douglas, olhou com os olhos gélidos para a face dele e disse:
- Acabou.
A jovem saiu correndo. Ele ali paralisado, atordoado com que acabava de ouvir, tentando encontrar alguma lógica, ou razão para o que estava acontecendo ali naquele momento.
Ligou diversas vezes, fez vigília esperando que ela entrasse, ou saísse de casa. Mas durante uma semana, não a viu, ou ouviu alguma notícia a respeito de Maria Flor. Mas na segunda semana, soube que sua amada deixara a cidade ao amanhecer.
Douglas sentou em frente ao mar, e se pôs a pensar: Por quê meu Deus? Por quê ela me deixou?
Dez anos se passaram...
Mergulhou no trabalho para esquecer sua dor. Trabalhou muito durante dois anos, até abrir seu próprio negócio com 21 anos de idade, uma loja de Material de Construção. Os negócios prosperaram, João vivia para o trabalho. Aos 25 anos foi morar sozinho, mas nunca deixou de sustentar os pais, e pagar os estudos de sua irmã mais nova.
Imerso no trabalho, Douglas trazia em seu coração muita amargura. Nunca mais se apaixonou por ninguém. Usava as mulheres como objeto, não se envolvia emocionalmente com nenhuma. Sempre era visto como um companheiro distante, frio, que não demonstrava nenhum sentimento. Por duas vezes, estava prestes a se apaixonar novamente, mas se afastou para não sofrer, não ter que passar por uma decepção de amor novamente. Não suportaria a dor.
Durante os dez anos depois daquele abraço gélido de Maria Flor, Douglas havia se fechado para o amor. E exatamente no dia em que ouvia a canção do Roberto, fazia dez anos que recebera adeus sem nenhuma explicação.
Douglas continuava embalado na nostalgia de suas lembranças, quando ouve um barulho esquisito, e percebe que a caixa de marca do carro quebrou, sendo obrigado a parar logo depois da curva que havia feito, por sorte, perto de um pequeno vilarejo de pescadores.
Havia sinal de celular naquela região. Irritado, aciona o seguro do carro, e informa onde está. Depois, pega dinheiro, e documentos, tranca o carro, e se dirige para o vilarejo.
A poucos metros do local, foi abordado por uma senhora idosa, de olhos azuis, cabelos brancos, rosto marcado pelos anos de trabalho. Trajava um vestido de estampas cinza, pretas, e brancas, chinelos de palha, e um xale preto.
- Olá. O senhor veio atrás de sua resposta.
- Que resposta? - Douglas olha admirado para senhora. Vim apenas....
- A resposta que está dentro do seu coração, e você ainda não conseguiu encontrar.
- Meu carro deu problema aqui perto. Queria apenas um hotel, uma pousada.
- Aqui há apenas casas humildes. Venha até minha cabana, você deve está com sede.
- Na verdade estou sim. Fico grato. Já acionei o seguro, vai demorar algumas horas.
- Venha então. Você pode esperar na minha humilde cabana.
Enquanto caminhavam até a cabana, Douglas, ao mesmo tempo em que ficou impressionado com o que a velha senhora disse, não acreditava em destino e muito menos em sobre natural.
- Vamos, entre. – disse a velha senhora
Douglas entrou, e logo na entrada pôde observar a única fotografia da humilde cabana pendurada na parede.
- A senhora não me disse seu nome. – perguntou
- Ana. Vou pegar água para o senhor.
Douglas senta em uma cadeira de balanço. Observa o fogão a lenha, a vassoura de palha, o ferro a carvão, uma humilde máquina de costura. Levanta-se chega perto de uma cadeira de balanço preta que estava próximo a janela, e ao lado uma mesinha, com tabaco, um cachimbo velho, um pente pequeno, um canivete, e um chapéu estilo panamá.
- Era do meu marido. Francisco era o seu nome. – disse Ana emocionada.
- O que aconteceu?
- Morreu sentado nessa cadeira. Infarto.
- Tem quanto tempo?
- Dez anos.
- Por quê você mantém todas as lembranças dele pela casa?
- Assim o sinto mais perto de mim. No dia em que a saudade teima em trazer tristeza, fecho os olhos, e sinto a presença dele. Cada canto desse lugar tem uma história para ser recordada. Todo o fim de tarde, assisto o por do sol dessa janela, esperando o dia em que ele virá me buscar.
- Acho que se fosse comigo, isso iria me fazer sofrer ainda mais.
- Você traz uma grande mágoa no seu coração. Vejo tristeza em seus olhos. – disse Ana sentando na cadeira de balanço. Rodeado de tantas pessoas, e tão sozinho. Tanta dor desnecessária.
Douglas foi acometido de uma melancolia, solidão, e fragilidade. Estava ali parado ao lado de Ana totalmente exposto por palavras que o desvendavam tão bem. Permaneceu parado, diante da porta, olhando para o mar. Dez anos sem a doçura de um abraço terno, o encanto de um sorriso apaixonado, a magia de um beijo de amor, sem a sonoridade sincera de Eu Te Amo..
Sentia sua alma pesada, e com o sol se pondo, entendeu que não havia nenhuma resposta, que a esperança de um grande amor renasce, quando se segue em frente livre de mágoa, ressentimento, e não se abstendo da possibilidade de amar novamente.
- O medo não nos deixa superar obstáculos que podem ser vencidos. – disse Ana segurando sua mão.
Douglas foi correndo em direção ao mar lavar a alma.
Molhado, sentou na areia bem em frente à cabana, e ficou contemplando a beleza das ondas, sentindo a brisa em seu rosto. Havia renascido.
Ela vinha carregando uma cesta de frutas, os cabelos lisos negros, a pele alva como a da avó. Vestido estampado, solto, e leve modelando o belo corpo. Os pés descalços.
Quando os olhos se encontraram, o amor surgiu.
Ana sabia que o destino de sua neta Rosário começaria a se cumprir, quando Douglas aceitasse a maçã.
do 1º Concurso "Janete Clair" de Criação Ficcional
do Grupo Roteiros para Televisão (GRTV-Yahoo)
Destino
Douglas voltava para casa com certa nostalgia em seu coração. Aquela canção do Roberto tocando no rádio, lhe embalava recordações da sua juventude. " Aquela calça desbotada ou coisa assim, imediatamente você vai lembrar de mim..." Onde estaria Maria Flor, seu grande amor?
Começaram a namorar durante a copa de 70. Maria Flor, tímida e bela, de cabelos castanhos e encaracolados, foi amor desde o primeiro momento. Viveram um conto de fadas. Juras de amor, carinhos no cinema, passeios de mãos dadas pelo parque, festas juntinhos e abraçadinhos, loucuras de amor, o desabrochar de uma mulher, o renascer de um novo homem. Todo mundo falava: nasceram um para o outro. Quase dois anos de namoro, Douglas planejava comprar o anel de compromisso na próxima semana.
Maria Flor deu um abraço gelado em Douglas, olhou com os olhos gélidos para a face dele e disse:
- Acabou.
A jovem saiu correndo. Ele ali paralisado, atordoado com que acabava de ouvir, tentando encontrar alguma lógica, ou razão para o que estava acontecendo ali naquele momento.
Ligou diversas vezes, fez vigília esperando que ela entrasse, ou saísse de casa. Mas durante uma semana, não a viu, ou ouviu alguma notícia a respeito de Maria Flor. Mas na segunda semana, soube que sua amada deixara a cidade ao amanhecer.
Douglas sentou em frente ao mar, e se pôs a pensar: Por quê meu Deus? Por quê ela me deixou?
Dez anos se passaram...
Mergulhou no trabalho para esquecer sua dor. Trabalhou muito durante dois anos, até abrir seu próprio negócio com 21 anos de idade, uma loja de Material de Construção. Os negócios prosperaram, João vivia para o trabalho. Aos 25 anos foi morar sozinho, mas nunca deixou de sustentar os pais, e pagar os estudos de sua irmã mais nova.
Imerso no trabalho, Douglas trazia em seu coração muita amargura. Nunca mais se apaixonou por ninguém. Usava as mulheres como objeto, não se envolvia emocionalmente com nenhuma. Sempre era visto como um companheiro distante, frio, que não demonstrava nenhum sentimento. Por duas vezes, estava prestes a se apaixonar novamente, mas se afastou para não sofrer, não ter que passar por uma decepção de amor novamente. Não suportaria a dor.
Durante os dez anos depois daquele abraço gélido de Maria Flor, Douglas havia se fechado para o amor. E exatamente no dia em que ouvia a canção do Roberto, fazia dez anos que recebera adeus sem nenhuma explicação.
Douglas continuava embalado na nostalgia de suas lembranças, quando ouve um barulho esquisito, e percebe que a caixa de marca do carro quebrou, sendo obrigado a parar logo depois da curva que havia feito, por sorte, perto de um pequeno vilarejo de pescadores.
Havia sinal de celular naquela região. Irritado, aciona o seguro do carro, e informa onde está. Depois, pega dinheiro, e documentos, tranca o carro, e se dirige para o vilarejo.
A poucos metros do local, foi abordado por uma senhora idosa, de olhos azuis, cabelos brancos, rosto marcado pelos anos de trabalho. Trajava um vestido de estampas cinza, pretas, e brancas, chinelos de palha, e um xale preto.
- Olá. O senhor veio atrás de sua resposta.
- Que resposta? - Douglas olha admirado para senhora. Vim apenas....
- A resposta que está dentro do seu coração, e você ainda não conseguiu encontrar.
- Meu carro deu problema aqui perto. Queria apenas um hotel, uma pousada.
- Aqui há apenas casas humildes. Venha até minha cabana, você deve está com sede.
- Na verdade estou sim. Fico grato. Já acionei o seguro, vai demorar algumas horas.
- Venha então. Você pode esperar na minha humilde cabana.
Enquanto caminhavam até a cabana, Douglas, ao mesmo tempo em que ficou impressionado com o que a velha senhora disse, não acreditava em destino e muito menos em sobre natural.
- Vamos, entre. – disse a velha senhora
Douglas entrou, e logo na entrada pôde observar a única fotografia da humilde cabana pendurada na parede.
- A senhora não me disse seu nome. – perguntou
- Ana. Vou pegar água para o senhor.
Douglas senta em uma cadeira de balanço. Observa o fogão a lenha, a vassoura de palha, o ferro a carvão, uma humilde máquina de costura. Levanta-se chega perto de uma cadeira de balanço preta que estava próximo a janela, e ao lado uma mesinha, com tabaco, um cachimbo velho, um pente pequeno, um canivete, e um chapéu estilo panamá.
- Era do meu marido. Francisco era o seu nome. – disse Ana emocionada.
- O que aconteceu?
- Morreu sentado nessa cadeira. Infarto.
- Tem quanto tempo?
- Dez anos.
- Por quê você mantém todas as lembranças dele pela casa?
- Assim o sinto mais perto de mim. No dia em que a saudade teima em trazer tristeza, fecho os olhos, e sinto a presença dele. Cada canto desse lugar tem uma história para ser recordada. Todo o fim de tarde, assisto o por do sol dessa janela, esperando o dia em que ele virá me buscar.
- Acho que se fosse comigo, isso iria me fazer sofrer ainda mais.
- Você traz uma grande mágoa no seu coração. Vejo tristeza em seus olhos. – disse Ana sentando na cadeira de balanço. Rodeado de tantas pessoas, e tão sozinho. Tanta dor desnecessária.
Douglas foi acometido de uma melancolia, solidão, e fragilidade. Estava ali parado ao lado de Ana totalmente exposto por palavras que o desvendavam tão bem. Permaneceu parado, diante da porta, olhando para o mar. Dez anos sem a doçura de um abraço terno, o encanto de um sorriso apaixonado, a magia de um beijo de amor, sem a sonoridade sincera de Eu Te Amo..
Sentia sua alma pesada, e com o sol se pondo, entendeu que não havia nenhuma resposta, que a esperança de um grande amor renasce, quando se segue em frente livre de mágoa, ressentimento, e não se abstendo da possibilidade de amar novamente.
- O medo não nos deixa superar obstáculos que podem ser vencidos. – disse Ana segurando sua mão.
Douglas foi correndo em direção ao mar lavar a alma.
Molhado, sentou na areia bem em frente à cabana, e ficou contemplando a beleza das ondas, sentindo a brisa em seu rosto. Havia renascido.
Ela vinha carregando uma cesta de frutas, os cabelos lisos negros, a pele alva como a da avó. Vestido estampado, solto, e leve modelando o belo corpo. Os pés descalços.
Quando os olhos se encontraram, o amor surgiu.
Ana sabia que o destino de sua neta Rosário começaria a se cumprir, quando Douglas aceitasse a maçã.
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