06 setembro 2006

TEXTOS DO 2º Concurso GRTV

2º CONCURSO GRTV "Ivani Ribeiro" DE CENAS

Amigos,
estão na disputa do 2º Concurso GRTV ao todo 22 textos, de 22 roteiristas de diversos cantos do país. Aproveitem para ler cada texto, comentar seu conteúdo (na lista do GRTV) e dar aos autores o tão necessário "feedback" de seus trabalhos.

Os três melhores textos serão indicados pela autora e escritora Solange Castro Neves, aumentando ainda mais a emoção de um concurso batizado com o nome da saudosa "Ivani Ribeiro", de quem nossa jurada muito especial foi única colaboradora e co-autora durante mais de uma década.

Para saber mais sobre Solange Castro Neves:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Solange_Castro_Neves
http://www.teledramaturgia1.kit.net/solange.htm

Para facilitar a leitura de todos (participantes e associados do GRTV), abaixo segue a lista dos títulos dos roteiros apresentados e o "link" respectivo. Boa leitura e sintam-se todos a vontade para comentar na lista do GRTV-Yahoo!

Os textos foram publicados SEM IDENTIFICAÇÃO DE AUTORIA. Apenas após a divulgação do resultado (segunda-feira, dia 11/setembro), os nomes serão adicionados à publicação.

BOA LEITURA!!!!

1) “Bodas de Papel”
2) “Tempo”
3) “Acorrentados”
4) “A Caneca de Louça e o Baú de Madeira”
5) “Amor Bandido”
6) “Com todo respeito”
7) “Declaração de Amor”
8) “É... do Brasil!”
9) “Uma Pergunta”
10) “Discussão entre marido e mulher, sobre traição amorosa”
11) “Cotidiano”
12) “A Recompensa”
13) “Alívio Imediato”
14) “Conjugação do verbo acenar!”
15) “Discussão entre Marido e Mulher – Traição Amorosa”
16) “Um tiro no Coração”
17) “A morte do Toquinho”
18) “Tarde para Chorar”
19) “O Cachorro é meu!”
20) “Quem vê cara, não vê coração”
21) “Tudo Bem”
22) “Maria-Fuzil”

Grande abraço a todos,
Leonardo de Moraes
(Pptário e Moderador GRTV)

Roteiro#1 - Bodas de Papel

Bodas de Papel

PERSONAGENS
Arthur – 33 anos, um homem bonito.Exato como as equações,homem de negócios, tem ar de superioridade.
Branca – 30 anos, mulher romântica, inteligente, luta pela independência. Pintora e artista plástica de considerável sucesso.

CENÁRIO
Sala de um apartamento de classe média.

Objetos cênicos:
Quadros contemporâneos pendurados na parede.
Peças de obras de arte.
Muitas dobraduras de papel (barcos, pássaros, flores, por toda sala).
Algumas velas acesas espalhadas pela sala
Mesa com o jantar posto.


Arthur e Branca estão comemorando um ano de casados. Ela prepara um jantar muito especial, tudo para uma noite perfeita se não fosse pela indiferença de Arthur, que sequerlembra da data.
Decepcionada e muito magoada ela acaba confessando que o traiu com seu melhor amigo criando um clima de sofrimento e libertação.

CENA 1. SALA DE ARTHUR E BRANCA / INTERIR / NOITE
ARTHUR ABRE A PORTA DO APARTAMENTO ENCONTRANDO AS LUZES APAGADAS E ALGUMAS VELAS ACESAS ESPALHADAS PELA SALA. CAMINHA DEVAGAR TATEANDOE PROCURANDO A TOMADA.

ARTHUR :(NORMA)
_ Meu Deus, o que está acontecendo aqui? (T) Ih! Já sei, a distraída da Branca deve ter esquecido de pagar a conta de luz. Também pudera, vive no mundo da lua, transpira arte, só pensa em cor e forma...

ARTHUR ACHA A TOMADA, ACENDE A LUZ E DÁ DE CARA COM BRANCA COM OS BRAÇOS CRUZADOS ENCOSTADA NA PAREDE.

BRANCA: (ÁSPERA/CÍNICA)
_ Por que será que você não entende o óbvio? Nossa quanta oquidão.

ARTHUR:(SEM SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO)
_ O que é isso ? Você aí parada no escuro toda agressiva ?(CÍNICO) Ah, já sei como é Mesmo este estado que você se encontra. (T) lembrei (PAUSADAMENTE) T.P.M.

BRANCA:(MEIO IRRITADA E IRÔNICA)
_ T.P.M.? A única coisa que você consegue lembrar de mim é dá T.P.M.? Ah,já sei! É porque na minha T.P.M., queeu falo tudo que penso de você.

ARTHUR:(CONSTRANGIDO)
_ Espera aí : Jantar à luz deVelas, o que são esses papéis dobradinhos ?.


BRANCA:( IRRITADA E DECEPCIONADA )
_ Não, nada em especial. É que eu acordei com vontade de explodir e fiz esse jantarzinho para gente. Aliás,eu estou explodindo por dentro faz tempo. Estou explodindo de carência,de solidão, de insatisfação. (T) E você não consegue nem perceber o que acontece comigo !. Sinceramente, eu não sei se você é cego ou é burro.

ARTHUR:(CONFUSO)
_ O que está acontecendo com você? Cego ? burro ? O queé, você enlouqueceu ?

BRANCA:( GRITANDO )
_ Eu te traí...

ARTHUR: (INDIFERENTE)
_ Deixa de besteira, Você não tem perfil de mulher que trai. Se bem que não sei o perfil de uma mulher que trai, mas tenho certeza que não é o seu. Eu sempre fui seu grande amor.
BRANCA:( BAIXINHO )
_ Grande amor? Sua autoconfiança, não te deixa enxergar um palmo a frente do seu nariz.

ARTHUR:(CHEIO DE SI)
_ Por que, não sou o grande amor da sua vida ? O grande não, o único, eu tenho certeza disso. Agora meu amor,vamos jantar vai. Vamos deixar essa discussão pra lá.

BRANCA:( NERVOSA )
_ Deixar pra lá ? Jantar ? Agora quero ir até o fim e nãovai mais ter jantar.Passei o dia preparando o seu prato predileto, fazendo essas dobraduras de papel. Sabe por que fiz essas dobraduras ?Claro que não sabe,é porque se comemora um ano de casado combodas de papel.(T) No fundo sempre quis salvar nossa relação. Mas é bom ver toda sua indiferença com meus sentimentos. É bom porque assim o meu remorso vai se esvaindo como água que se escorre ralo abaixo.(T) Quer saber por que sinto remorso ? (ESCORRENDO PELA PAREDE E SENTANDO NO CHÃO, MUITO EMOCIONADA) Por que te traí com o Marcos. (T) Pois é, o Marcos seu melhor amigo, seu amigo de infância.

ARTHUR:( DESACREDITADO)
_ Como é que você coloca alguém que já morreunessa sua vingança pessoal? Sem falar na crueldade. O que você quer ? Lançar a sementinha da dúvida na minha cabeça ? Com meu melhor amigo que nem está mais entre nós para se defender? .

BRANCA
_ Ele não se defenderia, sabe por quê ? Porque ele era um homem de verdade. Sabe que ele nunca esqueceu uma data ? Comemoramos tudo antes dele morrer. (SE ABRAÇA) Como sinto falta dele!! Ele foi o oxigênio para que eu suportasse toda essa sua ambição, toda sua indiferença (T) não foi só uma traição , foi uma fuga para o meu sofrimento e um resgate para minha alma. E saiba que sou feliz por ter vivido tudo isso.
(PEGA UMA DAS DOBRADURAS E COMEÇA A DESFAZER)
Está vendo esta dobradura?
Agora que eu desmanchei é só uma folha em branco, toda marcada pelas dobras. Assim é o nosso casamento, como uma folha em branco, sem história e por mais que desfaçamos os maus entendidos , as marcas jamais serão esquecidas.

ARTHUR TAMBÉM ESCORREGA PELA PAREDE SENTANDO NO CHÃO, COMO SE UM TRATOR TIVESSE PASSADO POR ELE.


*** FIM ***

Roteiro#2 - Tempo

“TEMPO”

PERSONAGENS:
Mauro - Homem de estatura média, músculos bem delineados, cabelos claros, barba por fazer. Administrador de empresas. Gênio forte.
Márcia – Mulher de estatura média, funcionária pública. Sensível, medrosa.

CENÁRIO
Casa de Mauro: apartamento de classe média. Dois quartos.
Banheiro: Amplo, com um grande espelho na pia.
Sala: Ventilada, com um bar, som, dois sofás, televisão.
Quarto: Cama de casal, guarda-roupas, ventilador de teto.

Objetos Cênicos:
Copo de Uísque
Som
CD
Sapato de bebê


Cena 1. INT - BANHEIRO - NOITE
Banheiro amplo, mal iluminado, pia larga, espelho grande cobrindo a parede onde fica a pia, alguns objetos comuns ao banheiro de um homem solteiro e um copo de uísque pela metade do lado direito da pia. MAURO, vestido apenas com uma bermuda, descalço, está parado em frente ao espelho, analisa os cabelos, os olhos.

MAURO
Devo mesmo estar ficando velho...

Lava o rosto, não enxuga. Olha-se de novo no espelho.

MAURO
Márcia, Márcia... Por que você fez isso?

Pega uma tolha, abre o chuveiro. Expressão cansada e pensativa. Ouve-se o toque da campainha. A campainha insiste, Mauro desliga o chuveiro irritado. Joga a toalha na pia.


Cena 2. INT - SALA DE ESTAR - NOITE
Sala de estar típica de apartamento da classe média-alta, em uma das paredes encontra-se um bar, no fundo do bar encontra-se o aparelho de som (será utilizado em cena) e alguns CDs. Mauro continua com a mesma bermuda e descalço, mas agora veste uma camisa de malha, acaba de abrir a porta. Márcia entra na sala. Ela está visivelmente triste. Mauro está com o copo de uísque na mão e mostra-se aborrecido com sua presença. Vira-se em direção ao bar para completar a dose, dando as costas a Márcia que fica parada ao lado da televisão.

MAURO
Pensei que tivesse dito para você nunca mais me procurar.

Márcia se aproxima do bar, mãos tremulas, não tem coragem de tocá-lo.

MÁRCIA
Mauro, nós precisamos conversar.

Mauro vira-se abruptamente, olhar de ódio.

MAURO
Conversar o que? Vai querer me explicar o que aconteceu?!

Vira-se novamente para o bar, bebe um grande gole do uísque.

MAURO
Não tem explicação, compreende? Não tem, jamais irei lhe perdoar. (grita) Jamais!! Esqueça que eu existo.

MÁRCIA
Calma, por favor. Eu tive os meus motivos.

MAURO
Motivos?! Que motivos?!

Empurra-a com uma das mãos, anda até o centro da sala e deixa-se cair em um dos sofás.

MAURO
Acha que eu merecia aquilo?!

Márcia continua ao lado do bar, vai se aproximando lentamente enquanto fala.

MÁRCIA
Ninguém merece nada, entenda. Mas eu me senti sozinha, você só pensava em seu trabalho. Não quis nem conversar. (pausa) Mauro, por favor, não precisa terminar assim.

Mauro levanta-se do sofá em direção a Márcia que já está na mesa de centro.

MAURO
Foi você quem escolheu, mulher. Foi você quem escolheu.

Pega-a pelo braço, e a conduz até a porta da rua, enquanto ela tenta protestar e se livrar de sua mão.

MÁRCIA
Mauro, por favor, tente compreender.

MAURO
Chega, porra.

Abre a porta e a solta no hall do elevador. Ela ainda tenta se recompor e segurar a porta para ser ouvida.

MÁRCIA
Tente compreender, eu não tive culpa.

Mais forte, Mauro consegue fechar a porta. Márcia ainda tenta protestar, tocando a campainha sem resultados. Começa, então, a dar murros e pontapés na porta. Mauro volta ao bar, liga o som em um alto volume para abafar os gritos de Márcia e fica sentado no banco do bar, ar pensativo, bebendo o uísque.

Cena 3. INT - QUARTO - NOITE
Mauro deitado na cama, olhando para o teto. Lágrimas correm do seu rosto. Em uma de suas mãos está um sapato de bebê. Ele coloca os dois dedos dentro de cada sapato e fica “andando” por sua barriga.

MAURO (em off)
O meu coração não mais ouvira seus apelos. Só o tempo pode abafar seu amor. Ou o que você chamou disso. Amor vazio, vazio como esse teto, vazio como minha mente longe de ti... Márcia... Agora tenho todo tempo do mundo.

Cena 4. EXT - RUA – NOITE – EDITADA EM PARALELO COM A ANTERIOR
Cena editada em paralelo com a anterior. Márcia sai do prédio. Enxuga as lágrimas. Atravessa a rua e começa a andar pelo calçadão da praia. O vento bate em seu rosto. Vai andando pela orla, cabeça baixa. Mãos trêmulas acariciam a barriga. Detalhe nesse gesto.

FIM

Roteiro#3 - Acorrentados

ACORRENTADOS

PERSONAGENS
LUCIA- advogada, 35 anos, viúva. Mata o noivo (Léo) no dia do seu casamento e não consegue mais se libertar deste fantasma. Sua fisionomia é de cansaço, de desânimo. Ela deve expressar a idéia de uma pessoa que vive apenas por viver, sem perspectivas, sonhos ou objetivos.
Lucia estará com o mesmo vestido de noiva do dia do casamento, mas a roupa está toda rasgada, desbotada e com marcas de sangue acumuladas pelo tempo. Os cabelos são mau tratados. A imagem é de muita fragilidade.

LEONARDO (LÉO)- empresário, 36 anos, morto pela noiva (Lucia) no dia do casamento. Apesar de ser um fantasma das lembranças de Lucia aparece para ela com a mesma imagem que tinha no dia do casamento, por isso, seu terno preto estará rasgado por causa da luta antes da morte.
Seu comportamento deve ser o de uma pessoa revoltada e com muito ódio.

CENÁRIO
Apartamento de classe média. A imagem que deve ser passada ao público é que o local passou por uma guerra, pois toda a mobília do apartamento está quebrada ou espalhada pelo chão, pelas poltronas e demais cômodos da casa.

OBJETOS CÊNICOS
Os atores contracenarão durante toda cena apenas na sala de estar. Esta, por sua vez, terá apenas duas cadeiras de madeiras intactas, as únicas que restaram no apartamento. As cadeiras devem estar estrategicamente colocadas uma de frente para a outra, separadas apenas por ramalhetes de flores que estarão espalhadas por todo apartamento, assim como caixas e presentes do casamento. Lucia não se desgrudará de um buquê de flores do campo murchas.


CENA 1- SALA DO APARTAMENTO LÚCIA/LÉO/INTERIOR/NOITE
A cena inicia-se com Lúcia e Léo sentados um de frente para o outro. Lúcia está com o olhar perdido e segura um buquê de flores no colo. Léo está com a cabeça baixa. Toca uma música estilo Enya que com o início da fala de Lúcia deve ficar apenas como som de ambiente, sem interferir na fala dos atores.


LUCIA- Até quando?

LÉO- (irônico) Até quando o quê?

LUCIA- Até quando vamos ficar aprisionados neste lugar?

LÉO- (com raiva)- Foi você quem nos colocou aqui. A culpa por tudo o que aconteceu é sua, tão somente sua, de mais ninguém!!

LÚCIA- (com voz de choro)- Eu não queria nada disso. Eu não planejei nada. Foi um acidente.

LÉO- Não seja hipócrita (gritando). Você tem noção do que fez com a minha vida? Você destruiu todos os meus sonhos, interrompeu o meu futuro. Por quê? Eu só me pergunto o porquê de tanto ódio?

LUCIA- (o choro é mais intenso)- Não fala assim. Pelo amor de Deus. Não me faça sentir mais culpada do que eu já estou. (levantando-se da cadeira. Ela circula por todo o cômodo como se quisesse vê-lo e leva junto o buquê). Léo, se eu pudesse voltar o tempo...Eu..nunca senti ódio de você. Mas eu também não sentia amor.

LÉO (explodindo)- Cala a boca sua maldita. Não me faça sentir mais ódio de você. Na verdade, o que sinto não é ódio. È pena!!. Você destruiu a minha vida, mas também destruiu a sua.

LUCIA- Isso me atormenta todos os dias. È por isso que não consigo sair deste apartamento. Estou presa neste lugar. Tenho medo de sair nas ruas e das pessoas me apontarem.

LEO- E o que você gostariam que elas fizessem? Você matou um homem inocente sem ele nunca ter feito nada contra você.

LUCIA- Desde que você se foi eu nunca mais consegui vê-lo. Mas a sua voz, a sua presença não me deixam em paz. Eu não consigo dormir, não consigo comer. Eu também não vivo mais Léo. Minha alma vaga como a sua. Apenas o meu corpo físico está aqui..

LÉO- E você queria o que? (levanta-se e circula ao redor dela). Este é o preço do seu castigo. O preço que você terá que pagar até ir para o inferno que é o lugar de assassinos como você.

LUCIA- (O grito e o choro devem ficar evidentes nesta fala) - Não fale assim Léo. Eu preciso mais do que nunca do seu perdão. Eu preciso de um pouco de paz. Já faz três anos que estou presa neste lugar.

LÉO- Nunca Lucia ( com raiva). Nunca vou perdoá-la e você nunca terá paz na sua vida. Eu tinha muitos planos, sabe? (irônico). Eu sonhava com o nosso casamento para poder ser feliz, para me libertar de muitas coisas.

LUCIA- Eu tive medo Léo. Medo de que todos soubessem da verdade.

LÉO- Não seja ingênua Lúcia. Essa verdade que você quis esconder do mundo sempre esteve exposta aos olhos das pessoas. O mundo é cruel com pessoas que fogem dos padrões.

LUCIA- (nervosa). Quer dizer que você sempre soube?

LEO- Sempre Lúcia. Mas eu tinha pena de você. Queria apenas ajudà-la.

LUCIA- Se você sempre soube por quê nunca me contou?

LÉO- (ele volta a sentar-se na cadeira. Ela também senta-se de novo). Porque talvez este também fosse o meu maior segredo.

LUCIA.. (espantada) Você também é?.

LÉO- Sim Lucia. Assim como você, eu também sou gay. A única diferença é que gosto de homem e você de mulher. Eu também sempre escondi esse segredo de todos e achei que me casando com uma pessoa igual a mim que juntos poderíamos viver uma vida feliz. Cada um com o seu namorado. Este seria o nosso segredo. O nosso pacto. Mas.você não me deu chances de viver este sonho.

LUCIA- Meu Deus. (arrependida)...Eu nunca imaginei isso...Se eu a menos desconfiasse...

LEO- Daí você não teria me matado não é?. Mas não foi assim que aconteceu. Hoje estou morto, distante do homem que amo e você se tornou a minha sombra. Vive atormentada pelas lembranças, com medo do próprio passado e sem poder viver o seu presente. Sem poder sonhar com um futuro. Me sinto vingado por isso.

LUCIA- Não!! (nervcsa). Eu não posso acreditar nisso. Dói demais saber que eu matei você por medo de ser descoberta e que você sempre soube de toda a verdade. Que você era igual a mim, que você não me culparia por ser diferente do resto das pessoas.(choro com dor).

LEO- Resta agora a você Lúcia, a nós dois, apenas nos acostumarmos com as correntes dos nossos destinos. Você atormentada por ser uma assassina e eu um fantasma que não consegue se desprender desse mundo. Eternamente infelizes. Eternamente juntos, como sempre desejei....

Neste momento a música deve ser mais intensa e os dois se aproximam. Mesmo sem poder vê-lo, Lúcia tem a sensação de estar protegida por ele. Léo se aproxima de Lúcia e a abraça por trás. Desta vez, a fisionomia de Lucia é de alívio e ao mesmo tempo de paz. Os dois fecham os olhos e ela deixa cair o buquê no chão.

FIM

Roteiro#4 - A caneca de louça e o baú de madeira

A CANECA DE LOUÇA E O BAÚ DE MADEIRA


PERSONAGENS
Roberto – 50 anos,advogado,boa aparência,jovial.
Leonor – 48 anos,dona de casa,de aspecto decadente

CENÁRIO
Apartamento de classe média, desocupado recentemente, sem armários ou luminárias.

Objetos cênicos:
Um baú grande de madeira escura e uma caneca de louça tipo souvenir,com a foto de Roberto e Leonor,mais jovens e gravado:Felizes Para Sempre-1972.Caixas de papelão e jornais velhos.


INT.APTO.DE ROBERTO E LEONOR-SALA/NOITE
Sala de um apartamento de classe média.O cômodo está vazio, a exceção de um enorme BAÚ DE MADEIRA, desses bem antigos, semelhantes a uma arca.A sala é iluminada por LÂMPADA fraca pendurada por um fio.Uma janela grande no fim da sala está entreaberta.PAPELÕES, JORNAIS VELHOS E CAIXAS de todos os tamanhos, estão espalhados pela sala.

LEONOR, 48 anos, cabelos castanhos escuros, com a raiz branca começando a aparecer e um pouco acima do peso, está sentada em cima do baú com as pernas cruzadas.Ela usa uma CALÇA JEANS surrada e uma CAMISA AZUL ESCURA grande, usada por fora da calça.
Leonor tem nas mãos uma CANECA DE LOUÇA
PD-DA CANECA-com a foto de Leonor e Roberto e os dizeres: Roberto e Leonor: Felizes para Sempre-1972.

VOLTA A CENA

LEONOR
Tão magra, tão feliz e tão iludida.

Close-up-do olhar de Leonor percorrendo a sala vazia.

VOLTA A CENA

BARULHO DE MOTOR DE CARRO
Leonor, deixa a caneca em cima do baú e vai até a janela:
POV LEONOR
Um homem (ROBERTO) salta do carro e nervosamente olha ao redor.

VOLTA A CENA

LEONOR
(sorrindo)
Pontual como sempre.

Roberto ENTRA na sala recuando um pouco diante da escuridão quase total.Roberto possui um aspecto simpático e jovial.

ROBERTO
Leonor?Você tá aí?

Leonor caminha em direção a Roberto.

LEONOR
Aqui.

Leonor oferece a face para ser beijada, mas Roberto hesita.Ele olha ao redor desconfiado.

ROBERTO
Por que você me chamou aqui?Não posso me demorar.Tenho que ir para o aeroporto.

Leonor mete a mão no bolso traseiro do jeans e retira uma CARTEIRA DE CIGARROS, apanha um cigarro bastante amassado e coloca na boca.

LEONOR
Tem fogo?

Leonor sorri maliciosa

ROBERTO
Você sabe que eu não fumo e detesto cheiro de cigarro.

LEONOR
(riscando um fósforo)
Mas ela fuma, não é mesmo?O cigarro dela é perfumado por acaso?

ROBERTO
Não comece Leonor.Não quero falar sobre isso.

LEONOR
(acendendo o cigarro)
Claro que não quer.Por que você se importaria com o cheiro do cigarro da sua amante, não é mesmo?

Leonor dá uma longa tragada, se aproxima de Roberto e sopra a fumaça no rosto dele, falando ao mesmo tempo.

LEONOR
Amantes são sempre tão perfeitas.Arrumadas, sem preocupações com filhos, casa, empregadas e o melhor de tudo:

Leonor levanta um pouco a blusa e acaricia seu sexo.

LEONOR (cont.).
Sempre prontas pra foder.Verdadeiras máquinas de trepar.

Roberto se afasta de Leonor e senta no baú, apanha a caneca e olha para ela com indiferença.

ROBERTO
Detesto quando você é vulgar e ultimamente

LEONOR
Desde de que você começou esse seu casinho com aquela vagabunda que você detesta tudo em mim.

Leonor se aproxima, apanha a caneca das mãos de Roberto e corre o dedo pela superfície do baú.

LEONOR
Esse baú e essa caneca são as únicas coisas que vou levar dos nossos 34 anos decasamento.

Leonor dá uma risada sarcástica.

LEONOR
Além de um belo par de chifres, naturalmente.Mas quem se importa?

Roberto levanta e olha firmemente para Leonor.

ROBERTO
Você torna tudo tão sujo.Eu me apaixonei.E se você não tem nada para me dizer então

Leonor dá uma última tragada, joga o cigarro no chão e amassa-o com pé demoradamente.
Roberto anda de um lado a outro da sala, vai até a janela, debruçando-se sobre o parapeito.

ROBERTO
Eu preciso ir.

Leonor se aproxima de Roberto pelas costas, suas mãos percorrem a base da espinha dele.

LEONOR
Eu quero fazer amor pela última vez com você.Pode ser no chão ou quem sabe ali

Leonor faz um gesto com a cabeça em direção ao baú de madeira.

ROBERTO
Pare com isso Leonor,eu não quero magoar você.

Leonor crava as unhas com força nas costas de Roberto.Ele grita.

ROBERTO
Você enlouqueceu?

LEONOR(sussurrando)
Mágoa?Eu sei tudo sobre esse sentimento.
Aprendi na prática.Volte para mim.

Roberto olha para Leonor e ela recua diante do seu olhar.

ROBERTO
Eu nunca vou voltar pra você.Nunca!
Acabou Leonor.Reconstrua a sua vida.Eu vou reconstruir a minha

LEONOR
(interrompendo)
Como você pode me trocar por aquela piranha?Eu sou a mãe de seus filhos e ela é apenas uma puta.

Leonor avança em direção a Roberto e começa a bater nele com força.

LEONOR (cont.).
Puta, rapariga, prostituta!

Roberto dá um empurrão em Leonor que desequilibra e cai.
Roberto se aproxima, abaixa-se, preocupado.

ROBERTO
Eu só quero ser feliz Leonor.E quero sinceramente que você seja feliz também.

LEONOR
Minha felicidade acabou no dia em que você foi embora.Tudo, agora, está tão escuro, sempre tão escuro.

Roberto vai até a porta, olha com tristeza para Leonor sentada no chão.Leonor olha para ele.

Roberto SAI da sala.

Leonor levanta.Suas roupas, seu rosto e seu cabelo estão cobertos de poeira.

CLOSE-UP – do rosto de Leonor sorrindo

VOLTA A CENA

Leonor abre o baú

POV LEONOR
Dentro do baú estão um cadáver de mulher coberto de sangue, uma maleta de viagem, uma faca suja de sangue e um frasco contendo um líquido amarelo.
CORTA PARA


EXT.APTO.PORTA-LOGO DEPOIS
Leonor encosta-se à porta, de olhos fechados, nas mãos a caneca de louça.
SOM DA PORTA DO ELEVADOR SE ABRINDO
CLOSE-UP –rosto de Leonor chorando- as lágrimas escorrendo pelo rosto sujo de poeira.
CLOSE-UP da fumaça saindo por debaixo da porta.
Leonor limpa o rosto com as mãos e ENTRA no elevador.

FADE OUT

FIM

Roteiro#5 - Amor Bandido

AMOR BANDIDO

PERSONAGENS
Vera – 38 anos. Esposa de Jorge. Executiva de uma empresa do segmento de construção civil. Trai o marido ao envolver-se com um colega de trabalho.
Jorge – 45 anos. Cientista. Marido de Vera. Sente-se intensamente decepcionado ao constatar que fora traído após vários anos de casamento.
Carlos – 40 anos. Amante de Vera. Engenheiro civil.


CENÁRIO
Apartamento de classe média. Deve conter porta de entrada, e janela ampla para a rua.

Objetos cênicos:
Uma camionete cinza;
Um sofá;
Um bar (deve estar equipado com garrafas, copos, etc..)
Uma mesa de centro (deve conter porta-retratos com fotografias de Jorge e Vera, e também do filho de ambos, menino entre 7 a 8 anos).

CENA 1. FRENTE DO PRÉDIO, ONDE MORAM JORGE E VERA. INT/MADRUGADA
RUA DESERTA. UMA CAMIONETE ESTACIONA, E JORGE, ATRAVÉS DA JANELA DE SEU APARTAMENTO, OBSERVA O MOVIMENTO. JORGE, TENSO, BEBE. VERA SAI DA CAMIONETE E DESLOCA-SE ATÉ A FACHADA DO PRÉDIO. REPENTINAMENTE, CARLOS SAI DE DENTRO DO CARRO COM A BOLSA DE VERA NAS MÃOS.

CARLOS
(GRITA)
Vera, Vera.

VERA, QUE ESTÁ DE COSTAS PARA CARLOS, VIRA-SE.

VERA
Você enlouqueceu?

CARLOS
A sua bolsa.

VERA
Quanta distração!

VERA PEGA A BOLSA E CARLOS, IMPULSIVAMENTE, DÁ UM DEMORADO BEIJO NA BOCA DA AMANTE. JORGE, QUE PERMANECE EM FRENTE À JANELA, LEVA UM CHOQUE, TRAGANDO TODO O UÍSQUE EM UM SÓ GOLE. APREENSIVA, VERA CESSA o BEIJO.

VERA
Acho que perdi a cabeça.

CARLOS
Eu não resisti ao seu charme.

VERA
Nunca mais faça isso.

CORTA PARA:

CENA 2. SALA DO APARTAMENTO DE VERA E JORGE. INT/MADRUGADA
NERVOSO, JORGE DIRIGE-SE ATÉ O BAR, ONDE SERVE-SE DE UÍSQUE. VERA CHEGA CANTANDO TRANSAS (MÚSICA INTERPRETADA POR RITCHIE). ELA FICA SURPRESA.

VERA
Ainda acordado, meu amor?

JORGE
Você sabe que horas são?

VERA
(COMPORTA-SE NATURALMENTE)
Trabalho, querido. A empresa tá fechando um novo contrato.

JORGE
Mais uma reunião noturna?

VERA
Foi. Que mal há nisso?

JORGE
O Carlos participou dessa reunião?

VERA
Você tá sendo infantil. O meu relacionamento com o Carlos é estritamente profissional.

JORGE
(IRÔNICO)
O beijo que o Carlos te deu há poucos minutos atrás, aqui na frente do prédio, também foi profissional?

VERA FICA SEM PALAVRAS. SENTA-SE NO SOFÁ.

VERA
Você tá brincando comigo.

JORGE
Mas você é muito cínica mesmo. Nem nosso filho, que dorme como um anjo inocente, você respeita.

VERA
Beijei sim, não nego, mas foi um beijo de amizade, de coleguismo, nada mais.

JORGE
(EXTREMAMENTE IRRITADO)
Cala essa boca. Chega da tanta mentira. Eu tô com muito nojo de você, Vera.

VERA LEVANTA-SE DO SOFÁ E BAIXA A CABEÇA.

VERA
Eu não tenho culpa se me apaixonei por um outro homem.

JORGE
(MAIS CALMO)
Como fui um idiota. Desconfiei, mas nunca imaginei.

VERA
Não sei como é que aconteceu. Acho que convivi muito com o Carlos nesse último ano.

JORGE
Não te dei amor suficiente? Foi falta de sexo?

VERA
(INTROSPECTIVA, ENCARA O MARIDO)
Eu nunca deixei de te amar, mas os meus sentimentos em relação a você foram se transformando com o passar dos anos: eu comecei a te enxergar mais como um pai, um irmão mais velho. Aquele tesão que eu tinha por você foi dando lugar a amizade, a cumplicidade, e o Carlos, ah, deixa pra lá.

JORGE
Seja sincera comigo, pelo menos uma vez na vida.

VERA
O Carlos me despertou desejo, me reacendeu. Eu me sento amada.

JORGE
Você quer dizer que renasceu nos braços de um estranho?

VERA
É duro dizer, mas a gente se dá bem em todos os sentidos, principalmente na cama.

JORGE
Ele só objetiva sexo com você. Conheço muito bem aquele tipo.

VERA
Tem também muita paixão.

JORGE
Te amar como eu te amei, ninguém mais vai te amar.

VERA
O que você propõe?

JORGE
Eu não quero mais viver com você.

VERA
Talvez seja melhor assim, mas é cedo para tomarmos atitudes precipitadas. Precisamos rever nossas vidas, onde falhamos.

JORGE
Eu vou arrumar as minhas malas.

JORGE RETIRA-SE. VERA APROXIMA-SE DA JANELA E OBSERVA A RUA ESCURA E VAZIA. DESSA MANEIRA COMEÇA A CHORAR.

*** FIM ***

Roteiro#6 - Com todo respeito

COM TODO O RESPEITO

PERSONAGENS
EDUARDO
MARTA

CENÁRIO
Sala do Apartamento Medeiros


Objetos Cênicos:
Fotos, mesa de centro, bebida, copo, pasta de executivo, sofá e quadro com foto do casal.


CENA 1: SALA DO APARTAMENTO MEDEIROS. INT. DIA
MARTA OBSERVA AS FOTOS QUE RECEBEU DA DETETIVE HÁ POUCAS HORAS ATRÁS. DE QUANDO EM VEZ, GOLEIA UM UÍSQUE, LEVANTA-SE, CAMINHA E SENTA NOVAMENTE. DE REPENTE EDUARDO CHEGA.

EDUARDO
- Oi, me desculpe não ter te ligado, mas é que essa viagem surgiu de repente... Sabe como é... Negócios... (LARGA A SUA PASTA DE EXECUTIVO)

MARTA
- Sei, mais uma viagem de negócios... (IRÔNICA) E eu acredito em papai noel...

EDUARDO
- Marta, você não vai começar de novo, vai?

MARTA
- Eu não entendo, Eduardo... O seu trabalho nem exige que você viaje tanto. Isso nunca aconteceu. De repente desandou essa onda de viagens...

EDUARDO
- Eu não vou discutir com você. Já se foi o tempo em que eu chegava em casa e você vivia me cobrando. (PAUSA/SUSPIRA) Tem alguma coisa pra comer? Eu tô com uma fome...

MARTA
- Eu acredito que você esteja esfomeado. (DEBOCHANDO) Afinal, exercícios forçados, ainda mais na sua idade, dão uma fome de leão.

EDUARDO
- Aonde você quer chegar com isso tudo, mulher?

MARTA
- Onde eu quero chegar? (FIRME) A isso aqui! (JOGA AS FOTOS EM CIMA DA MESINHA DE CENTRO DA SALA) As fotos de suas viagens.

EDUARDO JUNTA AS FOTOS E AS OLHA PERPLEXO.

EDUARDO
(SURPRESO)
- O que é isso? Agora botou alguém para me vigiar?

MARTA
- Ah! (TOM) Quer dizer que você não ficou surpreso com o fato de eu ter em mãos uma dezena de fotos suas com uma vagabunda e sim por eu ter posto alguém para te vigiar?

EDUARDO
- Você não devia ter feito isso...

MARTA
- Claro, eu deveria ter ficado aqui pensando que você estava em uma viagem de negócios, quando você entrava no entardecer em um motel, há três quarteirões daqui, com uma mulherzinha qualquer e só saía pela manhã? Você é muito cafajeste mesmo!

EDUARDO
(GRITANDO)
- Você! Você é a culpada disto! Você que me fez procurar o amor nos braços de outra mulher!

MARTA
(ENLOUQUECIDA)
- Canalha! Você sempre foi um canalha! Quantas e quantas noites eu fiquei aqui, fazendo um jantar, escolhendo vinho, acendendo velas e ficando mais bonita, me arrumando, até lingerie nova eu comprava. (VOZ EMBARGADA) Mas aí, passavam as horas... A comida esfriava, a vela ia se apagando e eu me deitava nesse sofá e ficava esperando por quem não aparecia...

EDUARDO
(TOM)
- É que você nunca foi compreensiva comigo. Nunca foi carinhosa... Sempre faltou algo...

MARTA CAMINHA VAGAROSAMENTE ATÉ A PORTA E ABRE-A.

MARTA
- Antes de você sair por essa porta... E nunca mais voltar... (RESPIRA FUNDO) Eu quero que você ouça uma coisa, que eu espero que você nunca mais esqueça. Lembra-se daquela vez em que você foi preso, porque andava com gente que não prestava... Não que eu não tivesse te aberto os olhos, mas você nunca me ouviu... Depois de um certo tempo na prisão, você foi solto e se enfurnou dentro desta casa. Não queria mais visitar nossos amigos, não queria mais voltar ao seu trabalho. Então eu te puxava e dizia: “Vamos homem, se anime. Bola pra frente!” Eu fui por tudo com você, te acompanhei, te defendia, dizia que você tinha sido injustiçado, que era inocente... Cheguei a perder o meu emprego numa escola particular, por que faltei várias vezes por causa de você, Eduardo. (TOM) E então as coisas esfriaram e o Eduardo voltou a sua vida normal! Me responda! Isso não é ser compreensiva? Não é ser carinhosa?

EDUARDO
(ARREPENDIDO)
- Marta, eu...

EDUARDO TENTA SE APROXIMAR DE MARTA, QUE SE AFASTA.

MARTA
- Saia, Eduardo. Eu não quero mais te ver. Apareça nesta casa amanhã, apenas para buscar as suas roupas que eu vou pedir para a Judite arrumar.

EDUARDO
- Me ouça, eu quero...

MARTA FAZ SINAL PARA EDUARDO SAIR. EDUARDO APANHA A SUA PASTA E RETIRA-SE. MARTA FECHA A PORTA E CHORA. VAI ANDANDO PELA SALA ATÉ VER UM QUADRO DELA COM EDUARDO. ENTÃO PEGA O COPO E ATIRA SOBRE A FOTO. DEITA NO SOFÁ E CONTINUA CHORANDO.

***FIM***

Roteiro#7 - Declaração de Amor

“ DECLARAÇÃO DE AMOR”

PERSONAGENS
ANDRÉ – 33 anos. É um advogado. Sempre chega tarde em casa.
MARINA – 29 anos. Esposa de André. É bonita, mas obssessiva, acha que está sendo traída pelo marido.
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL : AMIGA DE MARINA (na secretaria eletrônica)

CENÁRIOS
CADA DE ANDRÉ / INTERIOR (SALA)

OBJETOS CÊNICOS
Mesinha de madeira com enfeites e porta – retratos, e um arranjo de plantas no centro.
Um sofá bege ou marrom de três lugares
Uma bela cortina branca
Sala simples e pequena, mas caprichada na decoração.


FADE IN
CENA 1. CASA DE ANDRÉ. INTERIOR / SALA.
MARINA SE LEVANTA DO SOFÁ IMPACIENTE E COMEÇA A ANDAR DE UM LADO PARA O OUTRO. DE REPENTE, MARINA PEGA UMA BOLSA, QUE ESTAVA EM UMA MESINHA. MARINA ESTÁ COM UMA CAMISOLA BEGE.
P.V. DE MARINA.
MARINA ABRE A BOLSA E PEGA UM CELULAR.MARINA ESTÁ NERVOSA. EM SEGUIDA, VEMOS RAPIDAMENTE A JANELA, QUE ESTÁ COM UMA CORTINA BRANCA.
MARINA APERTA UM BOTÃO DO CELULAR, E OUVIMOS UMA MENSAGEM DA SECRETÁRIA ELETRONICA.

UMA AMIGA
(EM OFF)
Marina, você não sabe o que aconteceu. Não tem a Manoela?

MARINA APERTA UM OUTRO BOTAO DO CELULAR PARA IR À PRÓXIMA MENSAGEM.

MARINA
Uma mensagem do André!

DE REPENTE, UMA MENSAGEM DE ANDRÉ

ANDRÉ
Marina, vou chegar um pouco mais tarde hoje porque estava resolvendo uns problemas para um cliente, mas não se preocupe, já estou a caminho de casa.

MARINA FICA DE COSTAS PARA A CAMERA. OUVE-SE UM BARULHO DE CHAVE ABRINDO PORTA. MARINA SE VIRA PARA A CAMERA. ANDRÉ ENTRA.

MARINA
(NERVOSA)
André, ainda bem que você chegou,eu...

ANDRÉ INTERROMPE.

ANDRÉ
O que é isso, Marina? Ainda acordada?

MARINA
Isso são horas de chegar em casa, André? Com quem você estava? Estava me traindo, não estava? Quem é ela?

ANDRÉ
Eu estava trabalhando, tive que resolver um problema para um cliente.

MARINA
Essa hora?

ANDRÉ
Marina, você sabe muito bem como é o trabalho de um advogado. Tenho que pensar no melhor para os meus clientes. Marina, nunca te trai um minuto se quer.

MARINA
(aumentando a voz)
Você sempre vem com a mesma desculpa, André. Eu não sou sua cliente, sou sua esposa.

ANDRÉ
Pena que só agora você lembra disso, né?

MARINA
(abaixando a voz)
– André, eu...

ANDRÉ
(GRITA)
Marina, se você continuar assim, vou pedir o divórcio.

MARINA
(CHOROSA)
Ah, não vai não porque quem vai pedir o divórcio sou eu. Você não me ama mais.

ANDRÉ
Quem disse que não? (T) Você está obsessiva. Isso ta ficando insuportável.
MARINA SE AJOELHA AOS PÉS DE ANDRÉ, QUE TENTA SE AFASTAR O MÁXIMO QUE PODE.

MARINA
(calma)
André, você me ama?

ANDRÉ
Você sabe que sim, Marina.

MARINA SE LEVANTA. ANDRÉ COMEÇA A DESABOTOAR O PALETÓ.
CLOSE EM MARINA

MARINA
Você nunca mais disse que me ama.

A CAMERA FOCALIZA ANDRÉ, QUE JOGA O PALETÓ NO SOFÁ.

ANDRÉ
Então estou dizendo agora.

ANDRÉ ESTÁ TIRANDO O RESTANTE DO TERNO, E MARINA SEGURA OS BRAÇOS DELE.

MARINA
Fala “eu te amo”!

ANDRÉ
(cont...)
Precisa? (T). Você está machucando o meu braço

MARINA
MARINA SOLTA OS BRAÇOS DE ANDRÉ. CLOSE RÁPIDO EM MARINA.

MARINA
André, uma mulher precisa se sentir amada.

ANDRÉ
E você não tem amor próprio?

MARINA
(chorosa)
O seu amigo Artur vive elogiando a esposa. É tão bonito ver um casal assim.

ANDRÉ
Com a esposa que o Artur te qualquer um diria “eu te amo”.

MARINA
(GRITA)
André como se atreve? Diz na minha cara que não sou digna de um “eu te amo”? (T) Na minha própria casa tenho que ficar ouvindo isso do meu marido? Nem aquele casal ridículo que é seu amigo merece isso. (T) André, você...

ANDRÉ
Eu te amo Marina eu te amo mais que tudo nesse mundo.

MARINA
Ama mesmo?

ANDRÉ
(BEIJANDO OS DEDOS)
Juro que sim.

MARINA
Então vamos dormir.

A CAMERA FOCALIZA RAPIDAMENTE O PALETÓ DE ANDRÉ JOGADO NO SOFÁ. LEMBARNDO QUE ANDRÉ ESTÁ APENAS COM A CALÇA, E A CAMISA QUE ESTAVA POR DENTRO DO PALETÓ.

ANDRÉ
Marina, amanhã vou chegar um pouco mais tarde em casa.(T) É que vou ter que resolver uns problemas para um cliente.

MARINA
Tudo bem. (T) Eu também te amo muito André. (T) Nada de divórcio? A partir de hoje seremos uma família feliz.

ANDRÉ
Muito feliz.

OS DOIS ESTÃO EM PÉ. ELES SE BEIJAM.
APARECE ESCRITO EM NEGRITO E ITALICO NO CENTRO DA TELA: FIM
FADE OUT.

Roteiro#8 - É do Brasil...

È... do Brasil!

Personagens:
MARIDO: entre 25 e 30 anos. É sacana e esperto.
MULHER: entre 25 e 30 anos. Típica loira burra. Acha que é esperta.

Cenário:
Apartamento Duplex. Uma sala comum, com dois sofás colocados no centro repletos de almofadas.
Uma escada sobe sem intervalos da sala até um mezanino.

Principais objetos:
Várias almofadas.

CENA 01 . APARTAMENTO . INTERIOR . NOITE

MULHER
(OFF e gritando)
Cachorro, canalha; seu mulherengo!

Esposa joga uma almofada tentando acertar o marido no alto do mezanino. Está completamente irritada e desvairada enquanto Marido demonstra estar impassível.

MARIDO
(com voz macia)
Calma, meu anjo. Você entendeu tudo errado. Eu não estava agarrando a Laura, só estava tirando umas bolinhas de pelo do casaco dela.

MULHER
Tirando bolinhas do casaco dela? Seu galinha; seu mentiroso! Tirando bolinhas da frente do casado agarrado pelas costas dela? Não era mais fácil pedir para ela ter tirado o casaco?

Marido começa a descer a escada do mezanino enquanto fala com Mulher.

MARIDO
Você tem toda a razão. Não sei como não pude pensar nisso antes. Não devia ter deixado ela me enganar.

MULHER
Pare por ai mesmo. Não dessa mais nenhum degrau dessa escada. Nos casamos em comunhão de bens, você se lembra? Meio a meio. Metade desse apartamento é meu, e você não vai pisar na parte que me pertence.

MARIDO
Mais meu amorzinho...

Mulher lança em Marido uma outra almofada, fazendo com que ele recue da escada e volte para o lugar onde estava.

MULHER
(INTERROMPENDO O MARIDO)
E não me chame de amorzinho!

MARIDO
Tudo bem, meu anjo. Mais você está se precipitando. Nem mesmo falou com um advogado!

MULHER
Não preciso falar com advogado nenhum! Sei exatamente dos meus direitos e você vai cumpri-los direitinho.

MARIDO
(TENTANDO ACALMAR MULHER)
Vamos fazer o seguinte. Amanhã nos vamos conversar com nosso advogado e resolver isso da melhor maneira. Você vai ver que essa sua idéia de divórcio é só passageira, assim como foram as outras.

MULHER
(grito forte e estridente)
AAAAAAAHHHHHHHHH!!!!!!!!!!

Mulher lança em Marido três almofadas ao mesmo tempo.

MARIDO
Tudo bem, eu concordo com o divórcio, está bem? Só me deixa descer as escadas e sair pela porta. Só tenho mais dez minutos para subir até o apartamento do Paulo antes de começar o jogo...

MULHER
Saia pela janela e suba pelas paredes. Aposto que sua mão tá grudando mais do que a do homem-aranha depois de você ter agarrado aquela melosa da Laura.

Marido mostra feição de irritado e vai até a escada, descendo aos poucos cada degrau enquanto fala com Mulher.

MARIDO
(PERDENDO UM POUCO A PACIENCIA)
Olha, escuta. Primeiro: a escada está entre a parte de cima e a parte de baixo do apartamento, então tanto eu quanto você podemos passar por ela. Segundo: prometo que nunca mais vou cair nos planos da Laura pra tentar nos separar. Terceiro: o jogo das semifinais do Brasil já está começando. E isso significa três coisas: Uma: que não se pode perder uma partida de semifinal do Brasil na Copa; Duas: o Paulo já tirou a cerveja do freeser e ela já está perdendo o gelo; Três: o Marcão vai dar um churrasco no terraço depois do jogo. Resumindo: Ninguém faz sexo melhor do que você!

Marcos está em frente à Mulher e lhe dá um sensual selinho na boca. Coloca ela de lado e sai pela porta.
Mulher está com a almofada apertada contra o peito. Dá mordiscadas sensuais em seus lábio e um sorriso sacana. Sai andando pela sala como uma mocinha apaixonada pegando no chão algumas almofadas jogadas e arrumando-as no sofá.
Senta no sofá olhando para o nada, dá um suspiro de prazer e afunda-se ainda mais no sofá, se escondendo entre as almofadas. Ouvimos alguns gemidos de prazer.


*** FIM ***

Roteiro#9 - Uma Pergunta

Uma Pergunta

PERSONAGENS
Luciano – homem na faixa dos 40 anos
Fernanda – mulher na faixa dos 30 anos

CENÁRIO
Quarto do casal

Objetos cênicos:
Cama, criado mudo, móvel com aparelho de tv, roupeiro, controle remoto tv

CENA 1. QUARTO INT. DIA
Mulher, enrolada numa toalha e com outra toalha na cabeça, entra no quarto saindo do banheiro, olha para o marido e pergunta

FERNANDA
Luciano, posso saber o que você está pensando? Está tão quieto...

Homem sentado na cama, assistindo televisão, suspira e responde

LUCIANO
Nada, ou melhor na sua pergunta...Por que me pergunta sempre isso? Não está vendo, estou vendo um filme.

Mulher senta na cama, tira toalha da cabeça, ajeitando os cabelos, olha para televisão e diz:

FERNANDA
Eu já sei, você prefere a ela. Você prefere a ela, que a mim. Só presta atenção no que ela diz, no que ela te mostra. Por que?

LUCIANO
(irritado)
Fernanda, você está maluca. Não suporto mais essas acusações. Eu vivo para você, faço tudo para você, dou tudo para você. Você é a única mulher que eu quero.
Fernanda levanta e caminha até a frente da televisão

FERNANDA
(em tom de ironia)
Eu não estava falando de outra mulher, eu estava falando dela (aponta para televisão). Mas agora quero saber que história é essa de outra mulher?

Luciano desliga a Tv no controle remoto, olha para mulher e diz.

LUCIANO
(se desculpando)
Meu amor eu te amo, eu pensei que você estava falando outra coisa, bobagem ...daquela minha ex-namorada...antiga, lembra que já discutimos tanto?
Fernanda sai da frente da tv e se dirige de volta para o banheiro, falando

FERNANDA
Tudo bem. Eu não vou ficar brigando por causa dela.
Fernanda entra no banheiro

LUCIANO
(em voz baixa fala para si mesmo)
De quem será que ela estava falando? da tv ou da outra mulher? Melhor nem saber, ela tem cada pergunta!

Luciano liga a Tv no controle remoto e continua a assistir o filme.

*** FIM ***

Roteiro#10 - Discussão entre Marido e Mulher...

DISCUSSÃO ENTRE MARIDO E MULHER,SOBRE TRAIÇÃO AMOROSA

PERSONAGENS
Henrique: 41anos, descendente de italiano, atraente com estatura mediana, pele clara que contrasta com olhos castanhos escuros e cabelos grisalhos. Profissional da área de vendas, formado em Marketing. Personalidade: Vaidoso, mas muito melindroso, porém não deixa transparecer. É trabalhador, criativo, ambicioso, mas uma certa ingenuidade aliada à vaidade que costumam atrapalhar a sua vida profissional. Bom pai valoriza muito há família, mas se sente inferiorizado na relação com a esposa, por ser de uma família mais humilde, menos estruturada que a dela e por ela ter mais sucesso em seus projetos. Hobby: Música, cinema e pintar nas horas vagas.

Claudia: 38 anos, bonita e charmosa, extrovertida, pele clara, cabelos castanhos escuros e olhos verde oliva. Formada em Relações Públicas atuando em eventos empresariais. Personalidade: Extrovertida, forte e marcante. É romântica e prática. Muito versátil e impaciente. Boa mãe adora os filhos. Se sente insegura na relação devido aos altos e baixos da vida profissional do marido, a qual atribui a uma certa ingenuidade. Por outro lado, o romantismo atrapalha a sua relação afetiva com ele, pois espera demais. Adora astrologia e numerologia. Hobby: Dançar, ler e escrever, cinema.


CENÁRIO
Apartamento de classe média com uma sala de estar confortável, assoalho de madeira.Bem decorada, em um formato quadrado com um pequeno corredor que dá passagem para o restante do apartamento. Ao lado da porta de entrada, a parede é em cor verde fendi para dar destaque ao aparador branco em estilo provence com um grande espelho. Em frente, do lado oposto, um sofá confortável, na cor verde fendi, de três lugares, com três almofadas nas cores: creme e vermelha. Um quadro de flores suaves pendurado na parede atrás, em cor branca, a sua esquerda uma mesa quadrada de ferro dourado e vidro com um abajur com pé de também de ferro e cúpula creme em tecido, além de enfeites atuais. À direita do sofá, um vaso médio branco, porém alto, com uma planta estilo coqueiro. Nas paredes laterais – também em cor branca, à esquerda, outro sofá, com dois lugares na mesma cor que o primeiro, e uma almofada de cetim verde musgo. Na parede atrás, uma pintura moderna e colorida em tons suaves de vermelho, verde, branco e dourado, com mais outra mesa, porém menor, de ferro dourado e vidro retangular com enfeites. Na parede oposta uma cortina de tecido leve com bordados suaves, com forro, na cor creme. À direita da porta uma poltrona cor de cereja com almofada branca. Um tapete de sisal na cor creme no assoalho complementam o requinte do ambiente.

Objetos cênicos: Espelho grande dourado ao centro de um aparador antigo branco patinado em estilo provençal, um pequeno cinzeiro de cristal transparente, um maço de cigarros e um isqueiro comum vermelho. Dois porta-retratos médios na mesa lateral menor que exibem fotos de dois filhos adolescentes e outro do casal mais jovem.

CENA 1 – INTERNA – NOITE –
O AMBIENTE É ILUMINADO PELA LUZ DO ABAJUR E A DO CORREDOR QUE DÁ CONTINUIDADE PARA O INTERIOR DO APARTAMENTO. ENTRADA DO LIVING, EM FRENTE AO GRANDE ESPELHO DO APARADOR. CLAUDIA ESTÁ OLHANDO ESTATÁTICA EM SUA DIREÇÃO - PARALIZADA PELA DESCOBERTA DA TRAIÇÃO DE ENRICO, A IMAGEM REFLETIDA. COLOCADO EM CIMA DO APARADOR, ALÉM DOS OBJETOS DE DECORAÇÃO ESTÁ UM MAÇO DE CIGARROS E UM CINZEIRO DE CRISTAL DISCRETO. A NARRATIVA COMEÇA EM OFF ENQUANTO CLAUDIA SE VÊ NO ESPELHO SORRINDO.

Claudia off: Eu olhava a imagem refletida no espelho... Uma mulher dizia algo que eu não entendia. Eu me vi, mas não acreditei ser eu. Estava assustada! Os pensamentos rodopiavam sem nexo em minha mente e senti uma vertigem. Abaixei a cabeça me apoiando com as duas mãos no aparador branco, respirei profundamente, procurando afastar o delírio e tornei a me olhar no espelho. A imagem permanecia e agora sorria dizendo:
CORTA

CENA 2 – INTERNA – NOITE –
PV DO ESPELHO PARA CLAUDIA.
Espelho off: ( Em tom irônico) - Vai, volta lá e diz pra ele também, que você o traiu!. Larga de ser cínica e enfrenta. Vai... Vai logo!
CORTA

CENA 3 – INTERNA – NOITE –
PV DE CLAUDIA OLHANDO SUA IMAGEM NO ESPELHO QUE SORRI ENQUANTO SUA VOZ INTERNA SE DIRIGI INDAGADORAMENTE AO ESPELHO.

Claudia off: - Quem é você? Estou ficando doida.(sacode a cabeça, negando a situação e em seguida, abaixando-a. Tenta fugir da imagem, mas continua perguntando) - Mas, quem é você?! (ela termina a frase ainda com cabeça baixa)
CORTA.

CENA 4 – INTERNA – NOITE –
PV DO ESPELHO OLHANDO PARA CLAUDIA QUE ESTÁ COM A CABEÇA BAIXA.

Espelho off: (responde ainda em tom irônico) - Não negue quem eu sou, você sabe! Vai logo! Está perdendo a oportunidade que tanto queria. Não era isso? De repente, você esqueceu o quanto desejou que ele arrumasse alguém? Então, assuma!
CORTA

CENA 5 – INTERNA – NOITE –
CLAUDIA PV DO ESPELHO LEVANTA LENTAMENTE PRIMEIRO A CABEÇA, DEPOIS O OLHAR, AGORA FIRME, DESAFIANDO A IMAGEM DO ESPELHO ENQUANTO OUVE-SE A NARAÇÃO DELA OFF.

Claudia off: Eu levantei os olhos, e enfrentei a imagem do espelho, sem nada responder, porque não sabia o que dizer, mas tinha de enfrenta-la!
.CORTA.

CENA 6 – INTERNA – NOITE –
CLAUDIA SE VIRA E TEM UMA VISÃO GERAL DA SALA E CAMINHA, PARA O OLHAR POR SEGUNDOS NOS PORTA-RETRATOS, E EM SEGUIDA VAI EM DIREÇÃO AO SOFÁ, COM DESENVOLTURA EM PASSOS ALTIVOS, ONDE ENRICO ESTÁ SENTADO COM A CABEÇA BAIXA, APERTANDO AS MÃOS NERVOSAMENTE. ELA SENTA AO SEU LADO E DIZ:

Claudia: - ( tom de revolta) Você não, Enrico! É impossível! Eu sempre achei que você era diferente dos outros homens! Você... Não!(sacudindo novamente a cabeça) Nunca pensei que pudesse acontecer! Você sempre disse que casamento era para sempre! Como? CORTA.

CENA 7 – INTERNA – NOITE –
CLAUDIA CONTINUA OLHANDO ENRICO QUE PERMANECE MUDO. EM UM IMPULSO LEVANTA RAPIDAMENTE E CAMINHA NOVAMENTE ATÉ O APARADOR, MAS NÃO OLHA PARA O ESPELHO, PROCURA O MAÇO DE CIGARROS, PEGA UM E O ASCENDE, DÁ UMA TRAGADA COM OS OLHOS FECHADOS. CORTA. A CENA ACONTECE AO MESMO TEMPO DA NARRATIVA OFF.

Claudia off: - Eu não esperei, Enrico responder. Eu não podia! E me levantei. Aquele não era o homem que eu conhecia. Onde estava a ingenuidade dele? Que iludida! Caminhei novamente em direção ao aparador, mas não me atrevi a olhar no espelho, peguei um cigarro do maço em cima do móvel e o ascendi. Porém, escutei de novo, aquela voz, que parecia ser minha, mas que eu não a credenciava como tal.
CORTA.

CENA 8 – INTERNA – NOITE –
CLAUDIA DO PV OLHOU O SEU REFLEXO NO ESPELHO, O PV VAI FECHANDO ATÉ OS OLHOS.

Espelho off: - (tom desafiante) Não teve coragem! Amarelou? Vai continuar no papel de Santa? FECHA E SIMULTANEAMENTE A VOZ DE ENRICO SURGE ATRÁS DE CLAUDIA SALVANDO-A DA CONFRONTAÇÃO COM O SEU AVESSO.

Enrico off: - Eu sabia que você não ia me perdoar!
CORTA.

CENA 9 – INTERNA – NOITE –
PV DE ENRICO VÊ CLAUDIA APAGAR O CIGARRO, GIRAR O CORPO EM SUA DIREÇÃO ENQUANTO ELA FALA INDIGNADA COM A TRAIÇÃO.

Claudia: - Porquê, Enrico? Por que você tinha que me contar? Prá me magoar? Humilhar?
CORTA.

CENA 11 – INTERNA – NOITE –
CLAUDIA PV OLHA NOS OLHOS DE ENRICO QUE ESTÃO FULMINANDO-A. ELA DESVIA O OLHAR. ENRICO FICA EXALTADO COM O QUE ELA DIZ E COM AS MÃOS SEGURA OS BRAÇOS DELA FIRME, FORÇANDO-A CONTINUAR OLHANDO EM SEUS OLHOS ENQUANTO FALA.

Enrico: - Você não queria saber o motivo de eu não voltar? Então é isso! ( pausa) Eu dormi com outra, porque? Volúpia! Tesão! Nada próximo a amor, entende?( solta os braços dela ) Eu desisti de nós!
CORTA.

CENA 12- INTERNA – NOITE –
ENRICO FICA CALADO APÓS O DESABAFO, MAS OBSERVA CLAUDIA DE COSTA ESPERANDO QUE ELA DIGA ALGO. ESTA ANDA EM DIREÇÃO ATÉ O SOFÁ E SE SENTA ENQUANTO OUVE-SE A FALA DELA, EM OFF, EM SEGUIDA MURMURANDO SUA CONSTATAÇÃO. SEM RESPOSTA ELE GRITA REVOLTADO. POR ÚLTIMO, A FALA DELA EM OFF COM CLOSE DO SEU OLHAR.

Claudia off: - Eu não consegui! Eu não pude escutar o final da declaração. E comecei a sussurrar: - Ele não me quer faz tempo. Não me toca, não me procura ...Eu que não quis perceber!

COMO ELA NÃO RESPONDE, ENRICO FICA NERVOSO E COMEÇA A GRITAR.

Enrico: - ( gritando)Vê? Você não escutou nada do que eu disse? Eu desisti de nós!

Claudia. È isso! Eu não posso voltar mais pra casa, entendeu? Não dá! (Sai andando em direção dela enquanto ela levanta rapidamente para tentar se desvencilhar dele. Close no seu olhar aflito).

Claudia off: - O momento era muito tenso, denso mesmo, um vendaval. Doía no corpo e morria na alma. Continuei fingindo não escutar, preferi fugir e voltar até o espelho, a ter de encará-lo. Mas... Acho que não merecia trégua naquele momento.
CORTA.

CENA 13- INTERNA - NOITE –
CLAUDIA PV OLHA PARA A SUA IMAGEM NO ESPELHO QUE FALA COM ELA NOVAMENTE. EM SEGUIDA, OUVE-SE A NARRATIVA DELA EM OFF ENQUANTO ELA PERMANESCE SE OLHANDO NO ESPELHO.

Espelho - Você não vai deixar ele pensando que é um canalha? Só ele desistiu de vocês? Esqueceu o que disse pra ele: - O meu príncipe virou um sapo! O que esperava? Aplausos. Por Deus! Ele é um homem, e não um rato. Fique feliz! Ele fez exatamente o que você tanto desejava.

Claudia off: Eu me olhei no espelho, me senti acuada com o discurso dos dois. Eles estavam sendo implacáveis comigo.
CORTA.

CENA 14- INTERNA- NOITE –
ENRICO PV A SEGUE ATÉ O ESPELHO, GIRA-A DE FRENTE PARA ELE, DE MANEIRA BRUSCA E A SOLTA EM SEGUIDA COMO ESTIVESSE OUVIDO O QUE DIZIA O ESPELHO.

Enrico: - (tom irônico) Lembra, querida? (tom raivoso) Eu sou um sapo! Feio e que não lhe dá segurança. Melhor! Ingênuo. Vivo tentando várias coisas, e dinheiro? Nada! Foi isso que você me disse. Esqueceu? (muda o tom de voz para desafiador). Então eu decidi que merecia ter outra mulher! Pronto... Agora acabou de vez!

FECHA EM CLOSE NO ROSTO DELE E OUVE-SE A NARRATIVA DE CLAUDIA OFF.

Claudia off: - Enquanto ele me dizia aquelas coisas, o olhar dele refletia o seu ego vaidoso, a ira escondida por tanto tempo e a vingança finalmente desvendada. Sim, ele precisava contar, não porque era um cara honesto, ou mesmo, por estar arrependido: Era o prazer da vingança. O véu caíra. Ao mesmo tempo, o meu avesso refletido no espelho aguardava uma atitude.
CORTA

CENA 14- INTERNA - NOITE –
CLAUDIA VIRA-SE APROCURA DE SUA IMAGEM NO ESPELHO E FALA EM OFF ENQUANTO SE VÊ NOVAMENTE RINDO.

Claudia off: - Não vou dizer nada! Entendeu? Mais do que tentar ferir a vaidade dele, aliás, é o que você mais quer, eu vou me calar e continuar ser a “Santa”( tom irônico). Esta é a máscara que escolho pra mim! Este é meu decreto!...
CORTA E VAI PARA ENRICO.

CENA 15-INTERNA- NOITE –
ENRICO COLOCA AS MÃOS NO BOLSO DO CASACO E PARTI. OUVESSE A VOZ OFF DE CLAUDIA TRANQUILA DECLARAR O FIM DO RELACIONAMENTO.

Claudia off: - O silêncio selou um pacto com o meu avesso e encerra meu caminho com Enrico.

****FIM****

Roteiro#11 - Cotidiano

"COTIDIANO"

PERSONAGENS
ADERBAL – 45-50 anos. Barriga protuberante, camisa sempre aberta, barba por fazer, cabelos com “sinais” grisalhos, permanentemente em desalinho. Estilo “malandro”.
EDLEUZA – 35-40 anos. Aparenta ser mais velha do que realmente é. Cabelo extremamente liso, comprido e negro, preso num “coque”. Vestido recatado, de estampas floridas, “cafona”. Sem maquiagem ou adorno.

CENÁRIO
Uma sala típica de um apartamento de classe média, sem requintes de decoração. Um conjunto de sofá – 2 e 3 lugares, com uma mesinha de centro, um tapete de estampa simples e uma estante, onde se encontra o aparelho de TV. Há poucos quadros na parede.

Objetos cênicos:
Garrafas de cerveja long neck (duas garrafas vazias sobre a mesinha e uma com o personagem), novelo de lã, agulhas de tricô.
OBS.: As seqüências na forma de flashes de Aderbal são diferentes a cada inserção, como são diferentes as mulheres em cada uma delas. Na seqüência de Edleuza, ela aparece de cabelos soltos, sensual, oposta à imagem que dela se tem até então.

FADE IN

CENA 1. SALA. INT/EXT. NOITE
PAN da sala. Aderbal está sentado diante da TV, “esparramado” no sofá de 3 lugares,com os pés sobre uma mesinha de centro à frente, assistindo ao futebol, com uma garrafa de cerveja long neck numa das mãos. Edleuza está sentada no sofá de 2 lugares, fazendo tricô.

EDLEUZA
(sem desviar os olhos do tricô)
Você tá me traindo?

MONTAGE SEQUENCE (NA FORMA DE FLASHES RÁPIDOS) :
A) ADERBAL ABRAÇANDO UMA MULHER LOURA; B) ADERBAL TROCANDO BEIJOS APAIXONADOS COM A MESMA MULHER LOURA; C) ADERBAL NA CAMA COM A MULHER LOURA.

ADERBAL
(sem desviar os olhos da tv)
Hein?

EDLEUZA
(ainda sem desviar os olhos do tricô)
Você tá me traindo?

ADERBAL
Como...?

EDLEUZA
Você tá me traindo?

ADERBAL
Eu?

EDLEUZA
(interrompendo o tricô e olhando para Aderbal)
Uai, tem mais alguém nessa porcaria de sala?

ADERBAL
(olhando para os lados)
Bem, Edleuza, que eu saiba, não...

EDLEUZA
Então...?

ADERBAL
(empertigando-se na poltrona)
Então o que?

EDLEUZA
Você tá me traindo?

MONTAGE SEQUENCE (NA FORMA DE FLASHES RÁPIDOS. DIFERENTE DA SEQÜÊNCIA ANTERIOR) :
A) ADERBAL ABRAÇANDO UMA MULHER MULATA; B) ADERBAL TROCANDO BEIJOS APAIXONADOS COM A MULHER MULATA; C) ADERBAL NA CAMA COM A MULHER MULATA.

ADERBAL
Ainda não entendi aonde você quer chegar com essa história...

EDLEUZA
É simples.

ADERBAL
É? Então me explica.

EDLEUZA
Eu só quero que você me diga sim ou não...

ADERBAL
Sim ou não?

EDLEUZA
É, Aderbal.

ADERBAL
Sim ou não pra quê?

EDLEUZA
(irritada)
Pra pergunta que eu fiz, diacho!

ADERBAL
Que pergunta?

EDLEUZA
Você tá me traindo?

MONTAGE SEQUENCE (IDEM):
A) ADERBAL ABRAÇANDO UMA MULHER MORENA; B) ADERBAL TROCANDO BEIJOS APAIXONADOS A MULHER MORENA; C) ADERBAL NA CAMA COM A MULHER MORENA.

ADERBAL
Ah, essa pergunta...
Aderbal dá um longo e demorado gole na cerveja, recosta-se novamente na poltrona, desviando o olhar para a tv. Pausa longa. Silêncio.

EDLEUZA
Tô esperando...

ADERBAL
(voltando-se para Edleuza, enfastiado)
Esperando o que?

EDLEUZA
Você me responder, ora...

ADERBAL
Responder o que, mulher de Deus?
Close de Aderbal. Close de Edleuza.

EDLEUZA
Você tá me traindo?

MONTAGE SEQUENCE (IDEM):
A) ADERBAL ABRAÇANDO UMA MULHER NISSEI; B) ADERBAL TROCANDO BEIJOS APAIXONADOS COM A MULHER NISSEI; C) ADERBAL NA CAMA COM A MULHER NISSEI.

ADERBAL
Não...

EDLEUZA
(suspirando, após longa pausa)
Então, tá...

MONTAGE SEQUENCE (IDEM):
A) EDLEUZA, ABRAÇANDO UM HOMEM NEGRO; B) EDLEUZA TROCANDO BEIJOS APAIXONADOS COM UM HOMEM MUSCULOSO; C) EDLEUZA NA CAMA COM UM HOMEM LOURO.

Aderbal larga-se novamente na poltrona, voltando a assistir o futebol na tv e a beber despreocupadamente sua cerveja, enquanto Edleuza volta-se, tranqüilamente, ao tricô que antes fazia, com um pequeno – e disfarçado - sorriso estampado na face.

FADE OUT

*** FIM ***

Roteiro#12 - A Recompensa

A RECOMPENSA

PERSONAGENS
ALICE – mulher bela e sensual, uns 30 anos
ARTHUR – ex-marido de Alice, uns 35 anos
MELISSA – noiva de Arthur, não aparece em cena

CENÁRIO
SUÍTE DE ALICE
Duas portas, uma de entrada e uma para o banheiro contíguo. Móveis básicos: uma cama, um armário de roupas e um criado-mudo. Pouca iluminação, para criar um ambiente mais intimista.

OBJETOS CÊNICOS
Há dentro de uma gaveta do criado-mudo uma arma. Há, dentro do armário, alguns vestidos. Alice usa uma toalha enrolada no corpo e outra para enxugar os cabelos. Arthur usa qualquer roupa que o faça parecer um empresário.


CENA 1. INT. SUÍTE DE ALICE. NOITE
ALICE vem do banheiro e se surpreende ao se deparar com ARTHUR, sentado à cama.

ALICE
(rude)
Que faz aqui?

ARTHUR
Você está perfeita. Como sempre.

ALICE
Como você entrou?

ARTHUR
Ainda tenho as chaves. E a fechadura é a mesma.

ALICE
Não tinha por que mudar. Afinal, você foi embora.

ARTHUR
Sinto sua falta, Alice.

ALICE
O que sua noiva pensa disso?

ARTHUR
Melissa acha que estou no trabalho.

ALICE
Duvido. Ela passou por isso. Ela já estava do outro lado.

ARTHUR
Ela se acha a mulher da minha vida. Não entende que é você.

ALICE
O que você dizia quando estava com ela na cama? Que a amava? Que queria fazê-la feliz pra sempre?

ARTHUR
Que eu estava me divertindo. Que eu precisava daquilo.

ALICE
Mentiroso.

ARTHUR
Não minto. E você sabe disso.

ALICE
Você sempre mentiu. Por toda minha vida. Por quinze anos.

ARTHUR
Nunca menti pra você. Só não contava tudo o que fazia.

ALICE
Não contava que tinha passado a tarde com Melissa. Que não agüentava mais minha companhia. (ARTHUR tenta falar, ela muda o tom) Que me abandonaria na primeira oportunidade!

ARTHUR
Eu nunca traí nossos sentimentos. Eu ainda amo você.

ALICE
Não. Não ama. Eu o amei por cada segundo, por cada erro que você cometeu. Perdoei traição, fechei os olhos. Mas você decidiu ir embora. Levou tudo. Dinheiro. Amor. Minha vida.

ARTHUR
O que nos unia era necessidade de domínio, não amor.

ALICE
É a mesma coisa. (t) O que diabos você veio fazer aqui?

ARTHUR
Senti sua falta. Precisava te ver.

ALICE
Vá embora.

ARTHUR
(aproxima-se e toca o ombro dela)
Precisava te tocar.

ALICE
O divórcio está pra sair. Você ficará livre pra casar com sua noiva, e ser feliz com ela.

ARTHUR
Melissa nunca será como você.

ALICE
Sempre tem o momento em que você deve tomar uma decisão. Você escolheu seu caminho. Não há volta, Arthur. Vá embora.

ARTHUR
Não faça isso. Você não pode destruir tudo, assim.

ALICE
Você destruiu tudo! E vai fazer o mesmo com Melissa. Como pode ser tão egoísta?

ARTHUR
Ela está feliz comigo.

ALICE
Até que você encontre outra, e a abandone?

ARTHUR
A culpa foi sua por eu te abandonar.

ALICE
Então, por que voltou? Queria mostrar o quanto estão felizes? Queria fazer eu me sentir arrependida por tudo? Ou será que queria roubar ainda mais dinheiro do que levou quando foi embora? (grita) O que você quer, afinal?

ARTHUR
Queria ver você. Preciso de você.

ALICE
Fique com as lembranças. Estão em cada centavo que você levou. Em cada segundo miserável que você ainda vai viver.

ARTHUR
Terei você de novo. Pode apostar.

PAUSA. ALICE caminha ao criado-mudo e abre a gaveta. ALICE se volta para ARTHUR e desenrola a toalha, expondo a nudez. ALICE se aproxima e beija ARTHUR, que está surpreso.

ALICE
Serei sua. (t) Para sempre.

Um DISPARO. ARTHUR recua, gemendo, e cai de joelhos. CÂMERA revela uma arma nas mãos de ALICE.

ALICE
Por todos esses meses, esperei você voltar. Pra acertarmos as contas. Pra eu lhe dar minha recompensa pelo que fez. (t) Isso foi por tudo que você me roubou.

ALICE ergue a arma e aponta para a cabeça de ARTHUR.

ALICE
E isso será pra nunca esquecer o que é amor.

ALICE dispara. ARTHUR cai no chão, agonizando. ALICE solta a arma e se aproxima do armário, escolhendo um vestido.


FADE OUT.

Roteiro#13 - Alívio Imediato

ALÍVIO IMEDIATO

PERSONAGENS
ALEX – marido, analista de sistemas, folgado
SUELI – mulher, enfermeira, vingativa

CENÁRIO
Uma sala de estar/jantar e cozinha de um apartamento de um casal de classe média. A cozinha é estilo americano, com uma “janela” para a sala de estar/jantar.

Objetos cênicos:
Na estante, livros de computação e de medicina, salpicados de literatura policial e de livros de Paulo Coelho. Na parede, reproduções de quadros famosos – principalmente Van Gogh. A mesa está posta para um jantar à luz de velas.


CENA 1. APARTAMENTO SUELI E ALEX /INT. NOITE
SUELI está fazendo o jantar na cozinha. ALEX chega da rua, olha para a mesa posta com as velas. SUELI fala tudo com muita calma, enquanto cozinha e arruma a mesa.

ALEX
(EM TOM CASUAL “FORÇADO”)
Oi, amor… Ô dia de cão! Imagina que até agora fiquei tirando vírus de computador? O povo da empresa abre qualquer e-mail, depois eu que me vire! Tudo bem no hospital?
(SUELI FAZ “HUM-HUM” E ALEX A BEIJA)
Hum… bobó de camarão… mesa posta pra jantar à luz de velas… Caipirinha de aperitivo…
(BEBE A CAIPIRINHA)
Aposto que você colocou mel de laranjeira na caipirinha! O que é que a gente tá comemorando?

SUELI
Não dá pra imaginar?

ALEX
Hum… Aniversário de noivado não é… Primeiro beijo também não … Primeira vez que a gente tomou banho junto?

SUELI
Num dia comum eu ficaria com muita raiva das suas brincadeirinhas.

ALEX
E hoje… não vai ficar?

SUELI
Não. Sabe por quê? Porque hoje o nosso casamento vai acabar.

ALEX
Ra, rá, rá… Você me mata de rir.

SUELI
É, eu sou uma palhaça, mesmo. Há 7 anos que eu sou uma palhaça. Mas hoje o circo vai pegar fogo.
ALEX
Só porque eu demorei no trabalho, Sueli? Faça-me o favor...

SUELI
Você não demorou no trabalho. Há 3 horas atrás você entrou no Motel Cê Ki Sabe com a Keila. Vocês consumiram duas garrafinhas de uísque, quatro energéticos, duas pomadas aromatizadas sabor canela, e cinco pacotes de castanha de caju. É uma pena que você não está com fome pra comer o bobó. Tá uma delícia.

ALEX
Pois se enganou. Eu estou morto de fome, e vou comer o bobó sim.
(SENTA NA MESA E TOMA UM GOLE DA CAIPIRINHA)
De onde você tirou isso tudo?

SUELI
O funcionário do motel me disse.

ALEX
Inventa outra! Funcionário de motel vende a mãe mas não abre o bico.

SUELI
Pagando bem, qualquer um abre o bico.

ALEX
E você usou que dinheiro? O do apartamento?

SUELI
Não, paguei com o corpo mesmo. Funcionário de motel é igual cachorro de açougue. Vigia sem comer. Quando vê filé, faz a festa.

ALEX
(SERVE O BOBÓ NO PRATO, MEXE COM A COLHER)
VOCÊ FICOU LOUCA, SUELI?! Pois quer saber de uma coisa? Agora quem quer o divórcio sou eu!

SUELI
Eu não falei em divórcio. Eu disse que o nosso casamento ia acabar. Pra ele acabar, basta que um de nós não esteja mais vivo.

ALEX
(PÁRA O GARFO NO AR)
E assim você levava o dinheiro todo do apartamento… Muito esperta.

SUELI
Eu ralei muito pra conseguir esse dinheiro, Alex. E faria qualquer coisa pra ficar com tudo.
(SERVE O BOBÓ E COME UMA GARFADA)

ALEX
(AO VER QUE ELA COMEU, COME TAMBÉM E TOMA UM GOLE DA CAIPIRINHA. COMEÇA A TOSSIR)
Sei. Mas antes ficar com metade que ficar com nada. Vou sentir falta do seu bobó. E da caipirinha também.

SUELI
Não foi mel de laranjeira que eu coloquei na caipirinha.

ALEX
Foi o quê, então?

SUELI
Arsênico.

ALEX começa a estrebuchar, cai no chão e morre.

SUELI
Alívio imediato. Sem vestígios… e sem contra-indicações.

SUELI continua comendo o bobó, tranquilamente.

*** FIM ***

Roteiro#14 - Conjugação do verbo acenar

CONJUGAÇÃO DO VERBO ACENAR

PERSONAGENS
AFRA – loira oxigenada de cabelos encaracolados, muito branca, na faixa dos 25 anos. Prática, esperta, desinibida e meio masculinizada, com um quê de vulgaridade
FRED – marido de AFRA, mauricinho com trejeitos afeminados e biótipo de nerd, na mesma faixa etária da esposa

CENÁRIO
SALA DO CASAL
Porta de entrada e poucos móveis, muito coloridos. Um divã laranja, que serve como sofá, um criado mudo marfim ao lado. Acima do criado mudo, um abajur de madeira. Caixa de papelão de geladeira no canto direito da sala, um pouco afastada dos objetos.

OBJETOS CÊNICOS
AFRA veste uma blusa vermelha –daquelas que dão um nó na barriga– e saia indiana, bem abaixo do umbigo. AFRA, quando contrariada, dá o nó, mas quando se empolga, o desata, de acordo com a intuição da atriz. FRED usa óculos e veste calça e blusa social com cores discretas e manga dobrada no punho. Ele traz um buquê de rosas vermelhas.


CENA 1. INT. SALA DO CASAL. NOITE
FRED abre a porta e entra. AFRA está jogada no divã, com olhos fechados, suga uma lata de leite condensado.

AFRA
Antes de entrar, estranho, diga-me a senha!

FRED volta e bate na porta três vezes. Depois entra na ponta dos pés, com feição de expectativa.

AFRA
Quem sabe esse homem não é um impostor que vai “zoar” com meu corpitcho? E, pior... Depois me descartar???

FRED
Mi casa, su casa???

AFRA se ajeita no sofá, larga a lata de leite condensado no chão, contorce a cintura em movimentos frenéticos e geme.

AFRA
FRED, que saudade! Quando você fala assim, me deixa transtornada! Trouxe o que pedi esta manhã por telefone?

FRED estende as rosas vermelhas, em posição de declamação.

FRED
Benzinho, você me faz suar!

AFRA
Que brega! Trabalhar naquela revista feminina deixou você afeminado! E não vou aturar isso! Trate de arranjar um emprego como mecânico! (T) Casei com o Brad Pitt e levei a... A Xuxa? ... Se ao menos fosse a Ciciolina! (T) Você não trouxe! Ficará sem a surpresinha que está na caixa!

FRED
Isso é surpresinha??? ... Estava brincando! Revire o buquê!

AFRA
Está no meio do buquê??? (solta um muxoxo) Gatinho, você precisa parar de ser porquinho!

AFRA procura, faz expressão angustiada e despedaça o buquê ao jogar as flores longe, até achar o corpete vermelho.

FRED
Falei pra balconista esconder bem!

AFRA
(Dá um gritinho agudo e requebra a cintura a cada palavra) Vermelho! De renda! Ousado!(Começa a mudar a fisionomia para contrariada, estica a peça e a atira longe). Mas não uso! Você comprou de outra marca! Sou uma consumidora fiel!

FRED
Neguinha, como escritora, você não vive trocando de parcerias? Pois é! Viva a infidelidade literária! Viva a traição em geral! Vai fazer essa desfeita?

AFRA
Você quer que eu cometa uma traição! Não é mais o cara que me entreguei no dia em que conheci para acabar com aquela fissura! Os arrepios na pele, os sinais do corpo... Ai, amor, no fim das contas importa mais a atração, a tensão!

FRED
AFRA, isso não vem ao caso! E não compare vestir um corpete vermelho com traição amorosa! Não queria transar com você!

AFRA
Percebi, pela protuberância no meio de suas pernas, que realmente você não queria fazer nada comigo... Foi a brochada do século! Nessas horas, insistir é degradante!
E lembra o que você falou depois que finalmente aconteceu?

FRED
Mas eu não a amava!

AFRA
“Meu Deus, você poderia se sustentar fazendo isso”! Sabia que isso ofende? (T) Mas adorei... Foi nojento!

FRED
Chega, AFRA. Veste esse corpete!

AFRA
Nada como o tempo e o MSN para desmascarar as pessoas! Eu aceno, tu acenas, ele acena, nós acenamos, vós acenais...

FRED
Que comédia é essa? Criar caso por isso estragará a noite!

AFRA
Quanto mais alto o homem, mais bobo ele é! Não é óbvio que conjugo o verbo acenar pra você? Game over! Bye, bye, baby!

FRED
Antes, diz onde esteve nessas duas semanas... Desaparecida! (acusador) Você fez aquela cara de Julia Roberts naquele filme horroroso, quando o marido pergunta se ela o traiu!

AFRA
Sem essa! Ela fez cara de bunda! Eu só fiz “Mmmmmmmmmm”. A resposta está na caixa. Pista: estava dentro de mim!

FRED
Se você trouxe algum filho bastardo, NUNCA irei perdoar! Mas se aí dentro tiver um amante! AFRA! ISSO aí é um homem?

AFRA
Por acaso eu teria de ser virgem pra ser digna de você? Aliás, se você faz uma doação, ficaria arrasado se o beneficiário fosse um estuprador, um serial killer?

FRED acena positivamente com a cabeça.

AFRA
Então, meu bem, você não entendeu nada! A doação é mais importante do que quem irá recebe-la! Sabe, vivemos em um mundo em que as pessoas não têm preparo para encarar a vida como ela se apresenta na realidade. Quando isso ameaça nossa felicidade, devemos mentir! E a pré-disposição das pessoas em se iludir legitima minhas mentiras!(T) (marota) Vamos, abre essa caixa!

FRED rasga a caixa e encontra um monte de palha, vasculha impaciente e acha um dente de ciso. Pega, enojado, e sorri.

FRED
Um dente de ciso! “Adorei”! Você nunca foi tão exótica!

AFRA
Amaria você se fosse roteirista do programa mais assistido do planeta ou faxineiro do porão da Mara Maravilha! Quero que se dane sua posição, seu dinheiro... Até acho que seria tudo mais fácil, não fossem esses predicados! Você é só um homem... Talvez o único que terá meu amor. Mesmo que eu esteja longe, que me case com outro, que suma de vez! (T) Os outros são só sexo! Não importa o mundo, importa você!

FRED
Pra me dar o ciso, por que precisou ficar tanto tempo fora?

AFRA
Para me recuperar! Você não aceitaria ser marido da irmã gêmea do Fofão... Meu amor é incondicional. O seu, nunca! Queria dar algo realmente meu! O outro dente fica comigo!

FRED
(beija o rosto da esposa)
Você só sabe amar assim... Mas gosta de mim mesmo, né?

AFRA
(contrariada)
... Às vezes!

Roteiro#15 - Discussão entre Marido e Mulher

DISCUSSÃO ENTRE
MARIDO E MULHER –
TRAIÇÃO AMOROSA

AMBIENTE: APARTAMENTO CLASSE MÉDIA

PERSONAGENS:
JÚLIO, 33 ANOS, ADVOGADO
MARISA, 31 ANOS, PROFESSORA

CENÁRIO: APARTAMENTO ESPAÇOSO, COM MÓVEIS MODERNOS, DECORAÇÃO DE MUITO BOM GOSTO. OBJETO ALGUM DO AMBIENTE (COMO SOFÁ, PORTA-RETRATOS, CORTINA) TEM GRANDE IMPORTÂNCIA PARA O DIÁLOGO QUE SEGUE.


AMBIENTE POUCO CLARO. A CAMPAINHA TOCA. MARISA LOGO APARECE, CAMINHANDO EM DIREÇÃO À PORTA.

MARISA – Quem será, a essa hora... (abre a porta e logo se espanta) Júlio!

JÚLIO – (bem sério, com um pouco de receio) Oi, Marisa. Como vai?

MARISA – Bem. E você?

JÚLIO –Também. (aproxima-se) Posso entrar?

MEIO CONTRARIADA, MARISA ABRE PASSAGEM PARA ELE. JÚLIO ENTRA, CALADO. ELA FECHA A PORTA SEM FAZER MUITO BARULHO.

JÚLIO – Eu... eu queria conversar com você. Pode ser agora?

MARISA
Acabei de sair do quarto das crianças, tava contando histórias pra elas dormirem, acabaram conseguindo. Estava indo me deitar.

JÚLIO
E elas... como estão?

MARISA
Depois do que passaram... até que estão sim, como eu, muito bem.

JÚLIO
Eu sinto muita falta delas...

MARISA
(com má vontade, quer que ele vá embora)
Pois é, mas, como você já sabe, não vai ser possível matar a saudade delas agora/

JÚLIO (interrompe-a)
Espera, Marisa. Espera. Como eu já disse, estou querendo muito ter uma conversa com você, séria, aberta, como a gente nunca teve.

MARISA (ri levemente, com ironia)
Conversa séria, aberta? Não acha que tá um pouco tarde pra isso? Literalmente e não literalmente?

JÚLIO (insiste)
Isa... eu sei, eu entendo que você continua muito magoada comigo, que eu te feri muito, fui um crápula, não só com você, com os meninos também, mas, mesmo assim... me deixa explicar, me deixa eu me abrir com você, falar de mim... eu preciso.

MARISA
Ouvindo você falar assim... parece uma piada.

JÚLIO
Estou falando sério, não é brincadeira.

MARISA
Eu sei, quero dizer, não duvido, eu acredito nas suas palavras, na sua vontade de se expor, de desabafar comigo... Eu confio na sua sinceridade. O que eu acho curioso é que você só está agindo dessa maneira quando não estamos mais casados...

JÚLIO
Ainda estamos casados...

MARISA
Mas não estamos mais juntos, foi isso o que eu quis dizer, e você entendeu. Dividindo um teto, tendo uma vida a dois... Hoje você quer desabafar, ter uma conversa aberta... mas naquela época, acontecia o contrário. Era eu quem queria trocar idéias com você, ora falar de coisas bobas, sem urgência, ora tratar de assuntos sérios, importantes... o que me faltava, ou melhor, o que nos faltava, era uma coisa simples, mas muito necessária, fundamental: diálogo.

JÚLIO(tenta se defender)
Eu era um homem muito ocupado, Isa, o trabalho nunca me deu folga, você sabe, mil assuntos a resolver num dia só, uma correria sem fim, um stress danado...

MARISA (ironiza)
Só o trabalho? Vai me dizer agora que sempre se ocupou só com o escritório? Mil assuntos a resolver? E como é que arranjava tempo e disposição pra se encontrar com aquela desfrutável que dizia ser minha amiga? Será que você sacrificava os momentos em que poderia estar com seus filhos pra tirar o atraso? Que pena que o seu discurso baixou de nível, você tava indo tão bem... nem as crianças se sentiriam convencidas com essa sua conversa ridícula.

JÚLIO (meio nervoso, ofendido)
Pára com isso, Isa!

MARISA
Fala baixo, as crianças estão na cama!

JÚLIO(defende-se)
Eu nunca tive nada sério com a Marlene, você tem que acreditar... um caso sem importância alguma pra mim, ela nunca significou nada de verdade pra mim! Sempre aparecia no escritório... eu não saía de lá pra nada, nem pra almoçar, e ela sempre lá, se oferecendo, se mostrando disponível... eu reconheço, fui um canalha de não ter resistido às investidas dela, mas em nenhum momento a relação que eu tive com ela trouxe algo de significativo pra minha vida, felicidade, tranqüilidade, nada disso! Uma aventura que não disse mais nada, a não ser que sou um homem cheio de defeitos, de fraquezas...

MARISA
Você teve uma “aventura” que disse muita coisa, Júlio. Tanto pra você quanto pra mim. Sem falta modéstia, foi graças a ela que eu descobri que você nunca me mereceu, que você nunca teve vocação pra fazer parte do casamento com o qual eu sempre sonhei. A sua pulada me fez ter certeza de uma coisa que eu não queria assumir enquanto estávamos juntos: que você se dá bem melhor com mulheres como a Marlene do que comigo e, logo, que não combinamos... que não nascemos um pro outro.

JÚLIO
Todo mundo diz que a gente só dá valor às coisas quando as perde, mas pouca gente dá muita bola pra isso. Eu, por exemplo. Sempre tive uma mulher maravilhosa, uma companheira honesta, digna... filhos inteligentes, bondosos, esforçados... e dei pouco valor, pra não dizer nenhum. Hoje eu sou capaz de enxergar que não fui um bom marido, nem um pai presente...
que eu faltei em momentos que as crianças precisavam de mim.
(aproxima-se dela, que, nesse momento, esquiva-se)
Mas, Isa, eu tô disposto a mudar, a ser o pai de família que nunca fui antes... e, pra provar isso, eu preciso do seu perdão, da sua compreensão. Não me negue a oportunidade de me tornar o marido que você quis que eu fosse.

MARISA
Quis, Júlio, quis. Não quero mais. A decepção que você me fez sofrer me fez tirar da cabeça e do coração o desejo de ver você mudado, transformado, de te ver dando pra mim e pros seus filhos a atenção e o carinho que qualquer pai de família deve dar a ela.

JÚLIO
Eu não consigo acreditar que você não sinta mais nada por mim.

MARISA
(tempo)
Sinto. Sinto pena.

JÚLIO
(choca-se)
Pena?

MARISA (começa a se emocionar)
Pena, mais nada. Porque você é um fraco. Porque você dispensou o amor, que não era pouco,
que eu tinha a lhe dar...

JÚLIO (interrompe-a)
Se não era pouco, é impossível que tenha se acabado!

MARISA (cont.)
Porque você jogou pro vento o lar que um dia a gente disse um pro outro que ia construir. Um lar feliz, alegre, onde todos se amam! Mas isso não pôde acontecer... porque você nunca soube o que quis!

JÚLIO
É verdade, Isa, que eu fui um fraco, que eu nunca decidi ao certo o que queria pra mim, mas isso é passado, ficou pra trás, eu estou diferente... o erro que eu cometi me fez enxergar uma porção de coisas que eu não podia ou não queria enxergar, como, por exemplo... que eu te amo! Que eu te quero, que eu quero os meus filhos por perto, os nossos filhos, que eu desejo um lar pra nós todos, o mesmo que você tanto lutou pra conseguir, mas não teve sucesso porque eu não fiz a minha parte! Esquece tudo o que aconteceu, Isa, me perdoa... que você passe uma borracha no que passou... que você me veja como um homem que acabou de conhecer e que pelo qual começou a se interessar... é tudo o que eu quero.

MARISA
Júlio... chega de se humilhar. Acabou. Não tem mais jeito! Que você esteja arrependido, que você tenha vontade de reatar comigo, de tentar ser uma família de verdade, eu até acredito. Mas essa sinceridade sua não me faz estar certa de que eu não vou passar de novo pelo que já passei uma vez. Ninguém pode me assegurar que você não vá voltar a se interessar por outra mulher. Eu não tenho estômago suficiente pra digerir novamente àquela cena lastimável que eu presenciei naquele dia. Eu tô muito bem como estou, sem você, eu e Deus, ninguém mais. Ainda vai demorar um pouco pra eu sentir falta de alguém dormindo na mesma cama que eu, nem que seja por dias espaçados, duas, três vezes por semana. Pode parecer que eu esteja pensando só em mim, não levando em conta o desejo dos meninos de que você volte... mas eu também tô pensando neles... eles talvez se decepcionariam mais do que eu se você desperdiçasse uma nova chance. Vai embora, Júlio. Faz o favor de não nos procurar mais. Já tá tarde, amanhã é dia de trabalho. Pra mim e pra você.

JÚLIO
(já à porta)
Eu não vou desistir, Marisa, não vou. Tenho certeza de que você ainda me perdoar... a gente vai começar do zero... e ser um casal feliz de verdade.
(abre a porta e fica do lado de fora)
Boa noite.

MARISA
Boa noite.

MARISA FECHA A PORTA E DEIXA ROLAR NO ROSTO ALGUMAS LÁGRIMAS. DEPOIS, SAI DA SALA E VAI PRO QUARTO.

FIM

Roteiro#16 - Um tiro no coração

UM TIRO NO CORAÇÃO


PERSONAGENS:
MARIANA: 30 anos.Esposa do professor Universitário Luiz Alberto.Termina uma relação de dez anos, porque se apaixona por um aluno dele.É assassinada pelo marido.

LUIZ ALBERTO: Professor Universitário.40 anos.Apaixonado pela esposa. Descobre a traição.Mata a esposa.

FLÁVIO: Aluno de Luiz Alberto.O pivô da separação.Não aparece na trama.Mais é citado e fala pelo telefone com MARIANA.

CENÁRIO:
Apartamento de classe média.Típico de um casal sem filhos.
Um quarto onde contém uma cama, guarda-roupa e o banheiro.

SALA:
Sala simples.Sofá, televisão. Jarros de flores, cortinas.
Onde acontecerá o assassinato.



CENA 1: SALVADOR. EXTERNA/ DIA
STOCK-SHOTS DE LINDAS IMAGENS DE SALVADOR. VISÃO DA CIDADE DO ALTO, PASSANDO POR PONTOS TURÍSTICOS. EMBALADO AO SOM DE ‘É DOCE MORRER NO MAR’ DE DORIVAL CAYMMI.ATENÇÃO SONOPLASTIA UNS 40 SEGUNDOS.
CORTA PARA.

CENA 2: APARTAMENTO. EXTERNA/DIA.
UM PRÉDIO DE CLASSE MÉDIA. VISTO POR INTEIRO. IMAGENS CONGELADAS. VAI APROXIMANDO. PARA EM UMA JANELA.
CORTA PARA:

CENA 3: APARTAMENTO. QUARTO DE MARIANA.INTERIOR/DIA.
MARIANA ESPRIGUIÇANDO LEVANTA DE CALCINHA E SUTIÃ.
PARA EM FRENTE A UM ENORME ESPELHO QUE SE ENCONTRA NA PAREDE.
ADMIRA O TEU CORPO. OLHANDO PARA SUA PRÓPRIA IMAGEM.

MARIANA: (PENSANDO) Você não é de se jogar fora. É um mulherão e tanto. Se ele não quer, tem quem queira. E como tem. Foi tão bom o sonho que você teve com o FLÁVIO.Vou dá sinal verde para ele.

OLHA PARA O LADO E VER UM BILHETE EM CIMA DA TELEVISÃO.PEGA E LÊ.

MARIANA:(VOZ ALTA) Me aguarde que hoje volto para o almoço.

AMASSA O BILHETE E JOGA NO CHÃO. VOLTA PARA O ESPELHO.PV DE MARIANA COM SUA PRÓPRIA IMAGEM NO ESPELHO.

MARIANA: Hoje você toma uma decisão na sua vida.Está mais que na hora. Chega de viver de aparência.
CORTA PARA:

CENA 4: PORTA DO EDIFÍCIO. EXTERNA/DIA
PORTA DO EDIFICIO.LUIZ ALBERTO ESTACIONA O CARRO.
SAI.CAMINHA EM DIRAÇÃO AS ESCADAS.SOBE.
CORTA PARA:

CENA 5: CORREDOR DO APARTAMENTO. INTERIOR/DIA.
LUIZ ALBERTO CAMINHA EM DIRAÇÃO AO APARTAMENTO.
CHEGA NA PORTA.ENTRA.
CORTA PARA:

CENA 6: SALA DO APARTAMENTO. INTERIOR/DIA
LUIZ ALBERTO ENTRA.COLOCA A BOLSA NO SOFÁ.
DÁ UNS PASSOS. O TELEFONE TOCA. VOLTA E ATENDE.

LUIZ ALBERTO: Alô...Quem está falando? FLÁVIO. Você quer falar com a MARIANA. Um momento.(COLOCA A MÃO NO FONE E GRITA.) MARIANA...MARIANA.
MARIANA APARECE DO QUARTO.

MARIANA:O que foi? Não sei porque essa gritaria.

LUIZ ALBERTO: Telefone para você.

MARIANA: Quem é?

LUIZ ALBERTO: FLÁVIO.

PV DE LUIZ ALBERTO PARA MARIANA.ROSTO PÁLIDO.ATENDE O TELEFONE.LUIZ ALBERTO SAI EM DIREÇÃO O QUARTO.
CORTA PARA.

CENA 7: SALA DO APARTAMENTO. INTERIOR/DIA.
LUIZ ALBERTO ENTRA NA SALA. PV DE LUIZ ALBERTO PARA MARIANA.TENSA.MARIANA LEVANTA.

LUIZ ALBERTO:O que FLÁVIO queria com você?

MARIANA: FLÁVIO é um rapaz muito carinhoso.

LUIZ ALBERTO: Conheço FLÁVIO.É um excelente aluno.Você na me disse o que ele queria.

MARIANA:Precisamos conversar...

LUIZ ALBERTO: Sobre?!...

MARIANA:Nós dois. Eu estava ensaiando como conversar com você.

LUIZ ALBERTO:Não estou te entendendo.

MARIANA: Você sabe que a nossa relação já está congelada
a muito tempo. Não suportamos olhar um para a cara do outro.

LUIZ ALBERTO: Mais que papo é esse agora?

MARIANA: Não se faça de inocente.Você sabe que vivemos de aparências.
Fingir para a sociedade,que somos um casal perfeito.
Que vive em harmonia.Eu já estou cansada.Definitivamente hoje acordei
com a intenção de dá um basta nisso.Estou cansada.

MARIANA SAI EM DIREÇÃO AO QUARTO.LUIZ ALBERTO A SEGUE.PV DE LUIZ ALBERTO PARA MARIANA ENTRANDO NO QUARTO.
CORTA PARA.

CENA 8: QUARTO DO APARTAMENTO DE MARIANA.INTERIOR/DIA.
MARIANA ENTRA,PARA EM FRENTE AO ESPELHO.LUIZ ALBERTO A SEGUE.

LUIZ ALBERTO:Me diz quem é o canalha, que você anda saindo.
A quanto tempo vocês estão juntos? Hem... Vai dá uma de santa agora?

MARIANA CONTINUA OLHANDO PARA O ESPELHO.

MARIANA:Você não completa mais a minha vida.Estou cansada.

LUIZ ALBERTO APROXIMA,PEGA MARIANA PELOS BRAÇOS.CARA A CARA.

LUIZ ALBERTO: Eu te fiz uma pergunta.Quem é o canalha, que você anda me traindo?

MARIANA: Você quer mesmo saber?

LUIZ ALBERTO:Diz logo de uma vez, sua safada.

MARIANA: É o FLÁVIO. É ele que é o canalçha que estou apaixonada.
Ele simplesmente é maravilhoso, gentil, educado.
Faz amor como ninguém nunca fez. Você é tão bobo.
Se julga tão esperto e nunca percebeu.
Já fiquei com ele na sua cama. Pronto falei.

LUIZ ALBERTO DÁ UMA BOFETADA EM MARIANA. MARIANA CAI.

CENA 9 : SALVADOR. EXTERNA/DIA.
CORTES DESCONTÍNUOS. FAROL DE ITAPOÃ.
PESCADORES JOGANDO REDE,COLOCANDO OS PEIXES
NO CESTO.UMA BAIANA SERVINDO ACARAJÉ PARA TURISTAS.
CORTA PARA:

CENA 10: QUARTO D APARTAMENTO DE MARIANA.EXTERNA/DIA.
*MARIANA LEVANTA, VAI PARA A SALA.
*REVÓLVER NA CABECEIRA DA CAMA.
*LUIZ ALBERTO DÁ UNS PASSOS.PEGA A ARMA E SEGUE MARIANA.
CORTA PARA:

CENA 11: SALA DO APARTAMENTO. EXTERNA/DIA.
MARIANA ENTRA NA SALA, LUIZ ALBERTO ATRÁS.

LUIZ ALBERTO: Sempre desconfiei, que você era safada.
Mais chegar a este ponto. Me trair dentro de minha própria casa.
Ainda por cima com um aluno meu. FLÁVIO é como um filho.
MARIANA: Mais não é. FLÁVIO é um rapaz atraente.
Tem um fogo danado.É jovem, tem energia.
E desde o primeiro dia que eu vi, sentir uma forte atração por ele.

LUIZ ALBERTO: Meu Deus. Onde eu estava que não percebi esta traição? Onde?...Onde?...

MARIANA: Você estava presente. Nas suas ausências eu deitava com ele.
Fazíamos amor, constantemente. Você ia com os amigos para o clube.
Você saia ele entrava. Foi gostoso.

LUIZ ALBERTO: Sua...

MARIANA: Sua o quê? Eu estou cansada de tudo. Dá sua voz, que me causa náuseas.
Do teu cheiro insuportável. De suas manias que me stressa.
De tudo que lembra você, eu estou cansada. Eu vou embora pra sempre.

LUIZ ALBERTO: Não vai. Não vou deixar...

MARIANA PASSA EM FRENTE A LUIZ ALBERTO. ELE SEGURA ELA PELO BRAÇO.

MARIANA: Me solte. Não te pertenço mais. Tudo que existia entre nós acabou.
É hoje, eu vou embora pra sempre de sua vida.

LUIZ ALBERTO: Eu acabo com sua vida.

MARIANA VIRA.DÁ UM SORRISO PARA LUIZ ALBERTO.ELE APONTA A ARMA EM DIREÇÃO A ELA.

MARIANA: Você está louco...

LUIZ ALBERTO: Louco não. É justiça pela traição.

LUIZ ALBERTO DÁ TRÊS DISPARO EM MARIANA. ELA EM CAMÊRA LENTA CAI MORTA NO CHÃO.SANGUE JORRA NA SALA, EM CIMA DO SOFÁ. LUIZ ALBERTO DEIXA À ARMA CAIR AO VER MARIANA NO CHÃO. COLOCA A MÃO NA CABEÇA EM DESESPERO. ÂTONICO NÃO SABE O QUE FAZER. CAMINHA DE UM LADO PARA OUTRO. PARA. LÁGRIMAS ESCORRE DO ROSTO. EM DESESPERO SAI CORRENDO, BATENDO A PORTA NUM BARULHO ESTARRECEDOR. CLOSE EM MARIANA MORTA.


FIM