06 setembro 2006

Roteiro#2 - Tempo

“TEMPO”

PERSONAGENS:
Mauro - Homem de estatura média, músculos bem delineados, cabelos claros, barba por fazer. Administrador de empresas. Gênio forte.
Márcia – Mulher de estatura média, funcionária pública. Sensível, medrosa.

CENÁRIO
Casa de Mauro: apartamento de classe média. Dois quartos.
Banheiro: Amplo, com um grande espelho na pia.
Sala: Ventilada, com um bar, som, dois sofás, televisão.
Quarto: Cama de casal, guarda-roupas, ventilador de teto.

Objetos Cênicos:
Copo de Uísque
Som
CD
Sapato de bebê


Cena 1. INT - BANHEIRO - NOITE
Banheiro amplo, mal iluminado, pia larga, espelho grande cobrindo a parede onde fica a pia, alguns objetos comuns ao banheiro de um homem solteiro e um copo de uísque pela metade do lado direito da pia. MAURO, vestido apenas com uma bermuda, descalço, está parado em frente ao espelho, analisa os cabelos, os olhos.

MAURO
Devo mesmo estar ficando velho...

Lava o rosto, não enxuga. Olha-se de novo no espelho.

MAURO
Márcia, Márcia... Por que você fez isso?

Pega uma tolha, abre o chuveiro. Expressão cansada e pensativa. Ouve-se o toque da campainha. A campainha insiste, Mauro desliga o chuveiro irritado. Joga a toalha na pia.


Cena 2. INT - SALA DE ESTAR - NOITE
Sala de estar típica de apartamento da classe média-alta, em uma das paredes encontra-se um bar, no fundo do bar encontra-se o aparelho de som (será utilizado em cena) e alguns CDs. Mauro continua com a mesma bermuda e descalço, mas agora veste uma camisa de malha, acaba de abrir a porta. Márcia entra na sala. Ela está visivelmente triste. Mauro está com o copo de uísque na mão e mostra-se aborrecido com sua presença. Vira-se em direção ao bar para completar a dose, dando as costas a Márcia que fica parada ao lado da televisão.

MAURO
Pensei que tivesse dito para você nunca mais me procurar.

Márcia se aproxima do bar, mãos tremulas, não tem coragem de tocá-lo.

MÁRCIA
Mauro, nós precisamos conversar.

Mauro vira-se abruptamente, olhar de ódio.

MAURO
Conversar o que? Vai querer me explicar o que aconteceu?!

Vira-se novamente para o bar, bebe um grande gole do uísque.

MAURO
Não tem explicação, compreende? Não tem, jamais irei lhe perdoar. (grita) Jamais!! Esqueça que eu existo.

MÁRCIA
Calma, por favor. Eu tive os meus motivos.

MAURO
Motivos?! Que motivos?!

Empurra-a com uma das mãos, anda até o centro da sala e deixa-se cair em um dos sofás.

MAURO
Acha que eu merecia aquilo?!

Márcia continua ao lado do bar, vai se aproximando lentamente enquanto fala.

MÁRCIA
Ninguém merece nada, entenda. Mas eu me senti sozinha, você só pensava em seu trabalho. Não quis nem conversar. (pausa) Mauro, por favor, não precisa terminar assim.

Mauro levanta-se do sofá em direção a Márcia que já está na mesa de centro.

MAURO
Foi você quem escolheu, mulher. Foi você quem escolheu.

Pega-a pelo braço, e a conduz até a porta da rua, enquanto ela tenta protestar e se livrar de sua mão.

MÁRCIA
Mauro, por favor, tente compreender.

MAURO
Chega, porra.

Abre a porta e a solta no hall do elevador. Ela ainda tenta se recompor e segurar a porta para ser ouvida.

MÁRCIA
Tente compreender, eu não tive culpa.

Mais forte, Mauro consegue fechar a porta. Márcia ainda tenta protestar, tocando a campainha sem resultados. Começa, então, a dar murros e pontapés na porta. Mauro volta ao bar, liga o som em um alto volume para abafar os gritos de Márcia e fica sentado no banco do bar, ar pensativo, bebendo o uísque.

Cena 3. INT - QUARTO - NOITE
Mauro deitado na cama, olhando para o teto. Lágrimas correm do seu rosto. Em uma de suas mãos está um sapato de bebê. Ele coloca os dois dedos dentro de cada sapato e fica “andando” por sua barriga.

MAURO (em off)
O meu coração não mais ouvira seus apelos. Só o tempo pode abafar seu amor. Ou o que você chamou disso. Amor vazio, vazio como esse teto, vazio como minha mente longe de ti... Márcia... Agora tenho todo tempo do mundo.

Cena 4. EXT - RUA – NOITE – EDITADA EM PARALELO COM A ANTERIOR
Cena editada em paralelo com a anterior. Márcia sai do prédio. Enxuga as lágrimas. Atravessa a rua e começa a andar pelo calçadão da praia. O vento bate em seu rosto. Vai andando pela orla, cabeça baixa. Mãos trêmulas acariciam a barriga. Detalhe nesse gesto.

FIM

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