06 setembro 2006

Roteiro#6 - Com todo respeito

COM TODO O RESPEITO

PERSONAGENS
EDUARDO
MARTA

CENÁRIO
Sala do Apartamento Medeiros


Objetos Cênicos:
Fotos, mesa de centro, bebida, copo, pasta de executivo, sofá e quadro com foto do casal.


CENA 1: SALA DO APARTAMENTO MEDEIROS. INT. DIA
MARTA OBSERVA AS FOTOS QUE RECEBEU DA DETETIVE HÁ POUCAS HORAS ATRÁS. DE QUANDO EM VEZ, GOLEIA UM UÍSQUE, LEVANTA-SE, CAMINHA E SENTA NOVAMENTE. DE REPENTE EDUARDO CHEGA.

EDUARDO
- Oi, me desculpe não ter te ligado, mas é que essa viagem surgiu de repente... Sabe como é... Negócios... (LARGA A SUA PASTA DE EXECUTIVO)

MARTA
- Sei, mais uma viagem de negócios... (IRÔNICA) E eu acredito em papai noel...

EDUARDO
- Marta, você não vai começar de novo, vai?

MARTA
- Eu não entendo, Eduardo... O seu trabalho nem exige que você viaje tanto. Isso nunca aconteceu. De repente desandou essa onda de viagens...

EDUARDO
- Eu não vou discutir com você. Já se foi o tempo em que eu chegava em casa e você vivia me cobrando. (PAUSA/SUSPIRA) Tem alguma coisa pra comer? Eu tô com uma fome...

MARTA
- Eu acredito que você esteja esfomeado. (DEBOCHANDO) Afinal, exercícios forçados, ainda mais na sua idade, dão uma fome de leão.

EDUARDO
- Aonde você quer chegar com isso tudo, mulher?

MARTA
- Onde eu quero chegar? (FIRME) A isso aqui! (JOGA AS FOTOS EM CIMA DA MESINHA DE CENTRO DA SALA) As fotos de suas viagens.

EDUARDO JUNTA AS FOTOS E AS OLHA PERPLEXO.

EDUARDO
(SURPRESO)
- O que é isso? Agora botou alguém para me vigiar?

MARTA
- Ah! (TOM) Quer dizer que você não ficou surpreso com o fato de eu ter em mãos uma dezena de fotos suas com uma vagabunda e sim por eu ter posto alguém para te vigiar?

EDUARDO
- Você não devia ter feito isso...

MARTA
- Claro, eu deveria ter ficado aqui pensando que você estava em uma viagem de negócios, quando você entrava no entardecer em um motel, há três quarteirões daqui, com uma mulherzinha qualquer e só saía pela manhã? Você é muito cafajeste mesmo!

EDUARDO
(GRITANDO)
- Você! Você é a culpada disto! Você que me fez procurar o amor nos braços de outra mulher!

MARTA
(ENLOUQUECIDA)
- Canalha! Você sempre foi um canalha! Quantas e quantas noites eu fiquei aqui, fazendo um jantar, escolhendo vinho, acendendo velas e ficando mais bonita, me arrumando, até lingerie nova eu comprava. (VOZ EMBARGADA) Mas aí, passavam as horas... A comida esfriava, a vela ia se apagando e eu me deitava nesse sofá e ficava esperando por quem não aparecia...

EDUARDO
(TOM)
- É que você nunca foi compreensiva comigo. Nunca foi carinhosa... Sempre faltou algo...

MARTA CAMINHA VAGAROSAMENTE ATÉ A PORTA E ABRE-A.

MARTA
- Antes de você sair por essa porta... E nunca mais voltar... (RESPIRA FUNDO) Eu quero que você ouça uma coisa, que eu espero que você nunca mais esqueça. Lembra-se daquela vez em que você foi preso, porque andava com gente que não prestava... Não que eu não tivesse te aberto os olhos, mas você nunca me ouviu... Depois de um certo tempo na prisão, você foi solto e se enfurnou dentro desta casa. Não queria mais visitar nossos amigos, não queria mais voltar ao seu trabalho. Então eu te puxava e dizia: “Vamos homem, se anime. Bola pra frente!” Eu fui por tudo com você, te acompanhei, te defendia, dizia que você tinha sido injustiçado, que era inocente... Cheguei a perder o meu emprego numa escola particular, por que faltei várias vezes por causa de você, Eduardo. (TOM) E então as coisas esfriaram e o Eduardo voltou a sua vida normal! Me responda! Isso não é ser compreensiva? Não é ser carinhosa?

EDUARDO
(ARREPENDIDO)
- Marta, eu...

EDUARDO TENTA SE APROXIMAR DE MARTA, QUE SE AFASTA.

MARTA
- Saia, Eduardo. Eu não quero mais te ver. Apareça nesta casa amanhã, apenas para buscar as suas roupas que eu vou pedir para a Judite arrumar.

EDUARDO
- Me ouça, eu quero...

MARTA FAZ SINAL PARA EDUARDO SAIR. EDUARDO APANHA A SUA PASTA E RETIRA-SE. MARTA FECHA A PORTA E CHORA. VAI ANDANDO PELA SALA ATÉ VER UM QUADRO DELA COM EDUARDO. ENTÃO PEGA O COPO E ATIRA SOBRE A FOTO. DEITA NO SOFÁ E CONTINUA CHORANDO.

***FIM***

Um comentário:

Anônimo disse...

Um texto bem bolado, bastante criativo, parabéns.